O que a vitória de Javier Milei na Argentina tem a nos ensinar?, por Vitor Hugo Fernandes

Na Argentina, a esquerda está e foi bem “moderada”. Massa, apoiado pelo peronismo, nem é de esquerda, na verdade.

Wikimedia Commons

O que a vitória de Javier Milei na Argentina tem a nos ensinar?

por Vitor Hugo Fernandes

Um maluco que se intitula anarcocapitalista, que diz que vai fechar até o banco central, dolarizar a economia e romper relações com os dois maiores parceiros comerciais da Argentina: China e Brasil, por serem, segundo ele, comunistas, se elege presidente da Argentina! Aí nos perguntamos: por que os argentinos fizeram uma loucura dessas?

A Argentina vive pelo menos duas décadas de crises, que piorou nos últimos oito anos, tanto governos de direita e de esquerda não resolveram o problema e o povo quis tentar uma solução radical.

Trump é o mais forte candidato à presidência dos EUA. No Brasil, Lula venceu Bolsonaro por um triz. O bolsonarismo segue firme e forte e, se os problemas reais das pessoas não foram resolvidos, o bolsonarismo (com ou sem Bolsonaro) volta com mais força ainda.

O PL de Bolsonaro é o maior partido do Brasil em vários quesitos e eles são muito fortes nas redes sociais.

Na Europa partidos de extrema-direita, já são a terceira força política em vários países e já estiveram perto de vencer as eleições em vários. Mas o que está acontecendo com o mundo ocidental?

O capitalismo está em crise. Não consegue mais melhorar a vida das pessoas e não precisa mais. Não tem mais o fantasma do comunismo, já que a URSS acabou há 32 anos. A esquerda abandonou o socialismo e cada vez mais se aproxima da direita. Cada vez mais a esquerda é neoliberal, cada ano que passa, a esquerda abandona mais uma bandeira histórica. A esquerda é capitalista! A esquerda está cada vez mais se diferenciando da direita em quesitos secundários para a vida real das pessoas. O foco da esquerda é o feminismo, a luta LGBT, racismo, gordofobia, etc. Veja o que a maioria dos esquerdistas falam na internet. Veja o que gera discussões de fato, na esquerda. A esquerda abandonou Karl Marx e a luta de classes e deseja apenas criar uma medida aqui e outra ali, para minimizar os males do capitalismo. Mas como os verdadeiros donos do poder, os capitalistas, não precisam fazer muitas concessões à esquerda, já que não existe o risco nem do socialismo, nem de uma revolução social, nenhuma concessão importante é feita e nada de estrutural muda, mesmo com governos de esquerda.

Vejamos o governo Lula, que está privatizando presídios com financiamento do BNDES. Privatizar não era coisa da direita? Não éramos contra isso? E a reforma tributária para tributar os ricos que a cada dia que passa, parece mais desidratada? E a reforma agrária que nunca acontece mesmo em governo de esquerda?

Aí, a esquerda domesticada dirá: “Ah, mas com um congresso desses, como você queria essas mudanças?” Essa é a grande questão: a esquerda virou defensora da ordem, da institucionalidade burguesa, do capitalismo e seu Estado. A esquerda abandonou as ruas, abandonou o conflito, o confronto. A esquerda é da ordem! E a direita? A direita está absorvendo o descontentamento da população (e tem razão em ter) com o seu discurso antissistema, com promessas de mudanças efetivas, de revolução social, etc. Nós viramos defensores do STF, da ordem vigente, e eles, os revolucionários. Somos “moderados” e eles, radicais. Lembrando que “moderado” é como a mídia burguesa chama um governo de esquerda que age como a direita naquilo que interessa: a economia.

Mas a esquerda virou defensora do capitalismo e acha lindo uma empresa “empoderada” que coloca um gay ou uma mulher negra na propaganda, achando que isso é revolucionário.

Na Argentina, a esquerda está e foi bem “moderada”. Massa, apoiado pelo peronismo, nem é de esquerda, na verdade. No Brasil Lula é a moderação em pessoa.

Ou a esquerda volta a falar em socialismo, tributação fortemente progressiva, reforma agrária e urbana, estatização, revogação da reforma trabalhista, enfrenta as elites desse país e atende assim, aos anseios populares ou o descontentamento, fará um novo Bolsonaro voltar aqui e acreditem: será pior que o anterior! 

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Em 523 anos vivemos sob o sistema capitalista, somente os aborigenes desta terra viveram (e vivem em seus recantos nativos) sistemas socialistas e
    comunistas.
    Não é, portanto, com facilidade que iríamos alterar o sistema vigente, nem com mansidão nem com revolução!
    De qualquer maneira, o povo propriamente dito, a população que não é rica, não está ideologizada nem interessada em ideologia, “esse negócio de democracia, monarquia, ditadura, fascismo, socialismo, esquerda, direita tanto faz, eu quero é viver bem”, diz o ‘populacho’!
    Portanto, a missão da esquerda, seja socialista ou de vertentes mais radicais, tem que adaptar-se às circunstâncias e ao meio. Não adianta inventar soluções milagrosas. Ou vai uma “esquerda meia-boca” ou não vai nenhuma!
    Qual é a ideologia de Lula? Qual a ideologia de Julio Lancelotti? Qual era a ideologia de Dom Hélder Câmara?
    O que não se pode é abandonar o povo!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador