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As matérias para serem lidas e comentadas.

Luis Nassif

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  1. Aécio e Rio: um caso de amor não correspondido

    Do Tijolaço

     

    3 de agosto de 2014 | 05:10 Autor: Miguel do Rosário    

    cervantes

    Reproduzo abaixo uma deliciosa crônica política do Paulo Nogueira, sobre a relação entre Aécio e a cidade maravilhosa.

    Aécio e o Rio: um caso de amor não correspondido

    Por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo.

    Ao ver os números do Ibope em alguns estados, me ocorreu o seguinte: parece haver, no Rio, um caso de amor não correspondido.

    Me refiro a Aécio.

    Segundo o Ibope, no Rio ele tem 15% das intenções de voto contra 35% de Dilma.

    Poucos políticos, na história moderna nacional, e talvez mesmo antiga, demonstraram tanto amor quanto Aécio pelo Rio.

    É possível que Aécio tenha mais horas passadas no Rio do que em sua terra natal, Minas.

    É no Rio que ele se diverte. É no Rio que ele goza a vida. É no Rio que Aécio é Aécio, seja aparecendo em fotos festivas, seja sendo capturado por uma câmara de vídeo alta madrugada, dando gorjeta de 100 reais numa padaria [Tijolaço: não foi padaria, foi o bar Cervantes].

    Foi no Rio que ele casou, numa cerimônia em seu apartamento no Leblon.

    Se fôssemos fazer uma imagem amorosa, teríamos o seguinte. Minas é a esposa de Aécio, tediosa e fiel, diante da qual ele cumpre obrigações e segue protocolos.

    O Rio é a amante, aquela que faz seu coração disparar e os olhos arregalarem.

    Mas tamanha paixão não encontra correspondência, sugere o Ibope.

    Observemos um paralelo. Brizola era maluco pelo Rio, como Aécio. E um estrangeiro lá, como Aécio.

    Um gaúcho no Cristo Redentor.

    Só que Brizola era amado. Foi eleito governador duas vezes mesmo com Roberto Marinho fazendo tudo para derrotá-lo.

    Por que essa diferença?

    Uma boa hipótese, seguindo na imagem amorosa, é que os cariocas acham que Aécio é o amante que quer apenas se divertir, e nada mais.

    Brizola não. Era um marido extraordinariamente dedicado. Trabalhou quanto pôde, contra toda a força do conservadorismo, por um Rio melhor e mais justo.

    Não era personagem de colunas sociais. Não era visto e fotografado nas celebrações da granfinagem.

    E subia o morro.

    Aécio não é Brizola, embora coincidam na devoção ao Rio.

    E é uma pena que não seja: Brizola faz falta, com sua coragem intrépida no combate à iniquidade.

    Aécio, repito, não é Brizola, infelizmente.

    Não sendo Brizola, não pode aspirar aos votos do Rio – como sugere o Ibope que lhe dá apenas 15% das intenções de voto.

    O carioca gosta de praia e de futebol – mas gosta ainda mais de quem trabalha duro pelo bem de sua cidade maravilhosa.

    http://tijolaco.com.br/blog/?p=19620

     

  2. O esforço da Veja para varrer o aecioporto para debaixo do tapet

    Do Tijolaço

     

    3 de agosto de 2014 | 04:50 Autor: Miguel do Rosário       bessinha09876

    Que a Veja se tornou um fenômeno antes psiquiátrico do que propriamente midiático, disso já sabíamos.

    No entanto, ela se supera a cada dia.

    Do psiquiátrico ela tem migrado para o escatológico.

    O novo “escândalo” fabricado por ela revela o desespero de varrer o aecioporto para debaixo do tapete.

    Do que se trata o escândalo?

    Um vídeo com parlamentares aliados passando instruções ou apenas conversando com figuras aliadas, num preparativo para uma CPI.

    CPI é um evento político. Tem situação e oposição.

    A situação defende os aliados do governo.

    A oposição ataca os aliados do governo.

    Escândalo seria se flagrássemos Alvaro Dias tentando ajudar Graça Foster. Aí sim, todos ficariam espantados!

    Tentar criar uma CPI da CPI corresponde ao apogeu do ridículo. É como ver um tucano devorando a própria cauda.

    Ora, se a oposição tem espaço garantido na CPI, mesmo minoritário, então ela que faça as perguntas que quiser fazer.

    Como fizeram, aliás.

    A oposição fez perguntas incômodas a Graça Foster, a Sergio Gabrielli, a Nestor Cerveró.

    Eles já foram diversas vezes ao Congresso. Porque há uma redundância. Há duas CPIs, sobre o mesmo tema, acontecendo ao mesmo tempo.

    Cada vez que Graça Foster vai a CPI, para repetir a mesma coisa, ela deixa de trabalhar, e isso atrapalha a Petrobrás.

    Petrobrás cuja produção tem batido recorde e cujas ações se valorizaram mais de 70% nos últimos meses.

    Foster, Gabrielli, Cerveró, estiveram várias vezes no Congresso, em CPIs.

    Os tucanos é que nunca dão as caras em CPIs que os investigam.

    Como eles são blindados e protegidos pela mídia, quase não há CPI investigando tucano.

    E quando há, a mídia faz de tudo para abafá-la, até porque, sempre que se investiga tucano, a mídia entra na história. Como réu.

    Foi o caso da CPI do Cachoeira. Mais um pouco, e se tornaria uma CPI da mídia, porque o Brasil estava descobrindo as relações íntimas entre a bandidagem e o jornalismo.

    É hora de chamar Aécio Neves numa CPI para explicar porque construiu aeroporto na terra de seu tio, e porque este foi o aeroporto mais caro do Brasil.

    É hora de chamar os chefões da Globo para explicar a sonegação de R$ 615 milhões, feita através de uma “intrincada engenharia financeira para ludibriar a Receita”, segundo as palavras do auditor fiscal responsável pelo processo.

