O PT no Poder: a aliança Capital e Trabalho rompida e o Golpe veio.

Pensar o PT e a centro-esquerda no Executivo Federal nos 13 anos e 4 meses até a consumação do Golpe via parlamento e a forma como se deu a Governança é pensar em um Projeto de Poder diferenciado.

O Projeto de Poder, certamente estava sendo exitoso, o que assustou o Capital. Ninguém precisa dar Golpe se consegue vencer a Eleição pela via do voto.

Todavia, por ser um Projeto de Poder sem uma transformação radical das estruturas política, econômica/tributária, midiática, da Classe Jurídica no Brasil ele deixou a brecha para uma ruptura do processo Democrático, para prosperar o Golpe parlamentar.

Chegaremos até o motivo de o Golpe do Impeachment ser exitoso no decorrer do texto.

Vou colocar em prática uma análise particular.

Bem sabemos que Lula, Dilma, o PT e a centro-esquerda no Poder não se colocaram (desde o início) na direção de uma radicalização nem com a Elite Midiática nem com o Empresariado nem com o Mercado nem com o Agronegócio.

Fizeram estes agentes eleitos uma composição, já de início, com o empresariado, escolhendo de vice na chapa vencedora de Lula, o José Alencar. Adentraram ao Palácio do Planalto com a carta aos brasileiros para não assustar o Mercado e, ainda, não houve nenhum confronto mais consistente com a mídia oligopólica, até salvando da bancarrota a Rede Globo e anunciando em modo crescente em seus canais de comunicação. Sem contar que o Agronegócio foi incentivado e cresceu absurdamente nos governos petistas.

A lógica central da tomada do Poder pela centro-esquerda foi a da conciliação de duas classes: Capital e Trabalho, foi, ainda, a da inclusão e ascensão social capitalista, da inserção do Brasil numa lógica de independência, desenvolvimento científico-tecnológico prático, de altivez e respeito no cenário geopolítico mundial para adentrarmos no mundo das grandes potências econômicas como um dos países decisórios dos rumos da humanidade.

O PT não foi um partido revolucionário, na acepção clássica da esquerda. Foi revolucionário ao não separar em grupos estanques o Capital Nacional, o Mercado e o Trabalho.

E fez uma junção destes personagens da vida cotidiana para juntos crescerem e o Brasil se tornou 5 vezes maior em pouco mais de 10 anos: o PIB quase quintuplicou, nesta lógica implementada, não clássica, das esquerdas no Poder.

Não podemos esquecer que o PT não é um partido socialista, o próprio nome já diz: Partido dos Trabalhadores e esta constatação é essencial para se discutir a centro-esquerda que esteve no Poder de 2003 até maio de 2016.

E estava sendo exitosa a proposta conciliadora do PT para a classe trabalhadora até 2014.

Aumento real do salário mínimo em 75%, carteira assinada, ou seja, trabalho formal num crescente, atingindo mais de 25 milhões de novos contratados via CLT, implementação de novas Leis trabalhistas, inclusão e ascensão social de milhões e milhões de brasileiros na roda do consumo e no direito de fazer cursos técnicos e universitários para aprimoramento da Educação particular do trabalhador e do jovem – o futuro trabalhador, antes a Educação técnico-universitária estava concentrada em não mais que 30% da população, os já incluídos na sociedade de consumo nos tempos de FHC para trás.

Não foi um Projeto de transformação radical das estruturas vigentes no Brasil, de se aventar reformas estruturais na Política, nos tributos, na mídia, na estrutura fundiária, etc. que tanto foi cobrada por aqueles que se opõem a esta estratégia de “comer pelas beiradas” e de se fazer uma radicalização do capitalismo independente, cobrança dentro das esquerdas brasileiras – não alinhadas com o Governo de centro-esquerda capitaneado pelo PT.

A lógica escolhida da transformação do capitalismo nacional em capitalismo central foi possível até certo momento da trajetória do Governo de centro-esquerda. Em meados de 2013 já se buscava uma ruptura do Capital e o Trabalho, porque estávamos apoderando por demais o trabalhador e a curva dos lucros, podemos assim dizer, se dava na direção do Trabalho, ele fica com uma parte significativa do bolo do que era arrecadado no processo de formação da riqueza do País.

O Capital começou a ter medo do Trabalho. A tolerância ao Governo petista começava a se dissipar.

