Para entender a armação da Receita em cima de Gilmar e Toffoli, por Luis Nassif

Segundo informações de dentro da Receita, a inclusão dos nomes de Gilmar Mendes e Dias Toffoli na lista dos 133 investigados pela Receita, não se deveu à manipulação dos critérios de seleção. Foi pior ainda.

Assim como a Lava Jato comprometeu a independência do Ministério Público Federal (MPF), comprometeu igualmente a da Receita Federal. A ponto das interferências de Bolsonaro não provocarem grandes gestos de solidariedade às duas corporações.

Segundo informações de dentro da Receita, a inclusão dos nomes de Gilmar Mendes e Dias Toffoli na lista dos 133 investigados pela Receita, não se deveu à manipulação dos critérios de seleção. Foi pior ainda.

Imaginava-se que haviam sido colocados critérios no algoritmo da Receita, que permitissem incluir Gilmar e Toffoli na lista. Com isso, dariam uma aparência de isenção à seleção.

Depois, se percebeu que esses critérios incluiriam também Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) alinhados à Lava Jato, especialmente Luiz Fux. Tirando os critérios que poderiam alcançar os aliados, nem Gilmar nem Toffoli estavam mais na lista dos 133 fiscalizados.  Decidiu-se, então, incluir os nomes de ambos a fórceps, sem submetê-los a nenhuma espécie de critério.

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As investigações do Ministro Alexandre de Moraes identificaram apenas os funcionários da Receita que divulgaram a informação. Se exigir a explicitação dos critérios de seleção, chegará aos que montaram a arapuca.

Hoje em dia, a Receita está dividida entre o Sindicato, bolsonarista, e os lavajatistas.

O desvio de finalidade da Receita, para investigar Gilmar Mendes e Dias Toffoli, está na Copes 48/2018.

No 2º parágrafo cria-se uma equipe especial, “à qual foi proposto o desafio de sistematizar metodologia de programação distinta daquelas já usualmente utilizadas”.

No 3º, fala-se em “direcionar a prospecção em práticas com possível envolvimento de agentes públicos”, haja vista a conduta que se espera de quem percebe remuneração para servir à sociedade”.

Desde 2016, Deltan Dallagnol falava em investigar os dois Ministros. A Copes 48 chamou a atenção porque a finalidade da Receita é investigar todos os setores. Nunca houve necessidade de nota específica para cada setor.

Nenhum dos Ministros aliados da Lava Jato engrossou a lista dos 133 suspeitos.

Luis Nassif

12 Comentários

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  1. “Se exigir a explicitação dos critérios de seleção, chegará aos que montaram a arapuca”:

    “Ah, esse nome ai foi pedido de…”
    “O outro foi do sugestao de…”

  2. “As investigações do Ministro Alexandre de Moraes identificaram apenas os funcionários da Receita que divulgaram a informação. Se exigir a explicitação dos critérios de seleção, chegará aos que montaram a arapuca.”
    Informação errada. A divulgação desse fato foi feita de forma a responsabilizar os dois auditores. Mas o que eles fizeram não foi divulgar a informação. O que eles fizeram foi deixar o próprio contribuinte diligenciado ver (misturaram as informações do dossiê sigiloso com as informações de um dossiê de atendimento, ao qual o diligenciado tem acesso). Aí veio uma teoria furada que supõe que o próprio contribuinte, ou seu advogado, divulgou para a imprensa. Essa teoria, que prevaleceu apesar de inverossímil, deixa “sem culpados” na receita a divulgação, pois a mistura das informações foi sem intenção. Na verdade a teoria foi criada para proteger os verdadeiros vazadores (lavajatistas) e culpar duas pessoas que não tem nada com isso.

  3. Matéria escrita por alguém que não tem o mínimo conhecimento do processo de seleção dos contribuintes na Receita Federal do Brasil, e que não conhece as forças políticas internas na Receita. Assim como toda a sociedade brasileira, este microcosmos chamado Receita Federal está fragmentado entre bolsonaristas (muitos deles no sindicato), lava-jatistas (ou apenas anti-petistas?), oposicionistas (simpatizantes das esquerdas) e, majoritariamente, aqueles que defendem apenas o próprio benefício, ora pelo corporativismo adesivo ao poder de plantão, ora pela valorização efetiva das funções do órgão e autoridade do cargo. Se não conquistou simpatia, em muito se deve a péssima comunicação institucional da Receita, que, diferente de outros órgãos, não divulga suas atividades com aquela parafernália de viaturas e algemas desnecessárias no mais das vezes, atendo-se ao sigilo de suas atividades. Em decorrência disto, a Receita é muito mais identificada com a “malha fiscal”, que não corresponde nem a 2% dos créditos levantados em fiscalização, do que com o combate ao crime de sonegação (mais de 98% do crédito tributário constituído), e por isto, não desperta simpatias. Sds.

  4. Não tem bobo nesse jogo pesado onde os interesses se entrelaçam a ponto de não sabermos os reais motivos e interesses de cada lado. As armas são de grosso calibre mas sabemos com certeza quem são os perdedores. Só podemos assistir e torcer para que todos morram.

  5. O pessoal é organizado e a tomada do poder foi sacramentada pela Comissão Eleitoral, inclusive atropelando regras estatutárias. Sobrou muito pouco do que pode se chamar sindicato de verdade.

  6. A classe média burocrática (Receita Federal, Ministério Público, Poder Judiciário, etc) exerce a função de “jagunços” dos interesses da elite econômica brasileira. Segundo Jessé Souza, isso é decorrência do sistema escravocrata que vigorou no país por mais de 350 anos, criando, assim, instituições públicas que são reservas de empregos para a classe média.
    Não é de espantar que o Sindicato dos Auditores seja bolsonarista, que outra parcela dos funcionários seja lavajatista, enfim, que a imensa maioria dos funcionários da Receita seja de direita ou de extrema-direita. Reflete a eterna luta de classes, na qual a classe média burocrática atua como se fosse a própria elite contra a classe trabalhadora.

    1. O que explica o Jessé, sobre a influência da escravidão, não se aplica ao caso. Essa corrupção sistemática das instituições, acima de tudo, está associada e é inerente ao sistema Capitalista. Portanto tem mais a ver com Karl Marx que com o Jessé Souza. É, na verdade, o sistema social tóxico que apodrece todas as instituições em todos os países capitalistas.

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