    A Petrobrás é importante demais para ser alvo de abutres que sempre quiseram destruí-la.

    A Petrobrás é uma empresa mista regulada, supervisionada, monitorada, por diversos órgãos, nacionais e internacionais.

    Se existe uma coisa a ser investigada na CPI da Petrobrás é o afundamento da plataforma P-36.

    Era a maior plataforma do mundo. O prejuízo foi incalculável.

    Morreu gente.

    Brasil quer saber como afundou a P-36

    Enquanto Gabrielli e Graça Foster compraram refinarias, construíram outras, e apostaram no crescimento da produção de petróleo bruto de um lado e refinado de outro, os tucanos venderam metade da Petrobrás para fundos abutres da Bolsa de Nova York.

    Não descobriram petróleo. Não fizeram nem compraram refinarias.

    Apenas privatizaram, sucatearam e afundaram a maior plataforma do mundo.

    Hoje uma boa parte do lucro da Petrobrás vai para bilionários estrangeiros.

    Esses mesmos bilionários fazem pressão, através da mídia, para que a Petrobrás dê lucro rápido e fácil, para eles gastarem em festinhas, iates e… jatinhos.

    Jatinhos que pousam em aeroportos particulares construídos, no caso de Minas Gerais, com dinheiro público.

    http://tijolaco.com.br/blog/?p=19612

  3. 1% mais rico de SP abocanha

    1% mais rico de SP abocanha 20% da renda da cidade; há dez anos eram 13%

    As pessoas ricas esto cada vez mais ricas em So Paulo. Se o seleto grupo do 1% mais endinheirado da populao j embolsava R$ 13 em cada R$ 100 ganhos na cidade em 2000, dez anos depois sua renda deu um salto: passou a abocanhar R$ 20 em cada R$ 100 do montante arrecadado -vindo de salrios, aluguis e investimentos.

    Os dados fazem parte de um levantamento indito da prefeitura que compara os dois ltimos Censos do IBGE (2000 e 2010).

    No mesmo perodo, outras camadas da populao, como os 50% de menor renda, no experimentaram prosperidade parecida. Embora estejam ganhando mais hoje, a participao deles no “ordenado paulistano” ficou praticamente estagnada, passando de R$ 11,65 para R$ 10,57 em cada R$ 100.

    Para fazer parte do 1% mais rico, preciso ter uma renda individual de ao menos R$ 15 mil. Essa fatia acomoda pouco mais de 100 mil pessoas, entre empresrios, altos executivos, profissionais liberais e gestores do prprio patrimnio. A populao atual de So Paulo de 11,8 milhes.

    O descolamento do super-ricos e o achatamento da classe mdia so reflexos de uma So Paulo mudada, que se transformou em metrpole de servios, importante centro financeiro e sede de grandes multinacionais, pouco parecida com a cidade industrial de algumas dcadas atrs.

    A mudana no perfil dos empregos, com o surgimento de superexecutivos e novos empresrios da indstria criativa, ajuda a explicar as mudanas no topo. J a perda de postos na indstria, substituda pela multiplicao das ocupaes de baixa remunerao em servios terceirizados, d uma ideia de qual a nova situao na base.

    Est em curso, tambm, uma migrao seletiva: enquanto profissionais ultraqualificados vm para So Paulo em busca de melhores remuneraes e opes de lazer, pessoas de baixa renda fogem do custo de vida elevado. Essa migrao completa o quadro de alteraes por que a cidade passou e vem passando, segundo os especialistas ouvidos pela sopaulo.

    SEM INDSTRIA, COM GLOBALIZAO

    O gegrafo Toms Wissenbach, responsvel pelo levantamento desses dados na prefeitura, credita a concentrao de renda modificao operada nos empregos da cidade.

    “Desde os anos 1970, So Paulo vem perdendo suas indstrias e com elas os empregos que pagavam bons salrios a pessoas com escolaridade mdia”, afirma Wissenbach, que diretor do Deinfo (departamento de informaes), ligado secretaria de Desenvolvimento Urbano.

    Por outro lado, diz Wissenbach, hoje a economia paulistana est concentrada nos setores de servios, que produzem, em uma ponta, superempregos para executivos e consultores e, na outra, ocupaes de baixa remunerao em funes terceirizadas como limpeza e telemarketing.

    Nos ltimos dez anos, a ateno das multinacionais se voltou para os pases em desenvolvimento como o Brasil, e muitas dessas empresas abriram filiais na cidade de So Paulo, afirma Rodrigo Soares, diretor da Hays, uma consultoria especializada em recrutamento de altos executivos.

    Como a legislao trabalhista no favorece a vinda de profissionais estrangeiros, os executivos brasileiros acumularam funes e passaram a ganhar bem mais. “Essa versatilidade levou-os a ter uma compensao financeira.”

    Assim, diretores-presidentes que em 2005 recebiam salrios de at R$ 25 mil por ms na cidade de So Paulo, em 2010 poderiam chegar a R$ 70 mil, segundo o Datafolha. Hoje, essas remuneraes passam dos R$ 90 mil —sem falar nos bnus e benefcios.

    Mas h outros fatores operando o milagre da multiplicao das rendas altssimas, avalia o professor de economia Otto Nogami, do Insper (instituto de ensino). “Empresas que oferecem novos servios ligados ao mundo da tecnologia e da comunicao esto crescendo rapidamente.”

    As novas empresas se expandem, e, junto com elas, a renda de jovens empresrios como Guga Guizeline, 32, que organiza eventos para “aproximar marcas de pessoas”. Ele faz festas promovendo de “lanamento de prdio at marca de camisinha”.

