
O Conselho de Administração da Petrobras encaminhou para Assembleia Geral Ordinária (AGO) a distribuição de dividendos equivalentes a R$ 14,2 bilhões – considerando os dividendos antecipados ao longo do exercício, ajustados pela Selic, o montante pago em 2023 vai chegar a R$ 72,4 bilhões.
Tal valor implica em um dividendo por ação de R$1,0989/ação e deverão ser pagos em duas parcelas de R$0,5494/ação nos meses de maio e junho.
Segundo a equipe da Genial Investimentos, a distribuição de R$ 14,2 bilhões considera R$ 2,7 bilhões em recompras efetuadas ao longo do quarto trimestre. “Tal valor implica em um rendimento de 2,7% no 4T23 e 10,8% em termos anualizados – interessante, mas não o suficiente para justificar um posicionamento mais agressivo no papel”.
O lucro remanescente do exercício, após os dividendos e formação de reservas legais e estatutária, totaliza R$ 43,9 bilhões, e o conselho propôs que esse montante seja integralmente destinado para a reserva de remuneração do capital com a finalidade de assegurar recursos para o pagamento de dividendos, juros sobre o capital próprio, suas antecipações e recompras de ações.
“A aprovação do dividendo é compatível com a sustentabilidade financeira da Companhia e está alinhada ao compromisso de geração de valor para a sociedade e para os acionistas, assim como às melhores práticas da indústria mundial de petróleo e gás natural”, diz a estatal, em comunicado divulgado ao mercado nesta sexta-feira (08/03).
Montante “insustentavelmente” alto
Embora diversas corretoras não tenham recebido bem a notícia sobre a política de dividendos da Petrobras, o diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Mahatma Ramos dos Santos, coloca esses cálculos em perspectiva.
Segundo Santos, o valor de R$ 72,41 bilhões pode ser inferior aos dividendos extraordinários pagos no último biênio (média anual de R$ 155,7 bilhões), mas são 12 vezes maiores do que a média observada entre 2003 e 2020 (R$ 5,9 bilhões).
A Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobras) lembra que o principal fator que levou a Petrobras a pagar “dividendos altos e insustentáveis” pelas diretorias em 2021 e 2022 foi a redução dos investimentos.
“A mesma política continua acontecendo na Petrobrás até o fim de 2023, investimentos muito baixos possibilitaram pagamento alto e insustentável de dividendos”, alerta a Aepet, em artigo assinado pelo seu presidente, Felipe Coutinho.
Em 2021 e 2022 a razão média entre os dividendos pagos e o investimento líquido foi de 804%, e no resultado consolidado de 2023 foi de 232,63%, enquanto entre 2005 e 2020 foi de 12,7%, em termos médios.
“Ou seja, a relação entre o pagamento de dividendos e o investimento líquido em 2023 foi 18 vezes mais alta se comparada com a média de 2005 a 2020”, aponta Coutinho.
Tal visão é compartilhada inclusive pelo jornalista Luis Nassif, em artigo publicado no Jornal GGN. “Em 2022, a Petrobras distribuiu todo seu lucro, uma irresponsabilidade absoluta em relação ao futuro da companhia (…) Ou seja, deixou de investir em novos campos, na transição energética, em novas tecnologias, na segurança, para beneficiar os acionistas”.
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Que coisa mais horrível é o vício da ganância.
Faz até o olho ser mais gordo que a própria pança de gananciosos.
Estão de birra com o governo no e a Petrobrás porque a ganância aloprada e doentia já domina o corpo e mente da maioria de acionistas.
Parece que não querem só ganhar muito, o que querem é ganhar muito e muito mais.
São os futuros donos redondos, que em breve estarão prestar a explodirem.
No passado já fui a favor de estatais serem transformadas em empresas de economia mista, como forma de melhorar sua governança e seu desempenho, com base no arcabouço normativo das S.A.’s. Hoje em dia, contudo, considero tal abordagem uma aberração, um centauro do capital (corpo estatal, mas cabeça privada), uma vez que o jogo político bruto feito pelo mercado e pela mídia, e sobretudo a indicação de lacaios dos bancos e privatistas para o Conselho, mais que anula qualquer vantagem do modelo. Logo, melhor robustecer os mecanismos de controle, sem todavia tolher as empresas estatais da necessária agilidade (usarem a mesma lei de licitações da administração direta, sem qualquer compromisso com eficiência e resultados, é uma aberração), do que entregá-las no todo ou em parte para entes privados, cujas prioridades são outras, como bem se vê no atual imbróglio.
(E, claro, precisa ser urgentemente desfeita a lambança do STF, que permitiu privatização de tudo, exceto a tabuleta da porta, sem aprovação do Congresso. Esta não só deve ser imprescindível, como deve se dar por maioria qualificada, em dois turnos, igual a uma PEC)