Todos enriquecendo, batendo recordes de ganhos, porém, o Governo petista estava apoderando, também, a classe trabalhadora e dando a ela, o principal, uma maior participação social.

Imaginemos no imaginário da sociedade de castas dos 30% de incluídos a invasão dos shoppings, dos aeroportos, da Disney e Miami, das praias paradisíacas, dos hotéis fazenda por gente da classe C, numa mistura social de gente que antes não se via em outro lugar, senão na cozinha e na faxina da casa.

Este capitalismo radical em realidade assustou a classe dominante e levou junto as classes média e médio-altas tradicionais, que se desvencilhou (a classe dominante) do pacto e passou a querer retomar o Poder sem nenhuma chance de colocar a racionalidade na ponta dos cascos.

Quis-se voltar ao tempo da Casa Grande & Senzala por uma questão simples, a tal da “distinção” social, do medo de que as exclusividades capitalistas pudessem ruir por completo, que outros, os filhos da centro-esquerda pudessem enriquecer, também, e não sempre os mesmos. Até adquirir Poder decisório nos rumos do Brasil do futuro.

O Projeto de Poder do PT estava exitoso no proposto e nos levou ao quase posto de 5ª economia do mundo em 2012. Só que este Projeto não mais apenas conciliava, mas dava ao povo a chance dele se infiltrar na sociedade dos 30% pela porta da frente.

Imaginemos o filho do pobre na universidade, o filho do pobre não mais se contentando em seguir o caminho dos pais e, agora, querendo, ao invés de ser Pedreiro ser Médico, Advogado, Doutor.  O Capitalismo nacional e sua casta de privilegiados não seguraram as pontas, não admitiram a nova concorrência, para além do QI – Quem Indica – tradicionalmente, a forma de inserção no Mercado de Trabalho, onde, só as classes média e médio-alta adentravam nos postos mais importantes e melhores remunerados, porque só nestas classes sociais estavam os formados e qualificados profissionais e só a Elite da Elite era dona do Capital Nacional.

O problema desta forma de aliança do PT e as forças produtivas e de mercado projetado por Lula e a centro-esquerda no Poder é que por ser conciliador não se fazia um pente fino nas alianças eleitorais nem nas alianças no Congresso (numa analogia simples – não se olhava o currículo do sujeito para ser seu aliado), estava valendo a lógica de que todos são possíveis aliados, mesmo que a maioria dos eleitos no Legislativo tenha mais comprometimento com interesses particulares, eleitoreiros e de seus financiadores de campanha. Financiadores que a centro-esquerda no Poder não hesitou em receber deles apoio em campanhas eleitorais – forma existente mais cômoda e segura de se eleger.

Na hora do medo de uma transformação plena do Brasil com a mistura social, as classes dominantes (Mercado Financeiro Nacional de preferência, Empresariado, Agronegócio e a Velha Mídia oligopólica capitaneada pela Rede Globo de Televisão – esta, desde sempre patrocinada pelos interesses não nacionais, do Imperialismo Norte-Americano e do Mercado Financeiro Internacional) e a sua massa de manobra: os 30% de incluídos das classes média e médio-alta tradicionais dos tempos de FHC para trás + a sua Justiça elitizada: formada, majoritariamente, por magistrados pertencentes à casta dos incluídos de sempre decidiram destruir a aliança Capital e Trabalho, sem pensar nos seus próprios ganhos e na transformação social e no desenvolvimento econômico e tecnológico que o Brasil estava alcançando.

Abraçaram, então, a Ideologia do oposto a tudo o que está ai e se juntaram “fervorosamente”, como uma seita de fanáticos, para a defesa da volta à dicotomia: Casa Grande & Senzala e elegeram dois inimigos a serem abatidos: as empreiteiras, apoderadas ao máximo no Governo petista, e o PT + Lula e Dilma e sua Petrobrás, representavam o Progresso Nacional e o Brasil novo em vias de ser desenvolvido e até de abolir a sociedade de castas mundo afora.