    Guga vem de uma famlia de nvel “superbom”, como ele diz. Seu pai sempre foi funcionrio do setor financeiro, rea em que ele prprio tentou a sorte. H seis anos, porm, depois de trabalhar com marketing e investimentos, comeou a fazer eventos corporativos.

    VIRADA DEMOGRFICA

    O urbanista Kazuo Nakano v mais uma explicao para o aumento da renda dos mais ricos: So Paulo “passa por uma virada demogrfica”. Pessoas ultraqualificadas esto vindo de outros lugares para c, enquanto a populao mais pobre migra para fora da cidade em direo regio metropolitana, devido ao aluguel e o custo de vida altos.

    Nogami, do Insper, faz a mesma anlise: no longo prazo, a tendncia que indivduos de renda maior, como empresrios e executivos de alto escalo, procurem locais com melhor infraestrutura, com mais opes de lazer. “So Paulo continua representando o sonho de consumo para essas pessoas, apesar da insegurana”.

    A questo da desigualdade, gerada por um modelo econmico em que a renda dos mais ricos cresce mais rpido do que a atividade econmica, foi realada com a publicao, em 2013, de “O Capital no Sculo 21″, do francs Tomas Piketty. O livro, que defende a taxao de grandes riquezas, bateu recorde na lista dos mais vendidos do site Amazon e suscitou um debate acalorado em milhares de artigos de jornais e blogs do mundo todo.

    Por aqui, o economista e ex-presidente do Ipea Mrcio Pochmann defende a tese de que est em curso uma “polarizao da sociedade” brasileira, em que os muito ricos e os muito pobres melhoram de vida, mas a classe mdia fica olhando a banda passar.

     

    Esse cenrio tende a ser mais acentuado em lugares onde a economia se baseia no setor de servios, especialmente os financeiros, como So Paulo, diz o especialista. Por isso, afirma, apesar de a desigualdade ter se estabilizado na cidade, “existe uma corroso da renda da classe mdia, que fica numa camada entre os 40% mais pobres e os 20% mais ricos”.

    “O que ns vemos em So Paulo o que vem acontecendo no mundo inteiro capitalista, mais fortemente nos EUA, e em menor grau na Europa”, diz o economista Jos Roberto Mendona de Barros, que foi secretrio de poltica econmica da Fazenda no governo Fernando Henrique (1995-2002).

    Segundo Barros, os muito ricos so compostos por dois grupos. Em um, a receita vem de rendas, como de aluguis, aplicaes financeiras e juros. O outro formado por quem ocupa papis estratgicos nas empresas e detm altos salrios. ” uma caracterstica do capitalismo contemporneo, neoliberal: os altos capitalistas rentistas e os altos profissionais.”

    Por outro lado, as polticas distributivas que vm sendo aplicadas pelo governo do PT, como os aumentos salariais e bolsas diversas, afetaram negativamente a renda de todos os ricos, menos dos muito ricos, diz Barros.
    “Por isso se v uma radicalizao violenta da base social e uma reao das classes altas contra a preferncia pelos pobres que o PT adotou.”

    “Eles [os muito ricos] vivem a cidade, frequentam exposies, concertos e eventos na casa de outros milionrios, mas esto cercados de seguranas”, diz Stella Susskind, presidente da Shopper Experience, uma consultoria de marketing para marcas de luxo. “No por culpa deles. Vivemos uma guerra civil neste pas”.

    Quando o assunto consumo, Susskind explica o mercado com uma anedota: “Tenho uma cliente que diz: ‘com meus amigos milionrios, as viagens so voltadas para as compras; com os bilionrios, as compras ficam de lado e geralmente vamos de jato particular; com meus amigos biliardrios, comprar, s se for obra de arte.”

    DISCRETOS X EXUBERANTES

    Milionrios, bilionrios, ou biliardrios, no importa. Eles moram e frequentam os mesmos lugares. Restaurantes como Spot e Bilboquet, destinos tursticos como Grcia e Ibiza e os shoppings Cidade Jardim, JK e Iguatemi, todos no sudoeste da cidade, onde ficam bairros como Jardins, Pinheiros, Itaim e Moema.

    E como um rico se diferencia de outro rico? Exclusividade a palavra. “Se uma amiga tem um relgio Breitling, a outra vai querer um diferente, com fundo rosa, por exemplo. H uma aspirao de demonstrar a personalidade”, diz a consultora.

    Quando as “fortunas so antigas”, no entanto, as pessoas so mais discretas. “A competio para ver quem tem a obra de tal artista, para mostrar em qual universidade do exterior os filhos vo estudar.”

    A ltima tendncia em frias de luxo, segundo Stella, mandar as crianas esquiarem na montanha Snow Mass, em Aspen, nos EUA.

    Para os adultos, a pedida deste ano a Grcia, alm de ilhas exclusivas na Flrida, onde h condomnios “carssimos”, e destinos europeus em geral. Para o pessoal da velha guarda, o “objeto de desejo” continua sendo a Frana, mais especificamente Cote d’Azur e Saint Tropez.

    H tambm os ricos com estilos mais exuberantes, como o de Val Marchiori, que figurou no reality show “Mulheres Ricas”. Um tipo “total emergente, novo rico que se afirma pelo consumo”, explica Susskind.

    Entre os homens, os sinais de ostentao que do pinta de riqueza nova podem vir na forma de aceleradas com carres na porta dos restaurantes da rua Amauri, no Itaim Bibi -ou no uso de camisas polo “com um cavalo enorme” bordado no peito, diz o empresrio R., que no quis se identificar.

    Mas ostentao pouca bobagem para os ricos de bero. Quando a coisa fica sria no Instagram, d-lhe foto de pratos com trufas gigantes (ou lagostas enormes), de preferncia em restaurantes como a rede Nobu, conta R. Sem falar nos selfies em academias de ginstica badaladas. “Est rolando uma onda de fitness de uns dois anos para c que uma loucura.”

