Milei é um Paulo Guedes histriônico, não um Bolsonaro, por Luís Nassif

Seu objetivo são os grandes negócios com estatais argentinas e, especialmente, com a exploração das recém descobertas jazidas de óleo e gás.

Image Courtesy: Wikimedia Commons

Vamos a algumas explicações sobre a Argentina e o fenômeno Milei, a partir das informações preciosas trazidas pelo cientista político Bruno Lima Rocha.

O primeiro ponto é que o Javier Milei maluco da campanha é um personagem criado. A pessoa física por trás dele graduou-se em Economia pela Universidade de Belgrano em 1993. Após a faculdade, trabalhou como pesquisador no Instituto Argentino de Mercado de Capitales (IAMC) e como professor universitário. Em 2005, obteve um doutorado em Economia pela Universidade de Belgrano.

Em 2009, Milei fundou a empresa de investimentos Milei Capital. A empresa foi bem-sucedida e Milei acumulou uma fortuna pessoal estimada em US$ 100 milhões.

Trabalhou durante anos, também, como executivo de um dos maiores grupos empresariais argentinos, que controla um dos três canais nacionais de televisão, Eduardo Eurnerkian, concessionário dos principais aeroportos da Argentina e do Brasil!

Ou seja, é um Paulo Guedes mais histriônico, e não um Jair Bolsonaro mais esperto. Como tal, seu objetivo são os grandes negócios com estatais argentinas e, especialmente, com a exploração das recém descobertas jazidas de óleo e gás.

O caminho que poderá trilhar para a dolarização passa por uma hiperinflação. Sua ideia é que a paridade peso x dólar seja de 10.000. Hoje, o dólar vale 355 pesos. Portanto, apenas uma hiperinflação faria o peso chegar à paridade pretendida.

Mas como garantir dólares suficientes para uma economia complexa como a Argentina? O único caminho seria a securitização dos ativos argentinos, incluindo as reservas de gás e petróleo. E ainda está pendente a dívida argentina com o FMI, de US$ 44 bilhões, contratada ainda no governo Macri.

O modelo significará a destruição final da indústria argentina – que, hoje em dia, representa 23,6% do PIB, bem mais do que a do Brasil, destruída por 20 anos de políticas fiscais e monetárias irresponsáveis.

Segundo o próprio Milei, serão 6 meses iniciais de inferno, antes de se atingir o céu. Nesse intervalo, estão sendo estimuladas brigadas de jovens do interior para investir contra os críticos e contra o sistema.

O que pode conter essa loucura é a falta de maioria no Congresso e nas províncias. Apesar da derrota ampla de Sérgio Massa, o peronismo ainda domina a maioria absoluta das províncias. No entanto, uma das propostas de Milei é acabar com um fundo de compensação, que permite direcionar recursos das províncias mais ricas para as mais pobres. Esse movimento poderá tornar governadores reféns do governo.

Enfim, há um roteiro de terror pela frente, com final ainda imprevisível.

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Luis Nassif

8 Comentários

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  1. O esquizofrênico histriônico Javier Milei vai amarrar a canoa furada argentina no Titanic norte-americano. Mas quando ambos afundarem a Folha de São Paulo provavelmente inventará uma maneira alternativa de culpar Lula e o PT.

  2. Boa Nassif. Comparar o Milei com Bolsonaro sempre achei de uma análise muito simplista (e preguiçosa). Vejo Milei como um Boris Johnson (ex primeiro ministro britânico), Zelensky (Ucrânia), Trump. Todos estavam fora do sistema político tradicional e apostaram suas fichas no discurso anti sistema, blablabla etc e tal. Bolsonaro não. Ex militar, partiu pra vida politica, onde ficou mais de 30 anos na Legislativo. A eleição dele em 2018 foi uma soma de diversos fatores, análises simplistas são insuficientes para explicar isso. Ainda mais em uma sociedade muito complexa como a brasileira. O papel de outsider brasileiro vejo que foi preenchido por outro, João Dória Jr, ao se eleger prefeito de São Paulo no primeiro turno da eleição de 2016. Sua eleição em 2018 para o governo do estado de São Paulo foi muito apertada, o que para mim mostra que seu estilo já estava desgastando. Na minha visão, Dória foi muito esperto ao abandonar a vida politica (pelo menos por enquanto), ao perceber isso.

  3. Seria talvez uma variante da ‘Síndrome de Estocolmo’ onde o agredido passa a ter não, simpatia e até mesmo amor ou amizade, mas fixação e até mesmo fissura ou fixação à agenda estabelecida e ditada pelo agressor a seu favor?

    Será o Benedito que, não basta a inacreditável tara em manter o Mandrião e seus bolsonazis amestrados na ordem do dia, a qualquer custo e ridícula provocação que surja aos borbotões, ao invés de a nossa ordem do dia ser, pela lógica e razão política, o governo que está a botar de pé o país desgovernado justamente por esse Mandrião inexplicavelmente adiado em ser condenado e trancafiado pela pororoca interminável de crimes praticados, termos agora na agenda da ordem do dia, não mais apenas o ‘Mandrião brazuca’, mas também esse novo recém chegado das entranhas do universo paralelo hermano, o ‘Mamute portenho’.

    Tenham a santa paciência, imprensa alternativa, progressista ou o diabo ou gato que seja, desde que passe a caçar os ratos, ao invés de ficarem a engorda-los com o queijo da ‘inocência’ inútil jorrada desse absurdo tratado da cegueira absoluta metódica e repetidamente praticada, em moto contínuo.

    Acordem para o matusalêmico: “Falem bem ou falem mal, mas falem de mim”. Ainda é tempo…

  4. “Segundo o próprio Milei, serão 6 meses iniciais de inferno, antes de se atingir o céu”. Inferno para quem, e céu para quantos”?
    Não precisa ter doutorado em economia para saber quem vai se ferrar nessa.

  5. Nassif, os EUA, prometeram fazer da Argentina, uma espécie de Coréia do Sul, não sei te falar sobre quais condições e nem velocidade disso, só sei que foi essa a promessa, vamos aguardar, estagnar o Merco Sul e o BRICS+ é a intenção, o Brasil, deveria já, se não está pensando em defesa de alto nível, os EUA vai transformar a AL em um caldeirão de desavenças, se possível de guerras, assim fazem os animais acuados, assim sempre agiram e sempre irão agir.

  6. Sempre achei aquela canção de Astor Piazzolla a melhor música argentina que já ouvi, na voz de Amelita Baltar. Uma letra tipo surrealista que exaltava um louco em Buenos Aires. Di Stefano, Maradona e ainda Messi. Peron, Evita e Guevara. Borges, Casares e Cortázar. Sem falar do cinema argentino onde até os filmes ruins são excelentes como esse sobre as profecias do Nostradamus argentino Parravicini (https://www.youtube.com/watch?v=GLjA4EmtWsc). Enfim, meu palpite é que Milei saltará do prédio após “a correr por las cornisas con una golondrina en el motor….” https://www.youtube.com/watch?v=XLVJxxq0ncU

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