Entre evangélicas, imagem “exemplar” de Michelle ofusca corrupção dos Bolsonaro, mostra estudo

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Estudo com mulheres evangélicas mostra que elas tendem a humanizar Bolsonaro e toleram os erros de gestão

Um estudo qualitativo publicado pelo Instituto de Estudos da Religião (ISER) mostra o que as mulheres evangélicas – que podem fazer a diferença na corrida presidencial de 2022 – pensam sobre Jair Bolsonaro e seu governo.

Realizada durante os meses de maio a julho de 2022, a pesquisa “Mulheres evangélicas, política e cotidiano” aponta que elas tendem a humanizar e, consequentemente, tolerar os erros de Bolsonaro no governo. Além disso, a imagem “exemplar” da primeira-dama Michelle Bolsonaro ofusca os escândalos de corrupção envolvendo a família presidencial.

A própria Michelle foi arrastada para o olho do furacão depois que a imprensa revelou que ela recebeu depósitos suspeitos que somam R$ 89 mil de Fabrício Queiroz, ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro, investigado como operador do esquema das rachadinhas. Recentemente, a mídia também descobriu que despesas pessoais de Michelle e Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto, vinham sendo pagas com movimentações financeiras suspeitas.

De acordo com o estudo, “Michelle Bolsonaro é vista como exemplo a ser seguido. As imagens de mãe, esposa, crente, mulher que nasceu em região periférica, de família desajustada, que engravidou e teve que enfrentar sozinha a criação da primeira filha, causou identificação em algumas das mulheres entrevistadas. Estas imagens se sobrepõem aos escândalos, como o envolvimento dela nas ‘rachadinhas’ (peculato) praticadas pela família”.

O estudo ouviu 45 mulheres evangélicas, divididas em 15 tríades (blocos de 3 entrevistadas por vez) entre 16 e 65 anos. As mulheres não se conheciam nem frequentavam as mesmas igrejas. São, em maioria, das classes C e D. Em 2018, 23 delas votaram em Bolsonaro, 7 em Fernando Haddad (PT) e 16 anularam o voto ou não foram votar.

A humanização de Bolsonaro

Entre as mulheres que pretendem manter voto em Bolsonaro, “sinceridade” foi uma das principais qualidades atribuídas ao atual presidente. “Essas mulheres o percebem como um homem que não esconde quem ele é, o que lhe torna imperfeito e justifica seus erros, já que ele ‘não pensa antes de falar’, ‘fala muita besteira’, ‘bota a cara’ e ‘não tem medo de inimigos.”

Essas mesmas características, no entanto, também justificam a rejeição de Bolsonaro por mulheres evangélicas que não votaram nele em 2018. Para elas, Bolsonaro “despreza outras pessoas na forma como fala e age”, sempre “muito longe do Evangelho”, dando frequentemente “um mau testemunho que ajuda a justificar a visão corrompida que a sociedade tem dos evangélicos”.

Entre as mulheres evangélicas, honestidade é um adjetivo muito usado para caracterizar um bom político. Isso justifica a resistência que elas têm a Lula e ao PT, ainda associados à corrupção e “à roubalheira”, diz o texto de divulgação sobre o estudo.

Erros de Bolsonaro

Em geral, as mulheres evangélicas entendem que Bolsonaro foi uma decepção como gestor na pandemia. Mas, acima disso, seu maior erro foi não ter sido solidário aos familiares das vítimas fatais. “(…) o atraso na vacinação é um problema menor do que a postura de descaso e de respeito do presidente em relação às vítimas.”

Já sobre a economia, há a compreensão de que “a situação econômica e social piorou, em especial os preços no mercado. Há também uma percepção sobre o aumento da violência e de um clima de desunião nas igrejas e nas famílias.”

Igreja, família, Estado e partidos políticos

Quando questionadas sobre pautas exploradas pelo bolsonarismo – como o feminismo, casamento entre homoafetivos, aborto, etc – as mulheres evangélicas colocam em xeque o imaginário de uma “família tradicional brasileira”, mas ainda são resistentes à pauta do aborto.

As igrejas, para elas, são “uma rede de apoio que oferece garantias para o presente e para o futuro de famílias” e chegam em locais onde o Estado está ausente com seu trabalho social. Para muitas dela, o papel do Estado deveria ser de ajudar as igrejas nessas ações sociais. Já a política partidária é vista como “negativa” pelas entrevistadas.

“Primeiro, porque a igreja é vista como um lugar de acolhimento e união. Por isso, a mobilização exacerbada de falas políticas no púlpito se afasta da finalidade última daquele espaço e divide a comunidade de fiéis, ‘gerando divisão na igreja. Segundo, porque muitas delas compreendem a política como algo intrinsecamente ruim, capaz de ‘corromper as pessoas cristãs’. Nesta direção, as mulheres ouvidas afirmaram que seu voto é uma escolha individual, resultado de reflexão. Elas assumem que escutam as sugestões de pastores e familiares, mas declaram que decidem seu voto mediante pesquisa, estudo e orientação divina.”

A maioria das mulheres evangélicas ouvidas declarou se informar sobre política pelas mídias sociais, em especial os grupos de família do WhatsApp, além de Facebook, Youtube e Instagram. A propaganda eleitoral não foi citada como meio de informação e apenas mulheres mais velhas declararam assistir a debates eleitorais.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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