E, quem compunha o Legislativo Federal nesta ruptura Capital e Trabalho? A esquerda era minoria da minoria, a centro-esquerda minoria, os defensores dos interesses nacionais poucos. A grande maioria do Parlamento se fez notar deste instante em diante, era composta por gente da Direita política e que na hora do pêndulo se voltar, exclusivamente, para a Elite econômica vai junta. E, bem sabemos, ou descobrimos, a Direita política é formada por parlamentares envolvidos em diferentes processos judiciais Brasil adentro. Fácil de ser controlada pela Lava-Jato, a ponte judicial, para a ruptura definitiva entre o Capital e o PT e o apoderamento econômico-social da classe trabalhadora.

Já se sabia, pelo menos desde as Jornadas de Junho de 2013, até um pouco antes, com o episódio de Pasadena – balão de ensaio da Lava-Jato, que o processo eleitoral estaria viciado, que não havia mais a possibilidade de repactuação do Capital e do Trabalho, mas, a estrutura política de alianças para as eleições utilizada pela centro-esquerda no Poder se manteve intacta, era uma acomodação de mais de década e se fixaram nela o Executivo e a parte do Legislativo da centro-esquerda no comando do País.  

O processo de contagem do tempo no horário eleitoral fez o PT continuar a se projetar no campo das alianças por tempo de TV e não programáticas. Já não se tinha mais o pacto Capital e Trabalho, porém, se manteve o pacto de alianças com aqueles que já abandonaram o barco do modelo conciliatório e estavam juntos ou de malas prontas para ir morar do lado do Capital.

Perdeu-se o PSB de Eduardo Campos, ainda, majoritariamente, progressista, levado para a Direita, mas o PMDB, o PP, o PSD, o PR, partidos não programáticos, acabaram coligados na chapa presidencial de Dilma.

O PSB, junto com PDT, PCdoB e o próprio PT + os irmãos Gomes poderiam formar a chapa presidencial em 2014 numa campanha mais politizada. Não se soube costurar a aliança com o PSB e os irmãos Gomes. Eduardo Campos fez um voo solo.

Ganhou-se a Eleição, todavia, não se formou uma maioria parlamentar mínima, o lado do Capital, já separado do Trabalho fez a festa eleitoral. Perdeu com Aécio, que vença, como der, venceu no Parlamento folgadamente.

E o Golpe do Impeachment foi sendo construído e vingou em maio de 2016.

O Impeachment é fruto desta realidade. A maioria do parlamento, eleita no toma lá da cá e no financiamento privado não se preocupava mais com o Governo eleito, ela estava do outro lado da ponte já de tempos e só a centro-esquerda no Poder não tinha visto a banda passar e mudar para a outra margem do rio.

O que se deveria ter feito em 2014 era uma política de alianças programática, mesmo que se ficasse com metade do tempo no horário eleitoral e, algo, que o pragmatismo do Projeto de Poder do PT não se ateve nestes anos todos de Governo: a Educação Política.

Bem sabemos que o marqueteiro do PT foi marqueteiro do Maluf e todos os horários eleitorais do PT vencedor (de 2002 até 2014) foram marqueteiros e não centrados numa Educação Política, que mostrasse a importância de se votar em candidatos do Legislativo e Executivo comprometidos com o Projeto de Poder e o Programa de Governo petista, votar no parlamentar do PT não se fez como meta central na propaganda eleitoral e sim votar nos coligados ao PT.

Privilegiou-se o processo clássico de horário eleitoral com marqueteiro e o presidencialismo de coalizão, sem uma gradual transformação destas relações entre partidos políticos e o Governo Federal eleito, sem uma gradual politização do discurso, para demonstrar que as transformações sociais: inclusão e ascensão social, o consumo crescente das classes populares está ligado a uma ação concreta do Estado nos rumos da economia e não é acaso nem meritocracia.

Uma campanha eleitoral mais assertiva, mais politizada, menos marqueteira e menos imediatista/ pragmática não poderia nos legar numa quarta legislatura federal com o PT no comando um Congresso Nacional melhor e com mais parlamentares progressistas e mais à-esquerda?

E, sabemos, não foi o que aconteceu. Em 2014, Lava-Jato, Rede Globo de Televisão e aliadas midiáticas detonando o PT, Lula e Dilma 24 horas do dia para Aécio Neves vencer, o candidato do Capital Nacional e Internacional, e a centro-esquerda no Poder se manteve incólume na Política de cálculo eleitoral e do horário eleitoral só para mim.   

