Manifestantes cobram justiça por Marcelo Arruda em São Paulo: “não podemos nos intimidar”

Com velas nas mãos, manifestantes exigiram a investigação do crime político-eleitoral; outros atos ocorrerão até domingo

Manifestantes acenderam velas na escadaria do Teatro Municipal. | Foto: Elineudo Meira/@fotografia.75

do Brasil de Fato

por Gabriela Moncau, de São Paulo (SP)

Inaugurando os atos por paz e justiça para Marcelo Arruda que acontecerão neste fim de semana em várias cidades do país, manifestantes se reuniram no fim da tarde desta sexta-feira (15) em São Paulo, em frente ao Teatro Municipal.

O ato, assim como os marcados em Foz do Iguaçu (PR), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS) e Osasco (SP), denuncia o caso de violência político-eleitoral a menos de três meses do pleito e homenageia Arruda. O guarda municipal, sindicalista e dirigente petista foi morto a tiros durante sua festa no último sábado (9), pelo bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho, um policial federal penitenciário. Arruda comemorava seus 50 anos em Foz do Iguaçu (PR) com uma festa temática “Lula 2022”. 

Representantes dos movimentos populares e organizações presentes se alternaram em falas num pequeno carro de som. Em outros momentos, o jingle do PT era tocado. 

“Bolsonarismo mata!”, “Por nossos mortos, toda uma vida de luta”, fotos de Arruda, de mestre Môa do Katendê e de Marielle Franco estampavam cartazes trazidos pelas dezenas de presentes, que acenderam velas nas escadarias do Teatro. 

“É para dizer que nossa luta é para enfrentar as trevas, a morte e a brutalidade”, afirmou Eliane Martins, do Movimento Brasil Popular.

David Zamory, da Coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra (MST) de São Paulo, lembrou o caso de Luís Ferreira, acampado do movimento morto durante um ato em Valinhos em 2018. Ele frisou que essas violências não estão acontecendo apenas agora, às vésperas da eleição. 

“Todo santo dia eles nos matam. Matam os nossos negros e negras nas regiões periféricas desse país, nos matam de fome, nos matam com as armas. E nós só temos o direito de dizer amém”, disse Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, integrante da Central de Movimentos Populares (CMP). “Está na hora da gente, trabalhadores e trabalhadoras, responder à altura desse tipo de assassinato que está acontecendo.”

Sem deixar as ruas

Daiane Araújo, militante do Levante Popular da Juventude e diretora de Mulheres da União Nacional dos Estudantes, lamentou essa banalização da violência, promovida pelo discurso e pelas práticas do presidente Jair Bolsonaro (PL). 

“Esse acontecimento chega pra nós de forma muito dolorida, mas é muito triste que ele não nos choca socialmente. Pelo contexto de violência em que a gente vem sendo inserido nos últimos acontecimentos, mas sobretudo pela cara do governo que vem conduzindo”, lamenta. Ela lembrou os milhares de mortos da pandemia, a violência cotidiana contra jovens negros nas periferias e o sofrimento causado pela fome e a miséria – todos, de alguma forma, resultados de políticas do atual governo. 

“É essa violência que vai sendo colocada e naturalizada que leva à morte de dois sujeitos. Ela se constitui inclusive de uma forma meio desumanizada, a gente perde essa consciência de se colocar enquanto sujeitos”, afirmou. 

Thiago Duarte Gonçalves, do Movimento Brasil Popular, lembrou que o ato marca o sétimo dia do assassinato de Marcelo Arruda e ressaltou a importância de não deixar “passar batido” esse crime. “A delegada acabou de caracterizar como um assassinato que não é político, não tem crime político. É uma decisão claramente enviesada, a gente sabe que o bolsonarismo está dentro das polícias. A antiga delegada já tinha sido afastada justamente porque tinha manifestações públicas contra o PT”, criticou, cobrando que o Ministério Público atua para reenquadrar o caso como crime político.

Ele lembrou que o Brasil viveu décadas de polarização política e eleitoral entre PT e PSDB sem que esse tipo de violência explícita acontecesse. “Esse tipo de assassinato, de violência, de intimidação deixa as pessoas preocupadas, receosas que haja um banho de sangue. A nossa ideia é que, ao mesmo tempo que a gente precisa se preocupar com a segurança, a gente não pode se intimidar, porque senão é tudo que eles querem, deixar as ruas vazias para eles darem um golpe e não aceitarem o resultado das eleições.”

Atos pelo país

A mobilização está sendo organizada pelo Movimento Brasil Popular, MST, Levante Popular da Juventude, Movimento dos Trabalhadores por Direitos (MTD), CMP, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Afronte, Coletivo Sonho, Resistência e Luta, Coletivo Rua, Movimento Popular Socialista, Sindicato dos Bancários de São Paulo, Sindicato dos Petroleiros, e partidos como o PT, o PCdoB, o PSOL e o PSB.

Outros atos serão realizados até domingo (17) em diversas cidades do país – veja a lista aqui. Em São Paulo, serão realizados um ato inter-religioso contra a violência na Catedral da Sé, neste sábado (16), e um protesto em frente ao Masp, no domingo (17). 

Também são esperados protestos em Foz do Iguaçu, Curitiba, Porto Alegre e Osasco.

Edição: Nicolau Soares

O Jornal GGN produzirá um documentário sobre o avanço da ultradireita mundial e a ameaça ao processo eleitoral. Saiba aqui como apoiarColabore!

Leia também:

As peças do Xadrez da Ultradireita

Como a Cibersegurança do Exército serviu para ataque de Bolsonaro às urnas

NRA, a Associação Nacional de Rifles, o aliado preferencial do bolsonarismo

Centro de Inteligência do governo atua longe de qualquer controle

Xadrez do homem que inventou o Cambridge Analytica

Xadrez da ultradireita mundial à ameaça eleitoral

Jornal GGN produzirá documentário sobre esquemas da ultradireita mundial e ameaça eleitoral. Saiba como apoiar

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador