Análise: Pagamento de dividendos da Petrobras é vitória do mercado

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Valor distribuído pela estatal só não é maior do que o montante pago durante o governo Bolsonaro, segundo Ineep

Foto de Adam Nir na Unsplash

Atualização às 19h09 para acréscimo de informações

O pagamento de dividendos anunciado pela Petrobras nesta quinta-feira (25/04) pode ser interpretado como uma vitória do mercado financeiro em detrimento dos interesses do país.

A estatal anunciou que seus acionistas vão receber um total de R$ 94,354 bilhões referentes ao exercício social 2023 – sendo R$ 22 bilhões em dividendos extraordinários.

Cálculos elaborados pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) mostram que esse é o terceiro maior volume da história da companhia, superando em muito a média observada no período 2003-2020 (R$ 5,9 bilhões).

O montante anunciado só fica atrás dos megadividendos distribuídos pela estatal durante o governo Bolsonaro, no biênio 2021 e 2022, quando a média anual de dividendos pagos foi de R$ 155,7 bilhões.

Na visão de Mahatma Ramos dos Santos, diretor técnico do Ineep, a decisão da Petrobras (e da União) em aprovar esse pagamento cede às pressões do mercado financeiro e “não está alinhada com os interesses de longo prazo da companhia e da sociedade brasileira, tais como novos investimentos em transição energética, abastecimento e segurança nacional”.

Pode-se dizer que o anúncio também é um passo atrás na estratégia de fazer com que a Petrobras retome sua função estratégica e social em meio a um mercado que quer receber cada vez mais mesmo já recebendo valores históricos.

Em entrevista ao jornalista Luis Nassif na TVGGN 20 horas, programa diário transmitido pelo YouTube, a economista do Ineep Ticiana Alvares chegou a comentar que “é muito mais difícil reconstruir do que construir, e a destruição foi muito grande”.

Tem o próprio papel cumprido pela Lava Jato, no sentido de criminalizar sua atuação do governo. É normal o sócio controlador querer controlar, mas essa atuação do governo foi criminalizada, e agora tratam como aberração o governo querer falar para onde vai a Petrobras”, destacou.

Veja abaixo a íntegra do programa

O lado do mercado financeiro

Na outra ponta, analistas chegaram a lamentar que a distribuição da Petrobras fique restrita aos 50% dos dividendos extraordinários – e que a empresa “deveria distribuir todo extraordinário gerado ao longo de 2023”, na visão da Genial Investimentos.

Em relatório assinado pelos analistas Vítor Sousa e Israel Rodrigues, a corretora diz que a notícia é ruim por dar a ideia de que “a empresa deve majorar investimentos em negócios que julgamos pouco interessantes, seja pelo retorno esperado ou pela baixa expertise da empresa no desenvolvimento dele”.

Para a corretora, os dividendos extraordinários deveriam ser integralmente distribuídos pelos seguintes motivos:

  1. Preços do petróleo em níveis razoavelmente altos e com baixas expectativas de quedas expressivas no curto prazo,
  2. Baixo custo de produção derivado dos campos do pré-sal em meio a preços do brent muito interessantes;
  3. Incremento expressivo na produção esperada até 2028;
  4. Endividamento sob controle;
  5. Atual nível de investimentos tem sido suficientes para suportar o crescimento e reposição das reservas;
  6. Oportunidades fora do segmento de Exploração & Produção/Refino não são tão interessantes do ponto de vista da geração de valor para a empresa; e
  7. O negócio do petróleo é “de natureza cíclica” e já se espera uma queda gradual nos preços do brent nos próximos anos.

Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, a decisão traz um pouco de alívio relacionado aos temores incisivos de intervenção nos interesses da empresa e gestão do caixa do negócio, mesmo depois dos embates entre o Ministério de Minas e Energia e o comando da Petrobras.

“O risco de intervenção no negócio da empresa é algo que os investidores monitoram em todas as gestões federais, e o posicionamento de toda a cúpula em volta do presidente e do Ministério de Minas e Energia sempre influenciará o preço das ações caso haja desdobramento de qualquer novo capítulo; contudo, o momento é de alívio (mesmo que temporário) pois na prática acabou sendo uma sinalização de que a corda não está muito esticada, e houve um equilíbrio de interesses, ou ao menos não mantiveram o posicionamento inicial de zero dividendos extraordinários”, pontua.

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Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

4 Comentários

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  1. Os chantagistas não esquecerão essa fraquejada do governo. Em 2025 eles considerarão “direito adquirido” o que ganharam em 2024 e exigirão mais, porque quem fraqueja uma vez fraquejará sempre que for pressionado. O poder da Petrobras interferir na economia em benefício do povo será reduzido a ZERO.

    1. Não vimos o “mercado” gritar contra o rombo nas Americanas, por lá os credores aceitarão pagar parte da “fuga” de recursos da empresa.
      Já para a Petrobras berraram contra a “intervenção” do acionista majoritário.
      De outro lado Lula mudou o discurso e pulou para a direita e segue levando pau da conhecida Rede global.
      O peso da canga faz milagres na assim chamada “esquerda” brasileira.

  2. É uma vitória dupla. Primeiro, pois garantem diretamente os seus ganhos como acionistas. Segundo, pois, como a União é o maior acionista, é ela que irá receber a maior fatia, que irá para …. garantir superávit fiscal nos termos impostos por Haddad e cia. Palmas para Haddad, que continua bravamente a seguir a cartilha da Faria lima. Nunca mais a USP e as Arcadas o virão como professor.

  3. O Governo Lula nem começou e nem vai .
    Ao que me parece , entregou-se , foi terceirizado ao baixo clero
    do PT . Lula desapareceu , sabe-se lá porque.
    Não há projeto , finalidade ou direção . Os ventos sopram e a Nave
    Vai rumo ao nada .
    Um Ministério inepto , incompetente e sem iniciativas .
    Mirem os Ministros , uma tragédia , mal sabem falar , quanto mais
    se dirigir às massas de brasileiros . Por isso mesmo , pastores
    são o ” fiel da balança” .
    Lula não vai atingir o mínimo nas Eleições Municipais , e esta ten-
    tativa de rumar à direita , de forma escancarada como está sendo
    feita , escancara o desespero e fraqueza do seu Governo .
    Ele praticamente , grita por socorro , como um adolescente em baile
    de formatura sem um ” par” .
    Vaidades , ego inflado , cansaço , seja lá o que for , é triste !!!

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