
Museu de grandes novidades
Por Felipe Bueno, do Observatório de Geopolítica
Interpretação de texto e ética são coisas “pessoais e intransferíveis”, dizia um velho e sábio professor: “no limite, cada qual tem as suas”.
Talvez isso ajude a explicar os tempos atuais, ainda que não traga conforto nem paz a quem se incomoda com tanto oportunismo por trás da patrulha que vê um potencial funcionário de Auschwitz em cada pessoa que se posiciona contra o governo assassino que há tempos controla Israel.
Lula é o antissemita da vez, declarado persona non grata pela instituição supracitada, classificação que, em seu íntimo, deve ter feito o político brasileiro dar um discreto soco no ar, como se seu Corinthians marcasse um gol de empate num clássico contra o Palmeiras com o tempo regulamentar esgotado, goleiro expulso e tudo mais – ou menos.
Nem é preciso dizer que o presidente sabe ter recebido, em pensamento, milhares de silenciosos agradecimentos da população que critica a máquina opressora israelense – inclusive muitos judeus esclarecidos.
Caso paremos alguns segundos para refletir, perceberemos que o fato de Lula usar o holocausto como medida de comparação com o que acontece em Gaza e na Cisjordânia atesta que ele tem, sim, a dimensão do que houve sob o Terceiro Reich. Em ambos os casos – ontem e hoje – não há dúvidas sobre quem foram/ são/ serão as vítimas.
Mas tal raciocínio não serve ao governo do extremista de plantão e seus lacaios, que escancaram – não em conversas de alcova, mas em pronunciamentos públicos oficiais – que seu objetivo é a manutenção das conquistas territoriais, de seu lebensraum (alguém se lembra de algo?), às custas do povo palestino.
É inegável: além do séquito bem pago e dos interessados ocultos que todos conhecem, essa visão tem toda uma confederação de apoiadores voluntários.
E desse tipo de terreno, quando fertilizado ad hoc, podem sair lideranças sustentadas por poder econômico, força política e milhões de títulos eleitorais.
Pensando na realidade brasileira, pergunte aos vendedores ambulantes de São Paulo, verdadeiros estudiosos da sociedade, se estão encomendando bandeiras de Israel ou da Palestina para vender no meeting golpista marcado para 25 de fevereiro.
O líder do atual massacre, usando uma expressão da moda, tem lugar de fala quando diz que determinada pessoa “ultrapassou a linha”; isso a História tem nos mostrado. Sua permanência no poder tira legitimidade da discussão sobre genocídio, uma vez que não tem mãos suficientemente limpas para tal.
Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.
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