Intervenção não inibe crimes, só interrompe sonhos, por Bernardo Mello Franco

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Bruna, mãe de Marcos Vinícius, vela o corpo do filho | Domingos Peixoto

Bruna, mãe de Marcos Vinícius, vela o corpo do filho

Jornal GGN – O sonho acabou para Marcos Vinícius na manhã de quarta-feira, diz Bernardo Mello Franco. E com esse gancho vai discorrendo sobre a situação das comunidades, atacadas por helicópteros e caveirões, ceifando sonhos de adolescentes e deixando em evidência as marcas da violência. 

Na sua coluna em O Globo, Bernardo fala mais. E chega ao ponto em que a única lógica ali é a da bárbarie, do aumento da violência, do fracasso de qualquer ideia contida na intervenção militar. Intervenção não conteve o crime, apenas angariou mais vítimas.

Leia o artigo a seguir.

de O Globo

Intervenção não derrota o crime, mas aumenta letalidade da polícia no Rio

por Bernardo Mello Franco

‘Apocalypse Now’ carioca

Marcos Vinícius tinha 14 anos, torcia para o Flamengo, gostava de rap e queria ser MC. O sonho acabou na manhã de quarta-feira. O menino foi baleado a caminho da escola, um Ciep no Complexo da Maré. Antes de morrer, disse à mãe que o tiro partiu de um blindado da polícia.

Moradores contam que as operações na favela ganharam uma novidade. Agora os policiais também dispararam de helicóptero, batizado de “caveirão voador”. Numa região repleta de creches e escolas, repórteres do site Maré de Notícias contaram mais de cem marcas de balas no chão.

Os vídeos que circulam na internet sugerem que os agentes atiraram de forma indiscriminada. Sem protocolo de ação, os policiais abriram fogo como se estivessem numa refilmagem de “Apocalypse Now”. Faltaram a paisagem do Vietnã e o fundo musical da “Cavalgada das Valquírias”.

O resultado da operação foi pífio. Cerca de 120 homens entraram na comunidade com 23 mandados de prisão. Nenhum deles foi cumprido. A incursão deixou sete mortos, incluindo o estudante Marcos Vinícius. A polícia informou que os outros seis eram “suspeitos”, como se a lei autorizasse a matança nessas circunstâncias.

Não há lógica, a não ser a lógica da barbárie, que justifique operações de guerra em áreas densamente povoadas. É espantoso que isso ainda se repita em horário escolar, apesar dos reiterados apelos da prefeitura. Ontem, mais 17 mil alunos ficaram sem aulas na Maré. No ano passado, foram 38 paralisações provocadas pela violência.

O Rio está há quatro meses sob intervenção federal na segurança. A chegada dos militares parece não ter intimidado os chefes do crime. Apesar da promessa de reforço na inteligência, a polícia insiste na tática do bangue-bangue.

Na semana passada, o Observatório da Intervenção divulgou um balanço que aponta aumento nas estatísticas de roubos (5%), tiroteios (36%) e mortes provocadas pela polícia (34%). “Megaoperações policiais e militares se sucedem, cada vez maiores, com resultados pouco expressivos”, afirma o estudo.

Até aqui, a intervenção foi marcada pelo fim das UPPs e pelo assassinato da vereadora Marielle Franco. Hoje o crime completa cem dias sem solução.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

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  1. Tomara que as crianças

    Tomara que as crianças separadas dos pais nos EUA estejam bem. Estou tão angustiado com aquela situação. Esse desgraçado do Trump está acabando com o mundo!

     

  2. A Casa grande violentando as senzalas

    Nunca vimos e não veremos o caveirão voador atirando no Leblon ou nos Jardins. Sera sempre em cima do povo sofrido das periferias e favelas. Os mesmos oriundos dessa classe social são os mesmos que apertam o gatilho a mando das classes superiores.

    A mãe que beija a face do filho tolhido pela violência policial é algo intoleravel. Ou Michel Temer pensa que a vida de seu filho e de sua classe valem mais que Marcos Vinicius? 

  3. APARTHEID

    O APARTHEID brasileiro está cada dia mais ousado. Se a população não parar este sistema, o extermínio continuará, e cada vez mais brutal.

  4. Jornalistas da Orcrim Globo, envergonhem-se do seu triste papel

    Jornalistas da Orcrim Globo, envergonhem-se do seu triste papel

    No caso, Bernardo Mello Franco, mas também vários outros jornalistas e articulistas, como Frei Betto e Aldir Blanc, que se hospedam nas Organizações Globo para expor suas almas boas e seus belos textos, cheios de humanismo, não se envergonham de usar esta plataforma criminosa e mesmo genocida, e assim justificar a existência dessa organização criminosa inimiga do Brasil e do povo brasileiro, dando aos seus proprietários bandidos e a uma grande maioria de outros jornalistas, estes canalhas e porta-vozes da plutocracia, as desculpas para o comportamento nefasto de verdadeiro exército lesa-pátria ocupante do nosso território? Não se envergonham? Não sabem, no caso, que foram estes assassinos bilionários que foram essenciais na destruição, pela segunda vez, da democracia no nosso país? Não sabe que foram esses bandidos que forçaram a intervenção militar assassina no Rio de Janeiro? Não tem como sobreviver honestamente do seu trabalho, apresentando-os longe dessas mãos sujas de sangue, como tantos outros jornalistas que deram seu grito de liberdade e hoje estão nos seus blogs individuais e coletivos e em outras plataformas, onde sobrevivem, mesmo com dificuldades, sem receber o dinheiro sujo desses plutocratas mafiosos? Não se envergonham de – com este triste e suvserviente papel -, se tornarem cúmplices desses canalhas na manipulação e na manutenção do sistema escravocrata que faz crescer a fortuna desses criminosos? Se contentam em serem os atuais domesticados “comunistas do Roberto Marinho”? Ponham a mão na consciência, senhores, e recuperem, enquanto ainda existe, a dignidade vendida.

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