Carta em defesa da democracia chega a 500 mil assinaturas

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Documento conta os recentes ataques ao sistema eleitoral tem o apoio de banqueiros, juristas e políticos

Foto: Antonioni Cassara/Mídia Ninja

A “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!”, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), contra as investidas bolsonaristas às vésperas das eleições, já tem mais de 500 mil assinaturas. Assine aqui.

O manifesto, assinado por juristas, banqueiros, políticos, artistas e entidades da sociedade civil em defesa da democracia, será lido em um ato no Largo de São Francisco, em São Paulo, no dia 11 de agosto. 

O escrito é uma reedição da “Carta aos Brasileiros”, lida em agosto de 1977, em pleno regime militar, pelo professor de direito Goffredo da Silva Telles Junior no mesmo Largo de São Francisco, para denunciar o autoritarismo do regime.

Visivelmente incomodado com o manifesto, Bolsonaro já fez ataques ao movimento e se referiu ao texto como “cartinha”.

O Jornal GGN produzirá um documentário sobre o avanço da ultradireita mundial e a ameaça ao processo eleitoral. Saiba aqui como apoiarColabore!

Leia na íntegra o documento:

Carta aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito

“Em agosto de 1977, em meio às comemorações do sesquicentenário de fundação dos cursos jurídicos no país, o professor Goffredo da Silva Telles Junior, mestre de todos nós, no território livre do Largo de São Francisco, leu a Carta aos Brasileiros, na qual denunciava a ilegitimidade do então governo militar e o estado de exceção em que vivíamos. Conclamava também o restabelecimento do estado de direito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

A semente plantada rendeu frutos. O Brasil superou a ditadura militar. A Assembleia Nacional Constituinte resgatou a legitimidade de nossas instituições, restabelecendo o Estado Democrático de Direito com a prevalência do respeito aos direitos fundamentais.

Temos os poderes da República, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, todos independentes, autônomos e com o compromisso de respeitar e zelar pela observância do pacto maior, a Constituição Federal.

Sob o manto da Constituição Federal de 1988, prestes a completar seu 34º aniversário, passamos por eleições livres e periódicas, nas quais o debate político sobre os projetos para o país sempre foi democrático, cabendo a decisão final à soberania popular.

A lição de Goffredo está estampada em nossa Constituição: “ Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral.

Nossa democracia cresceu e amadureceu, mas muito ainda há de ser feito. Vivemos em um país de profundas desigualdades sociais, com carências em serviços públicos essenciais, como saúde, educação, habitação e segurança pública. Temos muito a caminhar no desenvolvimento das nossas

potencialidades econômicas de forma sustentável. O Estado apresenta-se ineficiente diante dos seus inúmeros desafios. Pleitos por maior respeito e igualdade de condições em matéria de raça, gênero e orientação sexual ainda estão longe de ser atendidos com a devida plenitude.

Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da campanha eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos estaduais e federais. Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a disputa entre os vários projetos políticos visando convencer o eleitorado da melhor proposta para os rumos do país nos próximos anos.

Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições.

Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o Estado Democrático de Direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional.

Assistimos recentemente a desvarios autoritários que puseram em risco a secular democracia norte-americana. Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão.

Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática.

Imbuídos do espírito cívico que lastreou a Carta aos Brasileiros de 1977 e reunidos no mesmo território livre do Largo de São Francisco, independentemente da preferência eleitoral ou partidária de cada um, clamamos as brasileiras e brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições.

No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições.

Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona: Estado Democrático de Direito Sempre!!!!”

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Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

1 Comentário

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  1. Hoje de manhã fui visitar um advogado idoso que está se recuperando de uma pneumonia. Conversamos muito sobre política. E falamos mal dos juízes, é claro. Mesmo doente e abatido, o dotô Wellington Porto ficou animado a tomar conhecimento da reação organizada contra os arroubos golpistas do capitão genocida, vagabundo e ladrão. Com minha ajuda ele assinou a Carta em favor da democracia. Quando era jovem, ele foi jornalista e participou do ato ecumênico por ocasião da morte de Vladimir Herzog. Agora, ele quer ir à Faculdade de Direito da USP no dia 11 de agosto para participar do ato em defesa do sistema democrático. Ele não gosta do Lula, mas pretende votar contra Bolsonaro na próxima eleição. Apesar de frágil e doente, ele não perdeu a garra. Um exemplo para todos nós.

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