    O sonho de consumo de R. hoje uma BMW da srie trs, mas “o legal mesmo no gastar com porcaria, para viver bem e com pouca preocupao”.

    http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2014/08/1494444-1-mais-rico-de-sp-abocanha-20-da-renda-da-cidade-ha-dez-anos-eram-13.shtml

  4. “Foram 3 bilhões e 500

    “Foram 3 bilhões e 500 milhões desviados da saúde em seis anos”

    Josely Pontes Ramos é promotora de saúde do Ministério Público e, em 2010, ficou conhecida nacionalmente por entrar com ação civil para investigar os gastos com saúde durante o mandato do ex-governador Aécio Neves. O foco de investigação eram R$ 3,5 bilhões repassados à Copasa entre 2003 e 2008. Em meio à procura de provas, a promotora descobriu que a Companhia não recebia o dinheiro.

    A promotora, assim como os críticos ao governo de Aécio Neves, concorda que existe uma interpretação ambígua em relação à verba. O dinheiro pode ter tido uma destinação ilegal, classificada como corrupção. Ou pode nunca ter existido. Ambas as hipóteses são amostras de uma fraude contábil, acusação que pode levar Aécio Neves a perder seus direitos políticos. O procurador-geral de Justiça recentemente extinguiu o processo, mas a promotora afirma que vai lutar para que a ação seja julgada. “Foram 3 bilhões e 500 milhões desviados da saúde em seis anos. Nós estamos falando de 12 anos da mesma prática em Minas Gerais”, afirma, reforçando que a prática se mantém no governo Anastasia.

    Brasil de Fato – Promotora, como você decidiu entrar com ação para investigar as despesas de saúde do governo Aécio Neves?

    Josely Ramos – Chegaram na promotoria, inicialmente, os pareceres do Tribunal de Contas a respeito da saúde, com a notícia de que o estado enviava recursos para a Copasa, em um volume muito grande. Isso já vinha acontecendo desde 2003. Então, busquei as Leis Orçamentárias de 2003 a 2008 e no recurso da saúde apareceu a Copasa realmente abocanhando quase a metade, e às vezes a metade, do dinheiro da saúde. Então, eu notifiquei o presidente da Copasa para vir à promotoria e ele não veio. Notifiquei a contadora-geral do Estado, porque é ela que lança os valores mencionados ali [na prestação de contas]. A contadora-geral também não veio. Eu não tinha dúvida em nenhum momento que o dinheiro saía do fundo estadual de saúde e ia para a Copasa. O que era feito dele lá? Era o que eu não sabia. 

    Como você chegou até a investigação do governo estadual?

    Eu fiquei diante de um impasse porque, para o Tribunal de Contas, o recurso saía do Estado e ia para a Copasa. Mas nos balanços da Companhia e nos relatórios de auditoria independente não apareciam esses valores. Em agosto de 2010, recebi as contestações do Estado e da Copasa dizendo que nunca o estado transferiu recurso para a empresa. Aquilo era investimento que a Copasa fez, com capital próprio, no saneamento básico, que foram lançados no orçamento e na prestação de contas do Estado, o que não pode ser feito. A contabilidade pública tem lei, a Lei 4320/64. Lá se diz o que pode constar e não pode constar. Eles feriram a regra da prestação de contas e da Lei Orçamentária. Com base nisso, eu fiz a ação de improbidade contra o Aécio Neves e a Maria da Conceição, em dezembro de 2010.

    O procurador-geral da justiça alega que você, como promotora, não podia abrir ação contra um governador e, por isso, quer extinguir a ação contra Aécio Neves e Maria da Conceição. Qual a sua opinião?

    Eu jamais investiguei sequer o secretário estadual de saúde. Quando o procurador-geral e a própria defesa [de Aécio Neves e da contadora-geral do Estado] falam que o governador foi investigado e o Tribunal de Justiça acata, isso sequer tem correlação com a norma constitucional. Por quê? Quem ordena o fundo estadual de saúde é o secretário de saúde. Não é o governador o coordenador da despesa. Em outras políticas e outras áreas, é o governador que define, com o secretário de fazenda, por exemplo, o que vai ser gasto. Na área da saúde, não. Em embargos de declaração de um advogado constituído pelo Aécio, ele conseguiu reverter a situação, dizendo que eu o havia investigado porque [a ação] chamava a “Prestação de contas” do governador de 2003 a 2008. Se pelo nome da investigação se define o que tem ali dentro, eu poderia muito bem ter colocado “Carnaval 2002”, não é? Mas não apontaram como eu investiguei, de que maneira, onde e quando. Apenas falaram que eu o investiguei apontando o nome da investigação. A minha indignação é que, apenas com a ação muito avançada, levanta-se essa outra hipótese e o procurador-geral de justiça fala que não houve dano ao patrimônio público. 

    Qual futuro pretende dar a essa ação civil?

    Eu estou ali, lutando para que ela não se extinga. Foram 3 bilhões e 500 milhões desviados da saúde em seis anos. Nós estamos falando de 12 anos da mesma prática em Minas Gerais. No governo Anastasia isso não mudou. Também ele [procurador-geral de Justiça] poderia investigar, agora com essa fraude devidamente confessada no processo. O governo não poderia ter lançado o orçamento da Copasa dentro do orçamento público. Senão fica fácil, pega os tributos e faz investimentos em empresas que não são da administração pública direta. Se chegar a ação aqui para me intimar, vou recorrer ao Tribunal de Justiça, e depois ao STJ e STF.

    Quais os problemas que a extinção do processo pode trazer para Minas Gerais?

    Primeiro, quem me garante que esse dinheiro não foi [para a Copasa]? Porque fica fácil agora a Copasa falar “Eu nunca recebi recurso” e o Estado dizer “Eu nunca mandei”. Basta eles falarem que eu me convenço? Isso precisa ser esclarecido. Tenho uma ação igual contra o governo Itamar, de R$1 bilhão que ele desviou. Não deu o menor trabalho pra investigar, porque ele não maquiou o orçamento. Já a ação foi extinta agora por conta do governo Aécio. Então, o que vai ser? Se o gestor resolve não cumprir o mínimo para a política pública não vai acontecer nada? Ele não provocou o dano de apropriação do recurso, mas e a saúde, vai ficar sem finanças? Isso eu gostaria de perguntar para o procurador-geral de Justiça. Está autorizado, então?

    http://www.brasildefato.com.br/node/27619

  5. Mais um Plano Cohen
    Em

    Mais um Plano Cohen

    Em setembro de 1937, veio a público um documento que continha um plano de tomada do poder pelas forças comunistas no Brasil, pretensamente elaborado pela Internacional Comunista, o qual ficou conhecido como Plano Cohen.

    O plano foi utilizado pela cúpula militar do Governo Vargas como a prova cabal de que o Brasil estava na iminência de uma insurreição comunista e serviu de estopim para que o Congresso decretasse o Estado de Guerra. No mês seguinte, usando dos poderes que esse instrumento lhe atribuía, Vargas afastou o seu maior opositor, o governador gaúcho Flores da Cunha e no dia 10 de novembro, implantou a ditadura do Estado Novo, prendendo mais de 10 mil opositores nas semanas seguintes.

    Como se sabe, esse filme se repetiu em 1964 para o Golpe Civil-Militar e em 1968 para a implantação do AI 5 e a total supressão das liberdades no país.

    No ano passado, em razão do aumento dos casos de vandalismo durante as manifestações de rua, diversos Deputados, Senadores, lideranças militares e veículos de comunicação, exigiriam (e quase conseguiram) a aprovação da Lei Antiterrorismo no Brasil.

    Segundo alguns “especialistas”, o país se encontrava numa situação de grave risco e, tendo em vista a realização da Copa do Mundo, era preciso criar uma legislação de exceção, que possibilitasse meios de investigação mais fortes e céleres, além da detenção preventiva de suspeitos ​ (vale a pena a leitura da matéria: Parlamentares querem lei antiterrorismo antes da Copa do Mundo ​). ​

    Como se sabe, a Copa transcorreu com total sucesso, com muita alegria nas ruas e absolutamente nenhuma ameaça a Segurança Nacional. No entanto, até o momento não se sabe de nenhuma declaração dos defensores da Lei Antiterrorismo assumindo o equívoco de suas avaliações.

    Pelo o que se viu até o momento, o episodio da prisão de duas dezenas de militantes políticos no Rio de Janeiro é mais um episódio da longa ficha corrida de práticas autoritárias do Estado Brasileiro.

    O inquérito, a denúncia do Ministério Público e a decisão do Poder Judiciário, feitos em tempo recorde, construíram uma peça de ficção que em muito lembra o Plano Cohen. ​ Não há elementos probatórios ou nexos que demonstrem vínculo entre as pessoas e os atos delituosos, chegando ao ridículo de utilizar a gíria “bombar”, absolutamente comum na linguagem dos jovens brasileiros, captada numa gravação, como a prova definitiva de que estava em curso a preparação de ataques a bomba.

    Ao invés de identificar um autor de determinado ato de vandalismo e buscar sua responsabilização dentro de um devido processo legal, o que seria o esperado no Estado de Direito, o processo se preocupou em criar a figura da organização criminosa e realizar grandes operações espetaculosas para a prisão dos seus perigosos autores, tudo ao gosto da mídia.

    Caso a legislação antiterrorismo tivesse sido aprovada ano passado, possivelmente centenas de militantes políticos já estariam presos em total isolamento e seriam designados em volumosos inquéritos como “perigosos terroristas”.

    Mesmo depois de tantas décadas de ações autoritárias, ainda impressiona como “formadores de opinião”, veículos de comunicação e diversas lideranças políticas aplaudam mais uma demonstração de vandalismo do Poder Público contra os direitos e garantias fundamentais.

    Aliás, pequenos Plano Cohen são prática cotidiana no Brasil, sempre prontos para justificar ações enérgicas de combate ao crime, que invariavelmente levam a morte ou a prisão de milhares de “perigosos traficantes”, todos com o perfil social e racial que se sabe.

    Em tempo: oito anos depois, o General Goes Monteiro tornou pública a farsa do Relatório Cohen e assumiu que o documento havia sido forjado pelo chefe do serviço secreto da Ação Integralista Brasileira (AIB), organização nazista que a época possuía mais de um milhão de filiados no Brasil.

    http://www.sul21.com.br/jornal/mais-um-plano-cohen-por-alberto-kopittke/

  6. O bordão apavorante: o

    O bordão apavorante: o direito ao terror financeiro

    Não importa o custo em libras de carne humana; a autonomia evocada para o BC deve valer para cada célula do metabolismo rentista. Simples assim.

    Existem os economistas de banco e os jornalistas dos economistas de banco.

    Um não vive sem o outro.

    Como dentes de uma engrenagem azeitada, compõem um mutualismo estrutural.

    O mercado financeiro não teria o poder de emparedar o imaginário social entre o apocalipse e a rendição, se os seus interesses não fossem potencializados por esse moinho de notável sincronia.

    A máquina da chantagem vocaliza as condições subjacentes ao sequestro da política e da soberania pelo interesse rentista em nosso tempo.

    Não está em causa negociar , mas impor à sociedade os termos de uma rendição permanente se quiser subsistir.

    O terror financeiro ganhou pedagógica transparência eleitoral no episódio protagonizado pelo departamento econômico do maior banco estrangeiro aqui sediado.

