Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.
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Delors, homem de um mundo que já se foi, por Felipe Bueno

Concebeu o Livro Branco, nos anos 1980, contribuindo para o debate sobre a queda das barreiras econômicas entre os países europeus.

Reprodução X

Delors, homem de um mundo que já se foi

por Felipe Bueno

Adolescente vivendo na Cidade-Luz, ele não aprendeu sobre a guerra em livros ou filmes, mas sim crescendo num Estado soberano já então com um milênio de existência, porém naquele momento ocupado e violentado pela barbárie nazista.

Adulto, formado em Direito e Economia, percorreu os corredores do serviço público em Paris, viveu o socialismo pragmático francês dos anos 1980 e se destacou como um dos articuladores do que seria a União Europeia.

Jacques Delors veio ao mundo na metade dos anos 20 do século passado, tempo em que os europeus, mesmo acostumados com um milênio de conflitos e mortes, ainda estavam chocados pelos horrores da então recém-encerrada I Guerra.

E mal sabiam o que viria adiante, em breve.

Delors testemunhou a recuperação da França e da Europa pós-1945 e a Guerra Fria. Viu nascer e ajudou a derrubar o Muro de Berlim. Ainda estudante, talvez já sonhasse com um continente unido. Usando terno e gravata, foi um dos artífices dessa união, em tempos nos quais havia mais esperança que medo.

Euro, Maastricht, Schengen e outros nomes-conceito que hoje usamos à exaustão nas Relações Internacionais existem em boa parte por causa de seu trabalho, bem como de outros homens e mulheres cuja envergadura política hoje está em falta. Concebeu o Livro Branco, ainda nos anos 1980, contribuindo para direcionar o debate sobre a queda das barreiras econômicas entre os países europeus.

Era um adversário das fronteiras.

Porém viveu para ver a criação de várias novas linhas no mapa europeu, muitas delas desenhadas com o sangue de inocentes civis: a queda da União Soviética, o esfacelamento da Iugoslávia, as instabilidades da zona de influência da Rússia, entre outros conflitos.

Certamente muita coisa para uma vida apenas.

Sua morte, aos 98 anos, nos últimos dias de 2023, foi lamentada por lideranças civilizadas de todo o planeta. Algumas com metade de sua idade e com menos ainda esperança por um mundo melhor.

Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para dicasdepautaggn@gmail.com. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

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