Petróleo, sim e não.

Algo que eu sempro levo em conta: a Venezuela tem a mesma população (30 MM) e as mesmas reservas de óleo (400 bi de barris) que a Arábia Saudita. No entanto produz 1/4 do que aquele país extrai. A racionalidade não está em extrair todo o petróleo e queimá-lo e aumentar o aquecimento global, mas em melhorar a distribuição de como isso é feito.

Há mecanismos de mercado para isso, e, destarte custos mais elevados de exploração, bastaria que o governo Chavez tivesse permitido há mais tempo a exploração por transnacionais (o que o novo governo futuro de lá, a ser instalado a partir de 2019, fará de qualquer jeito), que hoje a Venezuela estaria com o dobro do PIB e nenhum dos seus graves problemas econômicos.

Que o Mundo deve usar menos combustíveis fósseis é óbvio. E caminha para isso. Mas que cada país produtor de commodities têm o direito de extrair para si valor enquanto esse processo se encaminha, também deveria ser óbvio.

Há três anos atrás discutiu-se se o Equador pode ou não deixar companhias chinesas explorarem óleo. Na minha opinião pode e deve, desde que a operação seja feita com critérios de segurança. Porque não cabe a um país isolado a decisão sobre uso de combustíveis fósseis nem me parece justo que não possa financiar a conversão de sua economia para outras atividades.

Não vamos misturar decisões econômicas sobre produção e investimento (que são de um país) com nacionalismo estatista (que ao meu ver deveria ser extinto) com ambientalismo (que deve ser reforçado para âmbito mundial, assim como algumas questões tributárias que estão surgindo para frear a reconcentração de renda).

Porque isso não teria como dar certo.

Em resumo, meus pontos são:

1) é irrelevante se empresas estatais ou privadas exploram atividades produtivas, isso é apenas troca de portfolio, porque não existe estatal que não seja contrapartida de dívida pública. O importante é que a exploração seja ambientalmente segura e que se maximize para o governo brasileiro o valor presente líquido do fluxo de royalties, lucros e impostos.

2) em havendo mercado internacional de petróleo, cada país produtor tem o direito de usar suas reservas do melhor modo possível. Desde que não prejudique o meio-ambiente global com a exploração. (Desmatamento, poluição e pesca devem passar pelo mesmo crivo supranacional.)

3) a decisão de consumir combustíveis fósseis, no entanto, é independente da produção e é tomada em função tanto de custo como de responsabilidade com o futuro da Terra. Cabe encarecer o uso de hidrocarbonetos e/ou reduzir o custo de fontes alternativas, mas isso depende de coordenação global, não de decisões isoladas de países.

 

Redação

1 Comentário

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  1. A grande reserva venezuelana é de petróleo não-convencional

    Não dá para comprarar com as grandes reservas de petróleo convencional saudita. A extração de petróleo convencional da Venezuela ‘picou’, atingiu seu ponto de extração máxima, fenômeno que atinge todos os campos de exploração maduros. Isso já aconteceu com as reservas do Mar do Norte, com o campo El Cantarel no México, como os grandes campos convencionais do Texas, da Indonésia e vários outros ao redor do mundo.

    Até anos bastantes recentes, essas grandes reservas venezuelanas de óleos não-convencionais, os petróleos extra-pesados do cinturão do Orinoco, não eram computadas. Por decisão do governo Chaves, elas começaram a ser incorporados nas reservas oficiais anunciadas; como membro da OPEP, a Venezuela ganha cotas maiores de exportações dentro do cartel, de acordo com as reservas contabilizadas.

    Antes do anúncio oficial, a existência do petróleo extrapesado do Orinoco era conhecida e considerada como um recurso, mas não uma reserva. A diferença entre recursos e reservas dependem de duas variáveis econômicas: preço e tecnologia. Recursos são depósitos de matéria prima existentes e um sítio conhecido na natureza, reservas são recursos para os quais existe uma tecnologia viável para explorá-los, com um nível adequado de preços que viabilize sua exploração econômica.

    Quando os preços caem, as resevas anunciadas deveriam cair, mas não é isto o que acontece, por variadas razões. Reservas são ativos de uma companhia, elas levantam créditos baseadas nos ativos anunciados, então, elas “esquecem” de deduzir aquilo para o qual, elas não têm preços para viabilizar a extração. Outro caso tem a ver com as cotas de exportação da OPEP. Há quase trinta anos, a Arábia Saudita estabeleceu o nível atual de suas reservas contabilizadas; na época, houve um salto nas reservas sem nenhuma nova descoberta significativa anunciada, era uma jogada interna de cotas da OPEP, outros membros fizeram aumentos de reservas sem novas descobertas anunciadas. De lá para cá, os sauditas extraíram petróleo adoidado, sem anunciarem novos campos, mas o nível de reservas se manteve o mesmo.

    Por fim, cabe uma observação final sobre o petróleo. Como energético, sua exploração está condicionada a uma outra restrição: a quantidade de energia gasta na sua obtenção. O balanço energético do processo tem de ser positivo, a energia retirada tem de ser maior do que a energia investida, para não tornar a operação contraproducente. São enormes os gastos energéticos na extração de óleos muito viscosos, são também enormes os gastos energéticos no refino dos óleos extrapesados.

    Um abraço!

    PS. Na prática, a OPEP é um cartel de empresas estatais, deveria se chamar OEEEP, assim como são estatais empresas de grandes países exportadores fora da OPEP, como México, Rússia e Noruega.

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