    Operosa, a área de análise do Santander produziu um panfleto contra o governo Dilma e o imprimiu nos extratos remetidos a clientes vips do banco.

    A endogamia mostrou-se então de corpo inteiro.

    O flanco aberto pelo Santander foi acudido rapidamente pelo jogral conservador.

    De faca na boca brandiu-se o ‘direito’ à independência dos bancos em relação à sorte do país.

    Não importa o custo em libras de carne humana; a autonomia evocada para o Banco Central deve valer também para cada célula do metabolismo rentista.

    Simples assim.

    Mas apavorante é o mandamento político inscrito nessa coerência.

    O terror financeiro contra a sociedade foi ungido como legítimo pela fatia que se avoca a sua expressão mais qualificada para redimir o crescimento.

    Tucanos como Aécio Neves disseram ‘presente’ nas primeiras horas da batalha.

    O colunismo especializado em vulgarizar o interesse rentista sucedeu-o em massa.

    Do ponto de vista desse mutirão há uma palavra que resume a cotação de tudo o mais que não for o interesse imediato da renda financeira por aqui: supérfluo.

    Supérfluo será o país, bem como a democracia, o futuro, a natureza e cada um de nós se o que estiver em causa for a reprodução sagrada do dinheiro especulativo.

    Aos espíritos passionais é forçoso advertir: não se trata de uma perversidade de sentimentos.

    É pior que isso: é estrutural.

    Na era da livre mobilidade dos capitais, o dinheiro não tem pátria.

    Todo capital é capital estrangeiro.

    Não se deve esperar lealdade de seus detentores graúdos, bem como da guarda pretoriana formada pelo matrimônio entre economistas de bancos e os jornalistas de economia.

    Seu único engajamento é o partido do juro alto.

    Todas as suas causas vinculam-se ao tudo ou nada decorrente da superprodução de capitais, fruto da própria eficiência sistêmica em ‘expulsar’ o trabalho, gerador de mais valia, das entranhas da produção.

    O vencedor desse jogo leva tudo ou perde tudo.

    E ai de quem teimar em enfrenta-lo, sugerem os analistas do Santander.

    Cada vez mais, miudezas como projetos de desenvolvimento, bem estar social, infraestrutura, emprego, renda não fazem parte do seu portfólio.

    A especialidade aqui é comprar e vender expectativas.

    Como mostra a guerra eleitoral em curso, esse ‘comércio’ pode mover ou travar a engrenagem decisiva do investimento na vida de uma nação.

    Num caso, o país retoma o crescimento ancorado em bases consistentes.

    No outro, o pessimismo estreita o horizonte do futuro e afoga a economia no arrocho rentista.

    É a disjuntiva dos dias que correm.

    Faz parte do negócio estremecer a Petrobrás para comprar ações na baixa.

    Depois vendê-las na alta, quando os próprios autores desmentem o boato da véspera.

    O mesmo vale para indicadores da economia.

    Câmbio, inflação, juro, investimento — ‘expectativas’ em geral.

    Entre elas, as alimentadas pelas pesquisas de intenção de voto.

    Nos últimos meses é disso que vive a Bovespa.

    Ou seja, da endogamia entre institutos de pesquisa e especuladores espertos que lucram à custa dos ingênuos orientados pelo colunismo econômico.

    O núcleo irradiador dessa usina de sombras e abismos é afinado por um jogral de pluralidade ideológica risível.

    Em entrevista a um blog, no ano passado, o colunista do Estadão, José Paulo Kupfer, escancara o filtro que modela a pauta econômica nos dias que correm:

    ‘Fiz uma pesquisa de fontes em alguns principais jornais: Estadão, O Globo, Folha. Captei 500 participações. 85% das citações eram de consultorias, departamentos de economia (alinhados) a escolas neoliberais. Fica tudo com uma visão só”, constatou Kupfer.

    O que, afinal, deseja essa turma que jogou a humanidade no maior colapso do sistema capitalista desde 1929 — e só poupou o Brasil porque não pode derrubar Lula em 2005, perdeu em 2006 e foi às cordas de novo em 2010?

    Simples: trata-se agora de fazer valer as esperanças do dinheiro grosso para conectar de vez o Brasil –ou o que falta dele– ao circuito da mobilidade irrestrita dos capitais.

    Com toda a guarnição de direito, a saber: redução do ‘Estado intervencionista’, regressão salarial, cortes de gastos sociais, novo round de privatizações.

    O pré-sal não perde por esperar.

    Trata-se de fazer desse país um piquete de engorda à altura da fome pantagruélica do dinheiro ocioso, em vigília planetária por sangue fresco e lastro rentável.

    O problema então não é o departamento de economia do Santander.

    Ele apenas materializou a bases do jogo.

    O rolo compressor responsável por ter jogado o mundo na pior crise do capitalismo desde 29, tudo fará para impedir que Dilma seja reeleita.

    Não se deve esperar indulgência dessa engrenagem se, como tudo indica, a reeleição tiver o endosso da urna em outubro.

    A radicalização precedente reflete um estreitamento do campo de composição na luta pelo desenvolvimento brasileiro.

    Escolhas estruturais terão que ser feitas.

    Entre outras razões, por uma particularidade histórica importante lembrada pelo economista Luiz Gonzaga Belluzzo, em recente entrevista ao site da Unisinus.

    Aqui, ao contrário do que se vê na Europa, a grande agenda do conservadorismo não é desmontar um Estado de Bem Estar Social que nunca existiu por essas bandas.

    Mas, sim, implodir a pactuação social que, desde 2003, mobiliza forças pela criação –ainda que tardia– de direitos que em última instancia implicam a repressão sobre a autofagia financeira e a coordenação do investimento econômico pelo setor público.

    O talho do facão, portanto, terá que ser mais fundo, sobre uma carne mais magra de gordura, e um bolso mais raso de patrimônio.

