Da ilusão sobre a eleição de Lula que os livros de História contarão um dia
por Eduardo Ramos
Não fomos eu e você, eleitores de Lula em 2022, que o elegemos, sinto muito lhe tirar essa ilusão.
“Ah, como assim?” – você pode perguntar, e acrescentar: “Houve uma eleição, apertada, é verdade, mas Lula teve mais votos e ganhou, simples assim.”
Uma verdade incompleta, ainda mais quando falamos não de um evento, mas de um PROCESSO POLÍTICO E SOCIAL que redundou nesse evento, – eleição e Lula livre para disputá-la – portanto, jamais o “evento em si” (eleição) pode explicar a vitória de Lula, seu voto e o meu, e o fato de o vermos, hoje, na presidência do país.
Mas do que trata então essa breve reflexão, se “o evento não é considerado o mais importante”, e sim OS FATORES QUE O PRODUZIRAM? A base do artigo é justamente essa: sem a ocorrência dos horrores havidos no governo Bolsonaro e o desespero à flor da pele de alguns segmentos de nossa sociedade, não só não teríamos tido a oportunidade de votar em Lula, na verdade, poderíamos nem ter tido eleição, poderíamos ter tido uma eleição farsesca – de novo, sem Lula… – e, pior, poderíamos mesmo (e muito provavelmente!), estar com Lula preso até hoje e totalmente afundados numa espécie de “INFERNO SEM FIM”, com a quadrilha de Bolsonaro e os militares corruptos que o servem por interesse perverso, dominando totalmente o país, numa das ditaduras mais desumanas, cruéis e selvagens da história da humanidade.
A segunda pergunta que o amigo leitor pode se fazer seria algo do tipo:
“Mas e daí? O que importa esse tipo de especulação se Lula foi solto, venceu, assumiu, derrotou o oito de janeiro e governa o país com uma certa normalidade apesar da oposição tosca e incivilizada?”
E eu responderia o óbvio dos óbvios: importa, importa muito, muitíssimo!
Foi exatamente por não lermos todas as entrelinhas do Brasil “redemocratizado” a partir da década de 80 (entre aspas porque democracia é algo muito mais pleno do que experimentamos até hoje…), que veio o golpe de 2016, veio Temer, veio Lula preso, veio Bolsonaro, veio o conjunto de decisões inacreditáveis desse mesmo STF, que permitiu não só o impeachment esdrúxulo, mas a manutenção de Lula preso para a alegria dos militares, de uma sociedade imbecilizada e tornada fanática na época do auge da Lava Jato, para a alegria de Bolsonaro e sua quadrilha.
Mudaram por acaso esses homens e mulheres que compõem nosso STF? Mudou a mídia, que de modo moderado acatou Lula como um legítimo candidato?
OU TERIAM MUDADO AS CIRCUNSTÂNCIAS, OBRIGANDO PARTE DESSES SEGMENTOS OLIGÁRQUICOS A LIBERTAREM LULA, COMBATER OS GABINETES DE ÓDIO BRASIL A FORA, COMBATER O GOLPE E PERMITIR A ELEIÇÃO QUE NOS DEIXOU VOTAR EM LULA E NOS POUPAR DO INFERNO-HOSPÍCIO QUE VIRIA COM O GOVERNO BOLSONARO 2?
Não nos iludamos! O fato de “Lula ter vencido a eleição porque eu e você nele votamos”, não foi e não é um evento normal, de um país normal, de uma democracia normal, de uma nação civilizada que vive em Estado de Direito. Foi uma CONCESSÃO, UMA PERMISSÃO dos verdadeiros donos do poder.
Tudo isso pode mudar daqui a uns poucos anos, por exemplo, se Lula se candidata e vence em 2026, ou um Flávio Dino, um Haddad, logo virá a cantilena de “projeto de poder eterno da esquerda”, logo virão escândalos e mais escândalos sobre eventos infinitamente menos graves que os de quaisquer outros governos, logo veremos de novo bateção de panelas nas varandas, e sussurros de impeachment, etc. etc…
Lula não é, jamais será apoiado pelos Marinho, pelo STF e seus ministros, pelas oligarquias todas.
LULA ERA APENAS UM “MAL NECESSÁRIO” PARA IMPEDIR O MAL ABSOLUTO: BOLSONARO!
E apenas isso.
Paro por aqui. Centenas e centenas de páginas seriam necessárias para falar sobre os “antídotos” contra essa fragilidade, essa vergonha nossa enquanto nação e sociedade, essa vulnerabilidade permanente em que vivemos, a democracia como “uma concessão deles…” – e não um chão firme sobre o qual pisamos, nós, os brasileiros.
Por hora, é importante refletirmos sobre esse fato: há um “quê de ilusão” no nosso voto como manifestação “soberana” para eleger Lula.
E o desconhecimento do que é ilusório, do que está oculto nas entrelinhas dos fatos e processo sociais, é que têm nos trazido todo o horror, por décadas!
(eduardo ramos)
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.