A ‘solução’ dos empresários omitida pelos jornais, por Janio de Freitas

A reviravolta política obriga grupos que dirigem o país a encontrar uma saída rápida para seguir desmonte do estado 
Reviravolta política obriga grupos que dirigem o país a encontrar uma saída rápida para seguir desmonte do e
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
 
Jornal GGN – A reviravolta política, induzida pelas delações da JBS e, mais recentemente, pelo tumulto em Brasília, obriga os grupos que dirigem o país a encontrar uma saída rápida para a crise. 
 
Nas últimas semanas alguns nomes têm sido aventados como alternativas à um pacto de novo governo capaz de sustar a crise política: Tasso Jereissati, Fernando Henrique Cardoso e até Nelson Jobim. A questão é que, por traz dessas opções que aparecem para a sociedade está à procura de um acordo para seguir as reformas de desmonte do estado, como a trabalhista e a da Previdência. 
 
Na coluna deste domingo, na Folha, Janio de Freitas alerta que os manifestos dos principais jornais do país omite essa “solução” calculada pelos empresários e, ainda, que setores desse grupo colocam até como prioridade manter Temer e Meirelles.
 
Folha de S. Paulo
 
Janio de Freitas
 
Manifestos de associações nos jornais omitem ‘a solução’ dos empresários
 
Do tumulto em Brasília para cá, a crise pareceu acalmar-se um pouco. Mas piorou. Inclusive nas alegadas ações por uma saída.
 
Os manifestos que as associações empresariais estão publicando, em páginas inteiras dos jornais, correspondem à pressão combinada que o empresariado forte faz sobre o Congresso e parte do Judiciário. Mas as publicidades omitem “a solução” exposta por empresários nos diálogos políticos.
 
Tasso Jereissati e Fernando Henrique, embora muito citados em imprensa/TV, são alternativas, não preferências. A prioridade é a permanência de Michel Temer com Henrique Meirelles. O vínculo partidário muito rígido de Jereissati e Fernando Henrique representa, para os empresários entregues à ação política, o risco de que cedam à perspectiva das eleições em 2018. Seriam ambos propensos a buscar atenuantes à insatisfação do eleitorado trabalhador, mais do que a fazer as reformas trabalhista e da Previdência nos termos desejados pelo empresariado.
 
Os manifestos ocupam-se da má situação do país e da necessidade de superá-la. Apesar disso, o que os textos exalam é o propósito de obter aquelas reformas. Tudo é dito em função delas. E, na prática, a permanência de Michel Temer e seu grupo é o oposto do “entendimento necessário” que falam os textos. O que é crise para dezenas de milhões é visto por outros como oportunidade.
 
Sumiram as citações à exigência, para candidaturas a presidente, de filiação partidária seis meses antes da eleição. Com isso, Nelson Jobim torna-se presença constante no noticiário, em justa retribuição às suas relações jornalísticas. Mas as manobras que burlaram a concorrência para construção da base naval e produtora de submarinos no Rio, entregando-a à Odebrecht como se fora empresa estrangeira, podem sair do silêncio a qualquer hora. Por envolver a Marinha, a Lava Jato finge que o assunto não existe -como fazia com a corrupção de gente do PSDB. Mas nem tudo pode ser sempre controlado por lá- como se viu com a corrupção de gente do PSDB.
 
Quando ministro da Defesa, Jobim esteve, com Roberto Mangabeira Unger, no centro das negociações de investimentos militares altíssimos (e, em grande parte, duvidosos como estratégia). Dado como proponente dos caças franceses e, depois, dos americanos, Jobim não os fez vencedores. A FAB conseguiu impor sua preferência pelo acordo com os suecos. Mas a contratação e suas piruetas para a base e os submarinos, inclusive o nuclear, efetivaram-se. Com ausência de explicações muito além da necessária ao aspecto militar. Jobim já teve a honra de ao menos uma citação na Lava Jato. Se candidato, à indireta ou à direta, pode esperar mais, com intenções decisivas.
 
Mais político do que empresário, e empresário mais rico do que a grande maioria dos empresários brasileiros, Jereissati não está imune a cobranças variadas. Lá pelos anos 1990, assinei textos na Folha sobre um sistema de sonegação de impostos no Ceará. Numerosas empresas usavam uma espécie de central contábil, na qual notas fiscais, frias ou não, e outros documentos entrelaçavam-se para a mágica de reduzir ou evaporar impostos. Empresas de Tasso Jereissati eram parte importante do sistema. Como nem o seu prestígio de governador conseguia parar as investigações da Superintendência da Polícia Federal no Estado, Jereissati obteve de Romeu Tuma, então diretor da PF, a substituição do delegado-superintendente. Pronto. Mas o caso pode voltar à superfície.
 
