Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.
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Bananas, por Felipe Bueno

Investigações indicam que o ato criminoso não seguiu adiante por falta de apoio dentro das Forças Armadas.

Bananas

por Felipe Bueno

Levará um bom tempo para que saibamos – caso esse dia chegue! – o que realmente esteve para acontecer, qual foi o processo desde o início e quais foram todos os envolvidos na tentativa de golpe planejada para ocorrer aqui no Brasil em dezembro de 2022. Muitas páginas mais serão escritas e virão à tona novas descobertas.

Investigações indicam que o ato criminoso não seguiu adiante por falta de apoio dentro das Forças Armadas. Devemos aí talvez celebrar um embrião de boa notícia: seja por respeito ao Estado de Direito, seja por receio de repetir um vexame como o do Riocentro em 1981.

O roteiro ideal supostamente previa ainda que o Messias – substantivo e adjetivo, no caso – se ausentasse do país e esperasse em águas mais calmas o momento de voltar, tal qual um aiatolá coberto de glória nos braços de seu séquito.

Não funcionou.

“Fomos covardes”, lê-se em uma troca de mensagens entre dois golpistas de escalão menor.

Ainda veremos e ouviremos muita coisa.

Porém, mesmo que a magnitude espante a cada dose diária de notícias, não devemos nos considerar desavisados.

O conteúdo das gravações reveladas pela Polícia Federal, em essência, não difere do rústico pensamento de um considerável contingente reacionário e ressentido da população brasileira. Quando fica só na própria bolha, apenas entope com lixo grupos de mensagens e reuniões familiares. Mas pode passar da potência ao ato quando assimilado por meia dúzia de irresponsáveis, pagos pelo Estado, que usam fardas e têm acesso a armamento pesado e voz de comando sobre estratos inferiores que, desde o primeiro dia são obrigados a seguir uma doutrina de obediência cega e inquestionável.

As duas décadas de escuridão cujo início, não nos esqueçamos, completou cinquenta anos em 2024, mostram uma sociedade ainda hoje incapaz de acertar contas com seu passado e deixá-lo para trás: a memória das vítimas e seus familiares convive com a nostalgia alucinógena e alucinada de quem admira os feitos de uma instituição que ainda vive das glórias da Guerra do Paraguai.

Se as nossas lições não são suficientes, ou já foram normalizadas de forma irreversível, aos brasileiros que gostam tanto de odiar a Argentina, por exemplo, deveria ocorrer aprender com o país vizinho quais são os resultados da violência que vem da caserna. Há também o Chile. Uruguai. Bolívia. Casos não faltam de tronos manchados de sangue desde que o primeiro bando de fardados chegou à América Latina atravessando o Atlântico.

A oportunidade de testemunhar a História sendo escrita dia após dia tem dois lados: um, terrível, é o de imaginar o que de pior poderia ter acontecido; outro, totalmente oposto, é o que permite afastar do papel, de uma vez por todas, a mão que daria a  ‘canetada”.

Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.

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1 Comentário

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  1. Não Felipe, foi o secretário de estado dos EUA que disse não.

    Aí, parte do pessoal recuou, mas, como se viu, nada fez para deter os demais, salvo uns “ai, ai, ai, olhem lá, comportem-se”…

    Ninguém foi preso, nada.

    O comandante do exército recebeu um aceno golpista, e deixou o interlocutor livre?

    Como assim…?

    E aqueles acampamentos?

    Claro, se os cretinos conseguissem, os que hoje posam de legalistas, iam atrás do bloco do golpe…

    Se falhassem os aloprados, poderiam posar de “moderados” e heróis, com o compadrio da mídia, e o cagaço do governo, como tem acontecido…

    Essa conversa de que parte das FFAA resistiram ao golpe é uma idiotice sem par…me desculpe a franqueza…

    Aliás, para ser sincero, golpe se deu em 2016.

    Esse aí seria um golpe dentro do golpe…

    Um AI-6…

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