    ‘É preciso pagar em libras de carne humana o ajuste de custos que o Brasil necessita fazer para ganhar competitividade internacional’, confirmam os vulgarizadores dos economistas de banco.

    Nunca é demais repetir: a coerência macroeconômica quem dá é a correlação de forças da sociedade, que tem na formação das expectativas um de seus ordenadores decisivos.

    A radicalização intuída no caso do Santander não foi um ponto fora da curva.

    Ilude-se ao ponto da irresponsabilidade suicida o governante que ainda acreditar ser possível superar esse círculo de ferro concedendo ao bunker rentista o monopólio sobre o imaginário social.

     http://www.cartamaior.com.br/?/Editorial/O-bordao-apavorante-o-direito-ao-terror-financeiro/31504

     

  7. O mundo começa a abrir os

    O mundo começa a abrir os olhos para Israel (por Robert Fisk)

    Houve um tempo em que os nossos políticos e meios de comunicação tinham um medo principal quando cobriam as guerras no Médio Oriente: a de que ninguém deveria chamá-los de antissemitas.

    Tão corrosiva, tão cruel era essa acusação que apenas a balir a palavra “desproporcional” – como em qualquer taxa de mortalidade árabe-israelense em guerra normais – era provocar acusações de nazismo por parte de pretensos apoiadores de Israel. Simpatizar com palestinos era ganhar a alcunha de “pró-palestino”, o que, naturalmente, significa “pró-terrorista”.

    Ou assim foi até o último banho de sangue em Gaza, que está sendo tão graficamente coberto por jornalistas que os nossos poderosos e nossos meios de comunicação estão tendo uma nova experiência: não o medo de ser chamado de antissemita, mas o medo de seus próprios telespectadores e leitores – pessoas comuns tão indignadas com os crimes de guerra cometidos contra as mulheres e crianças de Gaza que estão exigindo saber por que, mesmo agora, magnatas da televisão e políticos se recusam a tratar o seu próprio público como seres humanos morais, dignos, inteligentes.

    Ainda assim – cada vez que uma outra criança encharcada de sangue aparece na tela -, os apresentadores de TV falam sobre o “jogo da culpa”. Jogo da culpa? Será que eles pensam que este é um jogo de futebol sangrento? Ou uma tragédia sangrenta? Os civis são mortos. Repórteres chamam de “disparos de tanques” (o Hamas não tem tanques). Israel diz que um foguete do Hamas falhou. O Hamas diz que é obra de Israel. Portanto, é um “jogo de culpa”. Ninguém pode realmente ser culpado – e, assim, nós podemos nos livrar da responsabilidade.

    E devemos esquecer que fizemos o mesmo quando bombas dos EUA mataram civis em Trípoli em 1986 (um “míssil antiaéreo líbio falhou”, eu me lembro) ou quando o ataque da Otan no distrito de Shuala em Bagdá matou civis em 2003 (a  culpa era de um “míssil antiaéreo iraquiano que falhou”, é claro).

    Sim, o Hamas é corrupto, cínico, cruel. A maioria de seus “porta-vozes” são tão estúpidos, tão incoerentes, tão propensos a gritar que sempre superam o gentil Mark Regev em matéria de fazer o mundo ficar contra o Hamas. Mas o mundo está se voltando contra Israel, como os ministros da UE repetidamente (embora sempre muito gentilmente) dizem aos israelenses. E isso está se voltando contra os nossos políticos e chefões da mídia.

    Quantas vezes o New York Times espera que seus leitores tolerem editoriais como o texto pusilânime da semana passada? Houve “ataques mortais” em Gaza, os leitores foram informados. O total de mortos chegou a 750, “a grande maioria palestinos”. E então a saída: houve “ataques de ambos os lados” – de Israel ou do Hamas ou de um aliado do Hamas – e, portanto, “o que realmente importa agora é que alguma maneira seja encontrada para parar este massacre”.

    OK, então. O “jogo da culpa” é igual a “nenhuma culpa”.

    Na França, houve menosprezo com a forma como o governo reagiu ao calvário de Gaza. François Hollande queria que Israel “corrigisse” o seu objetivo “um pouco” (un peu)! Ele criticou a agressão do Hamas e as represálias de Israel. Mas, então, um bravo Benjamin Netanyahu reclamou nos Eliseus. Mudança de sintonia. Hollande pronunciou o mantra habitual. “Israel tem o direito de tomar todas as medidas para proteger o seu povo.” Mas, então, os membros do parlamento francês ficaram tão enojados com a “punição coletiva” dos palestinos que Hollande pediu o fim da “escalada” da violência. Ufa.

    Na Irlanda, tradicionalmente pró-palestina, o Irish Times, infelizmente, tem soado a mesma melodia de seu homônimo de Nova York. Um dia depois que Israel bombardeou uma escola da ONU, matando 19 civis, publicou um artigo na primeira página que começava com a declaração de um cessar-fogo de Israel, continuava com um parágrafo sobre os detalhes da trégua e, em seguida, dava um parágrafo dizendo que o Hamas não reagiu – e então avisou seus leitores dos 19 mortos. Um leitor criticou o jornal por “equilibrar” a sua página de cartas para parecer que os os palestinos tenham tanta culpa quanto os israelenses. “Isso é realmente uma espécie de apatia moral”, disse ele. E disse muito bem. O mundo pode pelo menos agradecer os jornalistas em Gaza – mesmo que seus chefes estão estejam em fuga.

    http://www.sul21.com.br/jornal/o-mundo-comeca-a-abrir-os-olhos-para-israel-por-robert-fisk/

  8. O “manchetômetro” e a

    O “manchetômetro” e a imprensa partidária

    Do Observatório da Imprensa

    A Folha de S. Paulo acaba de descobrir que o racionamento de água que ocorre em São Paulo é racionamento mesmo, e não efeito colateral de obras de manutenção da rede. Essa constatação faz a manchete do jornal nesta sexta-feira (1/8): “Ação de SP na crise da água equivale a racionamento”.

