O presidente eleito na Argentina, Javier Milei, que tomará posse no próximo dia 10 de dezembro, recuou da ideia de romper relações comerciais com o Brasil e a China, tal como havia prometido em sua campanha ao afirmar que não conversaria com “comunistas”, referindo-se aos chineses e mais especificamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Diana Mondino, futura ministra dos Negócios Estrangeiros da Argentina, declarou, durante entrevista concedida nesta quarta-feira (22) ao programa ‘Só mais uma volta’, do canal de televisão Todo Noticias, que “não precisamos mudar as relações que tivemos ao longo dos anos”, declarou Mondino.
O governo Lula aguarda com cautela para saber se tudo o que Milei disse foi um discurso de campanha ou se ele realmente o colocará em prática. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou que “é hora de esperar pelos acontecimentos”.
Segundo a imprensa, nas últimas semanas, a equipe de campanha de Milei enviou mensagens ao governo Lula por meio de sua embaixada para acalmar os ânimos e demonstrar que a relação com o Brasil é importante.
Ainda não se sabe se Lula participará da posse de Milei, mas há a confirmação do governo de que o Estado brasileiro estará representado na cerimônia.
Quem não escondeu o entusiasmo foi o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Para ele, inelegível pelos próximos oito anos, “a esperança volta a brilhar na América do Sul” e manifestou o desejo de que “esses bons ventos cheguem aos Estados Unidos e ao Brasil, para que a honestidade, o progresso e a liberdade voltem para todos”.
Recuo de Milei antes da posse
Para a futura ministra Diana Mondino, fez parte de uma campanha “suja” contra Milei dizer que “íamos romper relações com o Brasil e a China. Não tem a menor lógica”, acrescentou. No entanto, foram inúmeras declarações de Milei nesse sentido. A própria diplomacia chinesa se manifestou dizendo que seria um “grave erro” a Casa Rosada romper com Pequim.
Da parte de Lula, o presidente brasileiro desejou “boa sorte” ao novo governo da Argentina, sem mencionar Milei, cujas posições opostas e ataques à esquerda abrem uma questão sobre as futuras relações entre ambos países. Se depender do Itamaraty sob o atual governo, nada deverá mudar.
Lula afirmou que “a democracia é a voz do povo” e “deve ser sempre respeitada”. Depois de parabenizar as instituições e os argentinos pela condução das eleições, disse que o Brasil “estará sempre disposto a trabalhar com seus irmãos argentinos”.
Embora Lula não tenha telefonado para Milei para parabenizá-lo, a posição do governo é manter um canal aberto com a Argentina, terceiro parceiro comercial do Brasil.
Pedido de desculpas
O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, afirmou nesta segunda-feira (20) que Lula só falará com Milei quando ele pedir desculpas. “Ele ofendeu gratuitamente o presidente Lula. Seria um gesto do presidente eleito ligar para pedir desculpas”, afirmou.
O ultraliberal acusou Lula de ser “comunista e corrupto” e de financiar a campanha do adversário. Tanto o PT quanto membros do Executivo apoiaram o candidato Sergio Massa, da coligação União Pela Pátria e aliado de Alberto Fernández, nos bastidores da campanha.
Mas publicamente, o Poder Executivo brasileiro manteve-se discreto para não derrubar pontes.
Mercosul
A relação bilateral é um dos principais assuntos que preocupam o Executivo brasileiro, já que o líder do A Liberdade Avança afirmou que romperia relações com o Brasil e a China.
Em referência ao Mercosul – que reúne Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai – Lula defende sua importância para o crescimento das economias do continente, e quer que o acordo com a União Europeia seja fechado no início de dezembro, quando termina sua presidência do bloco.
Mas a opinião de Milei é diferente. Nas primárias de agosto, o agora presidente eleito comentou que o Mercosul deveria “ser eliminado” e descreveu-o como “uma união aduaneira de baixa qualidade que leva ao desvio comercial e prejudica cada um dos seus membros”.
O chefe da Assessoria Especial da Presidência do Brasil, Celso Amorim, destacou nesta segunda-feira (20) que “salvar o Mercosul” é uma prioridade do governo Lula.
“Temos que respeitar o resultado das eleições, por um lado, manter as relações entre os dois Estados e, se possível, salvar o Mercosul. A relação entre Brasil e Argentina é a base do Mercosul e se reflete em toda a América do Sul”, acrescentou.
BRICS
Outra questão que gera grande incerteza é a prevista incorporação da Argentina ao grupo BRICS, que integra Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, no dia 1º de janeiro. Para Lula, é fundamental que seus membros compartilhem posição semelhante e uma possível entrada da extrema direita argentina enfraqueceria o bloco.
Milei já comentou que não quer fazer parte do Brics. “Nosso alinhamento geopolítico é entre os EUA e Israel. Não vamos nos alinhar com os comunistas”, afirmou Milei.
“Não vou fazer negócios com nenhum comunista. Sou um defensor da liberdade, da paz e da democracia”, ele afirmou.
Relação de Estado
Em entrevista ao jornal O Globo, Amorim reiterou que o Brasil optará por uma “relação de Estado” e descartou as ligações de Milei com a família Bolsonaro.
“É possível ter um bom relacionamento, mesmo com presidentes de ideologias muito diferentes. Tudo depende da capacidade de colocar os interesses do Estado acima das preferências pessoais”, disse ele.
Da mesma forma, não confirmou a presença de Lula na posse do presidente eleito da Argentina, mas esclareceu que “o Estado brasileiro estará representado”.
Com informações do O Globo, Pagina 12, Clarín, Todo Noticias e RT
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