Toffoli chama golpe de 1964 de ‘movimento’ feito por militares

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Dias Toffoli – Fabio Rodrigues Pozzebom/Arquivo/Agência Brasil

Jornal GGN – Em jogada anterior à censura da entrevista de Lula com endosso da decisão de Luiz Fux, o presidente do Superior Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, disse ontem (1º) que prefere usar o termo ‘movimento’ em referência ao golpe militar de 1964. Segundo Toffoli, a terminologia foi aprendida com o ministro da Justiça, Torquato Jardim.

“Depois de aprender com o atual ministro da Justiça, Torquato Jardim, eu não me refiro nem mais a golpe, nem a revolução de 1964. Eu me refiro a movimento de 1964”, afirmou, em palestra na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
 
“Os militares foram um instrumento de intervenção. Se algum erro cometeram foi de, ao invés de serem o [poder] moderador, que, em outros momentos da história, interveio e saiu, eles acabaram optando por ficar, e o desgaste de toda a legitimidade desse período acabou recaindo sobre essa importante instituição nacional que são as Forças Armadas, também responsáveis pela nossa unidade nacional”, acrescentou.

 

Ele ainda comentou sobre os partidos políticos. Segundo ele, há uma falta de estrutura ideológica nos partidos e posicionamento político das legendas. “A ausência de ideologias claras nos partidos é patente. Mesmo partidos que no passado tinham alguma consistência ideológica, hoje se mostram completamente órfãos de qualquer tipo de posicionamento do ponto de vista político, filosófico, institucional”, disse.

Segundo ele, até o momento não viu nenhum programa ou projeto nacional, mesmo a uma semana das eleições. Para ele, isso trará consequências negativas para o Congresso Nacional. “Não existem projetos políticos nacionais. Eles nascem todos a partir dos interesses locais. E isso traz consequências, evidentemente, para o Congresso Nacional”, afirmou.

“Em razão de não haver um projeto político nacional, com uma filosofia, ideologia e projeto de construção de nação, acabam prevalecendo, no Parlamento, as bancadas segmentadas de interesses específicos”, acrescentou.

A fala do ministro não foi bem recebida pelos estudantes do Largo de São Francisco – Direito USP. Em nota, o CA XI de Agosto repudiou o posicionamento do ministro sobre a ditadura militar. Estranharam que seu posicionamento sobre a ditadura se deu em palestra sobre os 30 anos da Constituição Federal de 1988, documento maior do país que está sendo sistematicamente ignorado pelo Poder Judiciário, inclusive pela Corte.

Leia a nota a seguir.

NOTA DE REPÚDIO DO XI DE AGOSTO AO POSICIONAMENTO DE DIAS TOFFOLI SOBRE 1964: DITADURA NUNCA MAIS!
 
Na manhã desta segunda feira (1º) recebemos a ilustre presença do Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Dias Toffoli, em nossa Faculdade (Largo de São Francisco – Direito USP). 
 
Toffoli foi convidado, ironicamente, a conferir uma palestra sobre os 30 anos da Constituição Federal de 1988 – Carta Magna que tem sido sistematicamente ignorada pelo nosso Poder Judiciário no último período, inclusive pela Corte que o ex-aluno desta Casa preside.
 
Para surpresa geral, durante a exposição Toffoli disse não entender como “golpe” o processo havido no Brasil em 1964, que levou os militares ao poder e redundou em mais de 20 anos de regime autoritário. Segundo ele haveria críticas “à esquerda” e “à direita” ao que ele prefere tratar por “movimento”. 
 
Tal posicionamento por parte do Presidente da Suprema Corte é grave, sobretudo considerando o atual contexto.
 
São justamente posicionamentos como este, que menosprezam os graves crimes contra a humanidade e o brutal desrespeito aos direitos humanos ocorridos no país durante o regime militar, que estimulam o recrudescimento do discurso de ódio e autoritarismo, lamentavelmente crescentes em nosso ambiente político.
 
Fato é que o Brasil ainda é marcado por grandes resquícios da ditadura militar e não houve, por parte do Estado brasileiro, prestação de contas de maneira assertiva sobre o que se passou naquele período — à semelhança do ocorrido em outros países do nosso continente –, o que fragiliza a nossa democracia. Destarte, é ainda mais central mantermos viva a nossa memória, para que nunca se repita. 
 
Deste modo, o Centro Acadêmico XI de Agosto, honrando seu histórico em defesa da democracia, repudia veementemente a declaração do Ministro Dias Toffoli e espera sua pronta retratação — reconhecendo o golpe de Estado empreendido pelos militares e as bárbaras infrações aos direitos humanos que o sucederam. 
 
Aproveitamos, também, para repudiar a investida de setores militares com vistas a influenciar o processo eleitoral que se avizinha, com declarações de comandantes de alta patente a respeito de eventual ilegitimidade do pleito. Além da ameaça antecipada por parte candidatos de não reconhecimento do resultado das urnas, atentando outra vez contra a soberania popular.
 
Mais do que nunca é hora de reafirmar os valores democráticos e de respeito ao processo eleitoral e aos direitos consagrados na Constituição da República.
 
#CAXIdeAgosto
#DitaduraNuncaMais
#EleNao
 
Largo São Francisco, 1° de outubro de 2018.
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

13 Comentários

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  1. Golpista
     
    Um golpista que se

    Golpista

     

    Um golpista que se preze nunca, em hipótese alguma, mesmo com todas as evidências e provas históricas, cadaveres e tudo que possa imaginar admite a palavra GOLPE.

    Por isto não me espanta nem um pouco um golpista parafrasear e chamar um GOLPE de MOVIMENTO.

    Apesar de tantos anos o que ainda me espanta foi o PT com Lula e Dilma terem conseguido nomear escolher os piores nomes, biografias e carater para ministros do antigo STF, que agora é mais adequado chamar de STG.

    É COM SUPREMO E TUDO

     

  2. O STf se apequenou

     meu raciocinio me faz pensar que o STF esta pressionado pelos militares, haja vista o episodio do habeas corpus do Lula e estranhamente esta fala do Toffoli, Carmen Lucia se borrava toda

  3. Fake news é apelido…..

    Ja passamos da “fase” fake news…….estamos em plena “desconstrução” da realidade historica……e consecutiva “reconstrução” de realidade paralela………….Brasilmatrix……..do jeito que vai a,DITADURA MILITAR, vai virar um pequeno resfriado ou uma “topada” no dedão do pé, que durou modicos 21 anos……..Vai dormir com esse barulho…..

  4. #

    O Golpe de 1964 foi um “movimento dos militares” e o Golpe de 2016 foi uma patranha do STF, da mídia golpista e dos parlamentares corruptos.

    Toffoli está apenas tentando preservar sua vaga no STF caso os milicos tomem essa porra novamente.

    Quando ele diz que “eles acabaram optando por ficar”, fico me perguntando se haveria eufemismo mais submisso que este para retratar o que ocorreu de 1964 a 1985.

    Para o Toffoli foi apenas uma ditabranda: Vladimir Herzog não foi assassinado e Rubens Paiva deve estar por aí curtindo a vida adoidado.

    O que ocorreu no Araguaia foi apenas uma desinteligência.

     

  5. Tamo fudido. Com esse STF em

    Tamo fudido. Com esse STF em conluio com as Forças armadas cooptadas por Bozo/Mourão, a Globo como porta-voz e a PF de milicia/capitão do mato fica dificil acreditar na pacificação civilizatória conduzida por um candidato tão moderado como o Haddad.

    Como disse o empresário Ricardo Semler: “atenção colegas da elite, não vamos votar com a bílis”. Já era, a bílis tomou conta da “elite” endireinhada, togada e armada. Repito, tamo fudido, Nassif

     

  6. Os Antigos Já Diziam

    Nassif: com razão o ministro. Porque a boca fala do que o coração tá cheio.

    PS.: da forma virulenta como esta o ministro presidente investindo pra cima do MelianteOperárioNordestino, creio que deve estar sendo “incomodado” sobre algum descuido sexual. Serviço de espionagem não dá mole. E essa coisa virou moda…

  7. Pessoal tb tem uma má vontade

    Pessoal tb tem uma má vontade com a ministrada… O Toffoli só tá pedindo a gente pra chamar o golpe de 2016 de movimento do midiciário. 

    Essa Corte tá uma catástrofe.

    Só por curiosidade, que cabelinho é esse? O Fux é que tá penteando o presidente?

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