Jorge Alexandre Neves
Jorge Alexandre Barbosa Neves professor Titular de Sociologia da UFMG, Ph.D. pela Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA. Professor Visitante da Universidade do Texas-Austin, também nos EUA, e da Universidad del Norte, na Colômbia.
[email protected]

Duelo Assimétrico, por Jorge Alexandre Neves

Uma consequência não intencional do governo Bolsonaro tem sido a exposição da fragilidade intelectual dos oficiais das Forças Armadas

Foto: Ed Alves/CB/D.A. Press. Brasil. Brasilia – DF. Politica. Cerimonia Dia do Soldado. Presenca de Jair Bolsonaro com o comandante do Exercito Leal Pujol. Local. Setor Militar Urbano de Brasilia.

Duelo Assimétrico

por Jorge Alexandre Neves

Depois de ter cometido o erro de “chamar o inimigo pra dançar”, ao convidar os militares para participar da comissão de transparência da eleição, o TSE se antecipou ao previsível movimento golpista dos militares – que tentam desesperadamente manter seus lugares à mesa do “banquete dos chantagistas” (1), pretendendo fazer uma “fiscalização paralela” das eleições (https://atarde.com.br/politica/eleicoes/forcas-armadas-preparam-fiscalizacao-paralela-das-eleicoes-1200419) – ao publicar um Edital de Chamamento Público para participação de entidades da sociedade civil como observadoras do processo eleitoral, com a clara intenção de atrair, principalmente, universidades.

Segundo o relato da jornalista Thais Bilenky – no último episódio do podcast Foro de Teresina, da Revista Piauí – três universidades públicas já se inscreveram como observadoras, a saber, a USP, a Unicamp e a UFPE. Esses movimentos irão gerar um inevitável “duelo” técnico entre os militares e os professores e pesquisadores das referidas universidade. Para analisar a comparabilidade na capacitação técnica entre esses dois grupos (os militares e as três universidades inscritas), decidi fazer um breve exercício comparativo.

Jornal GGN produzirá documentário sobre esquemas da ultradireita mundial e ameaça eleitoral. Saiba aqui como apoiar

Duas áreas de conhecimento terão primazia técnica na tarefa de acompanhamento das eleições, a Ciência da Computação e a Estatística. Fiz um levantamento sobre os centros de pesquisa tecnológica das três armas e apenas dois deles – o ITA e o IME – têm programas de pós-graduação (2) em uma das áreas citadas. Além desses dois centros, fiz também um levantamento sobre as três universidades inscritas. Os resultados estão na tabela abaixo.

InstituiçãoCiência da ComputaçãoEstatística
ITATem um curso Mestrado Profissional ainda sem conceito (em processo de avaliação).Não tem.
IMETem um curso de Mestrado Acadêmico com conceito 3 na CAPES.Não tem.
USPTem um Programa de Pós-Graduação com Cursos de Mestrado e Doutorado com conceito 6 na CAPES.Tem um Programa de Pós-Graduação com Cursos de Mestrado e Doutorado com conceito 6 na CAPES.
UnicampTem um Programa de Pós-Graduação com Cursos de Mestrado e Doutorado com conceito 7 na CAPES.Tem um Programa de Pós-Graduação com Cursos de Mestrado e Doutorado com conceito 5 na CAPES.
UFPETem um Programa de Pós-Graduação com Cursos de Mestrado e Doutorado com conceito 7 na CAPES.Tem um Programa de Pós-Graduação com Cursos de Mestrado e Doutorado com conceito 5 na CAPES.

Os dados da tabela mostram que não há comparação possível no nível de capacidade técnica dos centros tecnológicos militares e das três universidades públicas inscritas, no que diz respeito às duas áreas mais importantes para o acompanhamento técnico das eleições. Assim como se deu na preparação do PowerPoint com erros ortográficos utilizado por Bolsonaro para a apresentação de uma narrativa golpista diante de embaixadores (https://revistaforum.com.br/politica/2022/7/19/vexame-golpista-de-bolsonaro-com-embaixadores-foi-obra-dos-militares-do-governo-120391.html), mais uma os militares irão passar vergonha, desta vez com o duelo que estão se dispondo a travar na fiscalização das eleições.

Uma consequência não intencional do Governo Bolsonaro tem sido a exposição da escandalosa fragilidade da formação intelectual dos oficiais das Forças Armadas brasileiras (3). É curioso isso, pois em seu início este governo propôs a militarização das escolas como uma saída para os problemas da educação pública, no Brasil. Hoje, restou muito claro que isso seria um grande desastre!

Jorge Alexandre Barbosa Neves – Ph.D, University of Wisconsin – Madison, 1997.  Pesquisador PQ do CNPq. Pesquisador Visitante University of Texas – Austin. Professor Titular do Departamento de Sociologia – UFMG – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

Leia também:

Ataque ao CrediAmigo, por Jorge Alexandre Neves

Dialogando com um neoliberal, por Jorge Alexandre Neves

Vozes do atraso, por Jorge Alexandre Neves

Por que o Estado precisa investir em cultura, por Jorge Alexandre Neves

Jorge Alexandre Neves

Jorge Alexandre Barbosa Neves professor Titular de Sociologia da UFMG, Ph.D. pela Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA. Professor Visitante da Universidade do Texas-Austin, também nos EUA, e da Universidad del Norte, na Colômbia.

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador