Retribalização ou a volta da tribalização e seu uso para a falência das organizações partidárias (Parte 2).

Parte 2: Uma aplicação do conceito a derrota dos democratas na eleição norte-americana.

As eleições norte-americanas foram um exemplo típico da falência do esquema político montado em torno do conceito de retribalização. Muitos cientistas sociais até hoje não entenderam o processo que ocorre na política atual, a falta de sensação de representatividade de candidatos que se apoiam em esquemas eleitorais baseados em minorias (ou mesmo em pseudomaiorias), que somadas aparentemente dão a maioria nas eleições, são despresados em relação a discursos mais inclusivos inclusive aqueles que não abrem mão da noção de classes sociais por mais anacrônicos que possam parecer

Os que podemos denominar esquemas políticos baseados no conceito das “cibertribos”, já descritos na parte 1 deste artigo, que acham estes mesmos como uma nova forma de democracia participativa que poderiam através de superposição de diversas superestruturas atingindo uma verdadeira democracia participativa. A concepção do partido REDE é mais ou menos baseada nisto e tem se mostrado mais um fracasso do que qualquer outra coisa.

Porém o problema da concepção da grande superestrutura que abraçaria as demais tem diversos problemas inviabilizam esta organização e não permitem que o conceito e a organização da primitiva tribo transfiram-se ao grande congraçamento de tribos, pois vamos a eles e no fim encaixar a crítica ao teu artigo.

Primeiro, e o mais básico, que a tribo primitiva tinha uma característica humana que não conseguimos transferir para as “cibertribos”, o contado direto entre os membros e estabelecimento de laços de irmandade e confiança entre os seus membros. Na tribo primitiva a confiança entre os membros e ao chefe era baseada no conhecimento direto além do discurso da atitude dos mesmos.

Nas “cibertribos” enquanto elas estão se constituindo e os ingressantes são novos nesta superestrutura confiam-se no discurso inicial, não se procurando contradições nas chefias das tribos ou reais ou aparentes traições nestes chefes. À medida que a tribo vai evoluindo as desconfianças e as contradições aparecem e com elas o segundo problema, a nucleação.

Com o aumento do tamanho da tribo, pequenas diferenças entre seus “chefes” iniciais e o surgimento de lideranças que além de pensarem um pouco diferente que no início, há uma tendência natural de surgirem os embates ideológicos ou até mesmo de egos. Criando um impulso centrífugo que pode gerar a divisão do grupo. Na tribo primitiva, além do constrangimento físico de necessitar de outro espaço físico para o grupo se dividir, havia outras formas de resolução de disputas das mais diversas formas, coisa que nas “cibertribos” não existe.

Porém se parasse por aí os problemas da nova organização, temos nas “cibertribos” duas formas de manifestação do individualismo são manifestadas. O individualismo que é conhecido por todos, uma característica humana que é exacerbada quando não há um controle do grupo sobre o indivíduo, e cria-se algo ainda pior, no desenvolvimento das “cibertribos” incrementa-se um individualismo de objetivos de uma tribo em relação a outra.

Esta última forma de individualismo tribal, faz com que os membros de cada grupo que se comunicam somente em torno de seus problemas terminam de os supervalorizarem e torna-los prioritários em relação aos demais. Quanto mais antigo for o grupo, quanto mais tradição na luta pelos seus direitos específicos em relação aos direitos gerais, será mais difícil a união.

Para exemplificar melhor vamos utilizar o exemplo da última eleição norte-americana, no início no lado democrata havia dois grandes candidatos, Bernie Sanders, que apesar de ser membro do partido democrata estava fora do “mainstream” do partido, e Hillary Clinton que adotava claramente o discurso das grandes tribos, ou seja, a união entre a tribo das mulheres, dos negros e dos latinos, pensando que somando as três certamente seria vitoriosa.

Sanders por se negar a um discurso de tribos, adotando um discurso mais tradicional de classes sociais, foi preferido pelo grande público em relação a Hillary, porém sofreu resistência de tribos pois esta aparentemente de acordo com o discurso de reparação dos descendentes de ex escravos. Em todas as pesquisas tendo um bem mais claro discurso de esquerda que beneficiaria os negros pobres do USA e conseguia intenções de voto da população como um todo, até em grupos tradicionais republicanos, porém devido ao negar a algumas tribos direitos especiais perdeu o voto exatamente na prévia do partido Democrata que está entranhado no discurso tribal.

Com a exclusão de Sanders, Hillary continuou com o velho discurso segmentado preferido do Partido Democrata, priorizando direitos das mulheres, dos LGTBs, dos negros e latinos individualmente. O seu discurso era velho e cansado e por motivos pessoais e da evolução da vida política da mesma ela não conseguiu nuclear em torno do seu nome das grandes tribos citadas.

Agora a pergunta que resta, e porque Trump ganhou? Simplesmente porque ele notou que o discurso de Hillary não atingia um grupo remanescente que não está organizado em termos tribais e era excluído das existentes, logo o mesmo eleitor que aceitava Sanders, mesmo sendo bem mais a esquerda, não aceitava Hillary.

A conclusão resultante é que paradoxalmente o voto de camadas sociais mais desfavorecidas, ou migrou em parte para Trump ou simplesmente não votou, pois o discurso de Hillary nunca foi um discurso direcionado a classe trabalhadora, mas sim as tribos em que nelas muitos pertenciam, como as mulheres, mas simplesmente não se identificavam como uma tribo.

Vanguarda não significa simplesmente dizer, eu sou liberal (caso norte-americano) ou eu sou de esquerda (caso europeu em geral), vanguarda é apresentar posições inclusivas de vanguarda e executá-las.

Redação

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