Apesar de pouco citados, e de só contarem com trabalho de apoiadores discretos, dois nomes desfrutam de muito mais prestígio público do que os políticos mais citados para substituir Temer: Ayres Britto, ex-ministro do Supremo, com ampla aceitação entre os menos desinformados, e alto conceito ético e cultural; e o também ex-ministro Joaquim Barbosa, com ampla aceitação pública, mas temido pelos políticos. Nessa linhagem, Cármen Lúcia é o óbvio desde o primeiro momento -exceto na Câmara e no Senado.
 
*
 
Brasileirinhas:
 
1) Aécio Neves gastou horas de explicações, mas sem explicar por que os R$ 2 milhões tomados de Joesley Batista, “para pagar advogado”, foram parar com o filho do senador Zezé Perrella, e não com sua defesa.
 
2) Raul Jungmann deu como mal-entendido sua afirmação de que o Exército foi chamado pelo deputado Rodrigo Maia, e não por Temer. Bem entendido, o Exército vai para as ruas sem que o ministro da Defesa precise saber sequer quem o pediu.
 
3) Mais um massacre, dez mortos, feito pela PM do Pará. A polícia do Pará precisa ser presa. 
Redação

12 Comentários

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  1. Analise que não faz jus à

    Analise que não faz jus à experiencia de Janio de Freitas. Esqueceu que na escolha por eleição indireta existe votação,  porque parlamentares que tem o poder para escolher um Presidente da Republica votariam em juizes  se no Congresso existem

    nomes viaveis para a disputa?

    1. Porque no momento em que toda
      Porque no momento em que toda a politica partidaria está na lama, totalmente desmoralizado, onde o nome de qualquer politico tradicional pode aparecer no próximo vazamento de alguma delação premiada, um nome de fora do circuito politico-partidario passa a ser uma aposta aceitavel, desde que este seja capaz de se compor com os interesses de seus patrocinadores, ou seja trabalhar para aprovação das reformas.

      1. Essa é a narrativa que

        Essa é a narrativa que interessa à GLOBO, o Congresso NÃO está totalmente desmoralizado, há 139 nomes investgados, então existem mais de 400 sem qualquer citação e ser investigado não significa estar na lama, há excelentes congressistas

        e CITADO em delação não quer dizer algo que inviabiliza um parlamentar. Essa é uma campanha com onbetivos  claros de

        CRIMINALIZAÇÃO DE TODA CLASSE POLITICA par transferir o poder para as corporações juridicas.

    2. Muito interessante questão.

      Muito interessante questão. Seria para o Congresso a suprema desmoralização, reunir-se para votar como carneirinhos no nome que os empresários e suas mídias lhes mandem votar, nome que não poderia ser um da classe política porque a classe política, inclusive os congressistas que vão votar, estariam desmoralizados por denúncias e suspeitas de corrupção, e não poderiam ser candidatos. Não existe no mundo uma humilhação tão grande como essa, uma aceitação bovina da canga de bandido, bandido de quem os grandes e honestos empresários só querem o voto e nada mais.

  2. Papa Francisco em Gênova:

    Papa Francisco em Gênova:

    – Quando a economia passa para as mãos de especuladores, tudo se estraga. Vira uma economia sem rosto, sem identidade”

    – “Um bom empresário não é especulador”

    -“Quem pensa que resolve os problemas da empresa demitindo as pessoas também não é um bom empresário”

    – “Às vezes, pensam que uma pessoa trabalha bem somente porque recebe salários. Isso, na verdade, é um grave desestímulo porque nega a dignidade e a honra que o trabalho proporciona”

    – “Em torno do trabalho, todo o pacto social se edifica. Quando não se trabalha, ou se trabalha mal, pouco ou muito, é a democracia que entra em crise”

    texto da notícia (destques meus)

    http://ansabrasil.com.br/brasil/noticias/vaticano/noticias/2017/05/27/em-genovapapa-critica-demissoes-e-mercado-de-trabalho-atual_bf1bb002-1907-49f9-ac45-dc6758c667ec.html

    Em Gênova, Papa critica demissões e mercado de trabalho atual

     (ANSA) – O papa Francisco se reuniu neste sábado (27) com mais de 3,5 mil operários italianos durante uma visita a Gênova e fez críticas ao mercado de trabalho e ao capitalismo.   

    “Quando a economia passa para as mãos de especuladores, tudo se estraga. Vira uma economia sem rosto, sem identidade”, afirmou Francisco em uma fábrica da empresa Ilva em Cornigliano. “Um bom empresário não é especulador”, disse. “Quem pensa que resolve os problemas da empresa demitindo as pessoas também não é um bom empresário”.

