Bolsonaro chegou ao 2º turno com queda histórica de brancos e nulos. Agora, a meta é reduzir abstenções

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Em ato com evangélicos, Bolsonaro ataca "omissão" dos cristãos na guerra santa contra Lula: "Quem se omite, paga caro"

Quando o placar do primeiro turno da eleição presidencial de 2022 consolidou-se na noite de domingo, 2 de outubro, o Brasil, mais polarizado do que nunca, uniu-se apenas na sensação de surpresa com a votação expressiva de Jair Bolsonaro (PL) acima de todas as estimativas feitas pelos institutos de pesquisas mais renomados que temos.

Lula (PT) venceu a primeira rodada com 48,4% de votos válidos (dentro da margem de erro das pesquisas), abrindo vantagem de 6 milhões de votos sobre Bolsonaro, que ficou com 43,2% (resultado imprevisto). Setores da imprensa, do governo Bolsonaro e da classe política apressaram-se em questionar a credibilidade das pesquisas eleitorais. Baixada a poeira, começa-se a compreender melhor o que pode ter acontecido no primeiro turno.

Tudo indica, segundo analistas ouvidos pelo GGN nos últimos dias, que Bolsonaro foi turbinado por dois fenômenos: de um lado, abocanhou uma fatia do eleitorado de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) que decidiu migrar já no primeiro turno. De outro lado, capitalizou o que os tribunais regionais eleitorais de São Paulo e Rio de Janeiro chamaram de “comparecimento em massa” às urnas no domingo, quando filas imensas foram registradas em várias zonas eleitorais.

Eleitores enfrentam filas para votação de 1º turno em seção eleitoral na AABB da Tijuca, zona norte da cidade. Foto: Agência Brasil

Esse comparecimento em massa resultou na queda dos votos brancos e nulos à menor taxa da história. Voltamos ao mesmo patamar de 1994. Em relação à eleição de 2018, o índice caiu pela metade. Segundo cálculos de Mauro Paulino, ex-diretor do Datafolha, não fosse esse fenômeno inusitado, Lula teria vencido a eleição no primeiro turno de 2022 com 50,7% dos votos. “Arredondando, 51%.”

Como os eleitores foram convencidos a tomar partido em vez de apertar os botões branco e nulo? Há várias hipóteses explicativas. As pesquisas indicando que Lula teria chances de liquidar a fatura de imediato. Nesta esteira, o movimento “voto útil” patrocinado por artista e intelectuais pró-Lula, que acabou tendo um efeito rebote. E, como informado pelo GGN aqui, uma guerra santa para aumentar a rejeição a Lula, travada no submundo das redes sociais às vésperas da eleição, associando o petista a satanás e convocando os cristãos a “saírem de cima do muro”. Uma jogada no campo do terrorismo eleitoral que a coligação de Lula denunciou ao TSE nesta terça (4).

Lula atingiu sua maior votação em eleições presidenciais. Ficou a menos de 2 pontos de levar no primeiro turno. Para vencer, precisa manter os votos que teve e ganhar apoiadores de Ciro e Tebet. O desafio de Bolsonaro é muito maior. Nunca antes um presidente da República terminou a eleição em segundo lugar. E jamais um segundo colocado conseguiu ultrapassar o primeiro na prorrogação.

Reiniciada a campanha, o bolsonarismo – que atingiu o feito de reduzir pela metade a taxa de brancos e nulos no primeiro turno – dá sinais claros de que pretende intensificar a campanha para aumentar a rejeição a Lula e conquistar votos extras a partir do eleitorado que costuma se abster.

Na noite de terça (4), Bolsonaro escancarou a estratégia durante a primeira de uma série de agendas com evangélicos no Sudeste. Ao lado da esposa Michelle Bolsonaro, o candidato à reeleição atacou a omissão dos cristãos na batalha final contra o “comunismo”.

Disse Bolsonaro aos fiéis que países vizinhos na América Latina, como Chile e Argentina, hoje estão na miséria “por causa de escolhas”. “Lá, quem decidiu as eleições não foi quem foi até as urnas. Foi quem não foi às urnas. Pior do que uma decisão mal tomada, é uma indecisão. Quem se omitiu, pagou preço caro“, disse.

A somatória de brancos, nulos e abstenções no primeiro turno chega a 38 milhões de votos que Bolsonaro considera à sua disposição. Basta criar incentivos para levar esses eleitores – em geral, mais conservadores – às urnas. A demonização da imagem de Lula parece ser o combustível para essa mobilização por parte de quem não tem interesse nenhum em disputar legados.

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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

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  1. Já surgiram n explicações sobre o número maior de votos do que o esperado para esse sujeito.
    A única explicação que não vi,e que seria utilizada por ele caso o presidente Lula tivesse sido eleito no primeiro turno é a de fraude.
    Por que agora esse sujeito está atacando as pesquisas? Não seria,como sempre,mais uma nuvem de fumaça?
    Não nos esqueçamos que deixaram os milicos milicianos acessarem todo o sistema eletrônico de votação,inclusive com visitas a sala de apuração.
    Essa gente falou tanto de fraudes para que nós pudessemos defender a segurança das urnas,que são seguras,diga-se de passagem mas, o mesmo pode não ocorrer com a central se algum dispositivo desses comprados dos inimigos do mundo,e sabemos quem são,tiver condições de alterar a transposição dos votos.
    Cabe aos partidos,através das listas impressas após o fechamento das urnas,ou ainda através da mídia eletrônica dessas urnas,apurar se o resultado apontado é o mesmo do apurado.
    É impossível,impossível mesmo,aceitar que institutos de pesquisas tenham errado por mias de 20 pontos como no caso dos senadores eleitos do Rio Grande do Sul e de Brasília,para ficarmos nesses 2.
    Isso já havia ocorrido em 2018,também com o senado onde os candidatos que estavam à frente em Minas,SP e Paraná não se legeram,e olhem que eram 2 vagas.
    Quando se trata de milicos milicianos,nada pode ser descartado.

  2. O Pa$tor $ilas Malafaia era contra a maçonaria, agora não é mais.

    “Se provar (que Bolsonaro na Maçonaria) que é isso fake news, não haverá estrago eleitoral nenhum. Se for verdade, pouco estrago, porque não é questão religiosa”. – Pa$tor $ilas Malafaia

    “A Alta Igreja da Inglaterraf, por exemplo, perdoaria antes o ataque a 38 de seus 39
    artigos de fé do que a 1/39 de suas rendas em dinheiro. Atualmente, o próprio ateísmo é uma culpa levis [pecado venial] se comparado com a crítica às relações tradicionais de propriedade”. – Karl Marx

  3. Muita gente desistiu de anular para evitar Bolsonaro, aposto. A esquerda não ouve os eleitores do seu Jair , não o sou , e fica inventando teorias , algumas agendas da esquerda não “descem” para algumas pessoas e a única pessoa que os representa é Bolsonaro.Taxar 50 milhões de fascistas não resolve o problema.

  4. Este site precisa de revisão , contas de outras ficam presas , os comentários ficam em “bold” , tem horas que pede captcha sem a opção …

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