Justiça do Paraná autorizou MPF destruir planilhas de propinas da Odebrecht 

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Defesa de Lula e Tacla Duran já haviam questionado os tais arquivos, possivelmente manipulados

Imagem: Reprodução

A Justiça Federal no Paraná autorizou um pedido feito pelo Ministério Público Federal (MPF) para apagar arquivos com dados de servidores clandestinos que guardavam informações sobre os pagamentos de propinas feitos pela Odebrecht. 

A informação foi divulgada, nesta quinta-feira (18), pelo jornalista Jamil Chade, que teve acesso a documentos sigilosos, que apontam a destruição. 

“Foram iniciados procedimentos de furos em cada um dos 7 HDs de 8 TB”, diz o documento. O processo foi realizado com uma furadeira de bancada. Uma broca de aço atravessou os equipamentos.

Conforme a reportagem, os arquivos dos sistemas Drousys e Mywebday eram as principais peças de acusações do MPF contra diversos políticos, além de serem usados como base para inúmeros processos. 

Para ocultar o esquema de pagamentos de propina ao redor do mundo, a Odebrecht criou um departamento dedicado a essa função. O servidor do sistema de informática paralelo ficava na Suíça, para evitar o alcance de possíveis operações policiais brasileiras. “Os dados traziam listas de propinas e doações eleitorais irregulares pagas pela empresa a diversos políticos”, afirmou o colunista.

O acesso a esse servidor fez parte do acordo de leniência do Grupo Odebrecht, homologado em 2017. Com isso, foi disponibilizado à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma cópia dos sistemas que armazenavam a contabilidade paralela.

No final de 2017, também foi autorizada a realização de uma cópia dos sistemas pela Polícia Federal (PF), que ficou com a Superintendência da corporação em Curitiba. Em 2018, ainda foi autorizada outra cópia dos sistemas que foi disponibilizada ao MPF.

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Polêmica

Conforme relembrou Chade, os dados citados se tornaram objeto de intenso debate em 2019, já que os procuradores brasileiros obtiveram as informações sigilosas da contabilidade paralela da empreiteira cerca de um ano antes de terem acesso oficial aos dados, por meio dos acordos de delação premiada dos executivos da construtora.

Entre as informações sigilosas obtidas ilegalmente pela Lava Jato, o acesso integral ao sistema Drousys foi o ponto central. Esse acesso foi uma das exigências da Lava Jato para fechar acordos de delação com os 78 executivos da empreiteira, incluindo Emílio e Marcelo Odebrecht.

Ainda no ínicio de 2019, a defesa do atual presidente Lula (PT) foi autorizada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), a produzir um laudo complementar ao parecer técnico da PF que analisou as provas contidas nos extratos do servidor. 

Segundo os advogados de defesa, os peritos da PF afirmaram que os arquivos foram obtidos na Odebrecht, e não diretamente dos servidores localizados na Suíça. No entanto, o perito da PF, Roberto Brunori Júnior, afirmou ao perito contratado pela defesa de Lula que “Odebrecht recebeu [os arquivos] da Autoridade Suíça e ela abriu isso, e mexeu nisso, durante muito tempo isso ficou lá. 

Em 2020, a defesa de Lula entregou à 13ª Vara Federal de Curitiba sua posição, indicando que os arquivos foram manipulados e que a cadeia de custódia dos arquivos da Odebrecht foi violada.

Anteriormente, ainda em 2017, durante seu depoimento à CPMI da JBS, o advogado Rodrigo Tacla Duran também questionou os arquivos e apresentou uma perícia que indicava que os extratos utilizados pelo MP foram obtidos naquele ano. Mas o sistema já tinha sido lacrado pelos suíços em 2016.

Nesta quinta-feira (18), Tacla Duran se manifestou sobre a exclusão dos dados da Odebrecht. “O que a força-tarefa de Curitiba quer esconder?”, questionou em publicação, no Twitter.

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