O recall dos programas sociais, o desemprego baixo e o consumo, ainda, em alta pesaram para a formatação da chapa de 2014 e os partidos que a compuseram. Ficaram PMDB, PP, PSD, PR e outras siglas menores ao lado do PT por interesse eleitoreiro, não programático, como já explicitei.

Mas, os partidos coligados já sabiam que a sobrevivência política, na ruptura Capital e Trabalho era estar do lado do Capital. O lado do Trabalho seria dizimado, na ruptura e está sendo. Políticos descompromissados com o casamento discurso e prática não pensam duas vezes de que lado devem estar.

Finda a Eleição de 2014 e vimos uma realidade diversa. Traduzida numa fragmentação partidária enorme, onde, 28 partidos tiveram eleitos no Congresso Nacional. Nada mais sintomático este resultado do que uma preponderância crescente de uma Política de alianças eleitoral e de Poder e não programática.

Quando se percebe que a Política partidária e o Legislativo e as relações com o Governo Federal se compõem de trocas, me apoia que eu lhe dou um pedaço de Poder, cargos, pedaços do orçamento, etc. muitos sonham em ter um Partido para chamar de seu. E, todos ficam reféns uns dos outros. Dilma eleita e colocando no seu Ministério políticos que a degolaram no Impeachment, onde se pode imaginar um cenário deste?

Da falta de uma Política programática de alianças se proliferou o número de partidos e se abriu a chance da ingovernabilidade, hoje, aos poucos, experimentada, até pelo Temer, mesmo que faça tudo o que o Capital quer.

Fugir da visão unidirecional de uma ideia de um parlamento com apenas 1/5 de representantes do povo como forma de entendimento único da derrubada de Dilma é essencial, ela é consequência, a causa que levou a este cenário é o pragmatismo crescente e a acomodação no Poder, a não ruptura por parte do PT do que já estava rompido por parte das classes dominantes, o pacto Capital/Trabalho desde 2013 e as Jornadas de Junho.

Se em 2014 se radicalizasse para uma aliança programática com partidos comprometidos com o Trabalho, mesmo com a perda de parte do tempo do horário eleitoral em primeiro turno, já que o PT tinha a força de estar no segundo turno, realizando uma campanha politizada e não mais marqueteira teria a possibilidade de formatar um Congresso Nacional um pouco melhor e até vencer e Governar com melhores chances de êxito. Por exemplo, com um Vice do porte de Ciro Gomes, não se aventaria a ideia de Impeachment.  Claro, que com a Lava-Jato e a velha mídia em uma avalanche de denúncias, via delações vazadas e prisões de petistas seletivamente, a situação eleitoral não foi fácil para o PT. 

E, talvez, sem a necessária capitulação ao neoliberalismo com Levy e seu Splash and Go, a visar o equilíbrio das contas públicas em déficit, medidas econômicas em consonância com o ideário do Mercado, forma de se tentar o que já estava dado como inconciliável: a possibilidade de PT e Capital estarem juntos em defesa dos interesses de um Brasil inclusivo e não dividido em duas castas, a casta dos com direitos e a casta dos sem direitos.

Imaginemos. Você vence o pleito para o Legislativo colando ao lado da sua foto a foto de Dilma, tudo só pelos votos; forte, certamente, foi esta situação no Norte e Nordeste, porém, na hora dela Governar não dá apoio a quem foi seu cabo eleitoral maior.

Candidato se passando por defensor e aliado dos programas sociais, das políticas de inclusão, da melhoria de vida da classe trabalhadora, sem o ser mais, pois, já havia se descomprometido por completo, antes do período eleitoral da aliança com o Trabalho.

Candidato eleito pela campanha de centro-esquerda de Dilma e praticando uma política econômico-social 100% igual a da candidatura perdedora. Dilma, em partes, na escolha de Levy, também, praticou por um tempo a política econômica não vencedora em 2014.

Não se precisava mais desta aliança pragmática, em 2014 já se sabia que não.

O acomodamento do processo, o costume acabou viabilizando esta realidade de rompimento total do Executivo e Legislativo e Dilma foi derrubada com facilidade.

Enfim, o processo de cálculo eleitoral, de alianças pragmáticas e não programáticas não mais adiantou, era caduco, entretanto, não se enxergou sua presencial morte, apesar de mantido no processo eleitoral e dar a vitória à centro-esquerda.

Em 2014 vencemos, mas não levamos!

Esta é a dura realidade a ser encarada. 

Redação

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