    De acordo com Francisco, o mercado atual está em “risco” porque não compreende o significado do trabalho. “Às vezes, pensam que uma pessoa trabalha bem somente porque recebe salários. Isso, na verdade, é um grave desestímulo porque nega a dignidade e a honra que o trabalho proporciona”, comentou.

    “Em torno do trabalho, todo o pacto social se edifica. Quando não se trabalha, ou se trabalha mal, pouco ou muito, é a democracia que entra em crise”, criticou. A reunião com os trabalhadores de Gênova foi o primeiro compromisso do Papa na cidade. Francisco também visitou a catedral local e se encontrou com imigrantes e detentos. (ANSA)

    ***

    ver ainda matéria no sites dos jornais Corriere della Sera e La Stampa:

    http://www.corriere.it/politica/17_maggio_27/papa-all-ilva-genova-quando-economia-diventa-speculazione-spietata-a246eed0-42ae-11e7-bf8f-efa16b87b247.shtml

    http://www.lastampa.it/2017/05/27/vaticaninsider/ita/vaticano/il-papa-a-genova-tappa-allilva-e-appello-contro-la-disoccupazione-TJC2KnTZyv2qIyQqyXklFK/pagina.html

     

     

     

     

  3. Ayres Brito, Joaquincas Barbosa e Carem Lúcia na Preisência?

    Ayres Btrito, Joaquincas Barbosa ou Carmem Lúcia na Presidência da República é como um jumento sobre uma tribuna ou uma hiena sobre um púlpito. Estariam mais perdidos do que cego em tiroteio.

  4. “ELEIÇÕES IN-DIRETAS”: o PT deve compor c/”golpistas”?

    “ELEIÇÕES IN-DIRETAS”: O PT DEVE OU NÃO (RE)COMPOR COM OS… “GOLPISTAS”?!

    Por Romulus & Núcleo Duro

    – À primeira vista, a resposta parece evidente, não?

    Contudo…

    – Se levadas em consideração todas as possíveis implicações de tal decisão, trata-se, sem dúvida nenhuma, do maior dilema ético-político desde o grande pacto que antecedeu a redemocratização.

    – Parábola:

    “Assaltavam o Jararaca grandes dúvidas: o que seria melhor para ele? E para sua família? E para toda a tribo?

    Teria de escolher entre:

    (1) a “cruzada”, justíssima e moralíssima, ou

    (2) aquele pacto que faria até sua mãe cuspir em seu rosto quando voltasse com a “boa” nova”. 
     

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  5. Há dias,

    bato nessa mesma tecla. Tanto que já ouvi de empresários que fosse para obter as reformas com Meirelles, aceitariam Lula em mandato tampão, desde que se comprometesse a não se candidatar em 2018, pois tem boa interlocução com Meirelles e com os sindicatos. Nossos ouvidos sempre pinicos. Mas mostra até aonde chega a ânsia pelas reformas.

  6. Além de não entenderem que

    Além de não entenderem que estão destruindo o país e a eles mesmos, ficaram sendo nossos únicos interlocutores internacionais, auto-autorizados. O chanceler é um simples boneco. O Itamaraty não existe mais. A situação aqui dentro não os incomoda, se não passar de certo mal-estar que possa ser paralisante. O que os incomoda é ter que sofrer pressões externas e ouvir reprimendas por não estarem conseguindo desmontar o país como ficaram de fazer.

  7. Acordão

        Para o “pessoal do PIB” o que importa é que as “reformas” passem, nada significando quem as assine, pode ser até Temer , tanto faz , eles assim como o”governo” ( incluindo Congresso ), pouco ou nada se importam com manifestações, aliás até são uteis para seus propósitos, melhor ainda quando badernadas.

  8. Tive todos os meus

    Tive todos os meus comentarios excluidos pelo Blog,em cima do artigo de Janio de Freitas.O impressionante de tudo isso vai a seguir:Quem me deu a informação que o genro do Ministro Ayres de Brito,não é flor que se cheire,inclusive envolvidos em malfeitos, foi o Blog.Quem enfatizava que  Ayres de Brito é um poeta de literatura de Cordel,também foi Blog.Nassif nominava os posicionamentos de Ayres de Brito sobre a tal “liberdade de expressão”,como a explanação do analfabetismo arrotado da maneira mais pura.Recordo-me de uma que o patetismo chegou perto:”Liberdade de expressão se combate com mais liberdade de expressão”.A proposito,o Ministro Luiz Roberto Barroso,apanhou aqui merecididamente,dia sim,outro também,abriu a brecha para a discussão de eleição direta.Quem mudou?Eu,Nassif,Ayres de Brito ou Barroso?Acreditem se quiser.

     

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