    No texto que se segue, o leitor fica sabendo que o racionamento que sofre na prática há um mês também é racionamento na teoria. O diário paulista só percebeu que o racionamento de fato é também um racionamento em termos técnicos quando alguns bares da Vila Madalena, região da boemia frequentada por jornalistas, tiveram que fechar por falta de água.

    A nova interpretação da Folha para a crise de abastecimento chama atenção porque acontece ao mesmo tempo em que o jornal anuncia uma campanha para esclarecer aos leitores seu posicionamento diante de alguns temas tidos como importantes: casamento gay, pena de morte, cotas raciais, política econômica, aborto e legalização de drogas. A direção do jornal quer mostrar que, embora tenha posições claras sobre os assuntos, abre espaço para opiniões divergentes.

    Essa mudança responde em parte a especulações feitas por protagonistas das redes sociais sobre a persistência da Folha de S. Paulo em pressionar o senador Aécio Neves (PSDB), candidato a presidente da República, a dar uma explicação para o caso do aeroporto privado feito em Minas Gerais com dinheiro público quando ele era governador do Estado.

    Foi a Folha que revelou essa história, obrigando os outros jornais a seguirem a pauta, e o veículo que mais mantém o assunto em evidência. Com a insistência do jornal paulista, Aécio Neves finalmente admitiu que usou o aeroporto “algumas vezes” e, nesta quarta-feira, acusa a Agência Nacional de Aviação Civil de atrasar a homologação do campo de pouso, o que pode ter feito com que ele, “inadvertidamente”, usasse as instalações irregulares.

    No mesmo dia, em editorial, a Folha exige mais explicações, acusa o ex-governador de haver privilegiado a cidade onde sua família possui terras, observa que a obra “no mínimo, é conveniente para ele e seus parentes” e conclui que a questão “não está mais que esclarecida”, como quis Aécio.

    O Brasil da imprensa vai mal

    Alguns leitores escrevem comentários dizendo que o jornal paulista se descola de seus concorrentes, que poupam quanto podem o candidato tucano. No entanto, é mais fácil explicar a aparente guinada da Folha em dois aspectos: o jornal sempre foi muito próximo do ex-governador José Serra, que, embora correligionário, não tem qualquer entusiasmo pela candidatura de Aécio Neves; a Folha, como os outros diários de circulação nacional, segue demonstrando seu partidarismo em favor do PSDB em outros aspectos, principalmente no que se refere aos problemas de São Paulo.

    Se não fosse pela simples observação crítica que o leitor mais atento costuma fazer, o partidarismo dos principais diários do País vem sendo registrado por um grupo de pesquisadores da UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Suas análises da valência das informações destacadas pela imprensa mostram uma dicotomia presente nas escolhas editoriais, que reforçam aspectos negativos ou positivos dos acontecimentos conforme os protagonistas.

    O Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP) da UERJ demonstra, com seu “manchetômetro” (ver aqui), como os jornais blindaram Fernando Henrique Cardoso e expuseram Lula da Silva no passado recente, como tratam desigualmente o governo federal e o governo paulista, como as notícias sobre Aécio Neves são mais equilibradas do que o material referente à presidente Dilma Rousseff, bombardeada na proporção de 182 informes negativos para apenas 15 positivos, por exemplo, e como esse bombardeio se intensifica no período eleitoral.

    Além disso, o noticiário econômico apresenta um resultado consolidado de mais de 90% de notícias negativas, numa linguagem dicotômica e com poucas nuances, “interpretando os fatos e dados econômicos como sinais de uma crise, ou em andamento, ou prestes a acontecer”.

    Os gráficos da cobertura agregada dos três jornais, por exemplo, mostram que a economia teve em julho 97,6% de notícias negativas contra apenas 2,4% de notícias positivas.

    Se o Brasil fosse o que mostra a imprensa, estaríamos todos mortos de fome.

    Essa é uma das evidências de que a imprensa hegemônica rompeu com o jornalismo.

    http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/o_ldquo_manchetometro_rdquo_e_a_imprensa_partidaria

  9. Os novos judeus, por Daniel Aarão Reis.

    Dizem os jornais do sistema que 90% dos israelitas apoiam a acção genocida do seu governo. Até pode ser que assim seja, num Estado em cuja população é sistematicamente incutida a ideologia racista do “povo eleito” e do seu direito divino ao “Grande Israel”. E se assim é, mais um motivo para saudar fraternalmente os 10% que não apoiam tal acção criminosa. Neles reside uma pequena parte da esperança de que um dia seja encontrada uma solução justa para a causa do martirizado povo palestino. Essa causa é hoje uma prioridade para toda a humanidade progressista e amante da paz.

    “Há um fosso ético entre o nome do nosso exército, Forças de Defesa de Israel, e o que fazem os soldados. Eu e meus amigos fomos mobilizados para empreender ações “preventivas” na Cisjordânia, mas o que fazíamos nada tinha de preventivo.”

    Segundo Yehuda Shaul, ex-oficial do exército israelense e autor destas palavras, o chefe do estado-maior, Moshe Yaalon, exortava os soldados a “queimar a consciência palestina”.

    De acordo com testemunhas, os soldados patrulham as ruas e penetram ao acaso nas casas, a qualquer hora do dia ou da noite. Revistam tudo e todos, encostam as pessoas na parede e tiram fotos. Ninguém fica de fora: homens e mulheres, velhos e crianças Detalhe: as operações não são motivadas por nenhuma solicitação dos serviços de informação. De acordo com o sargento Nadav Bigelman, é frequente que as fotos nem sequer sejam enviadas à análise. O que se deseja é inibir o protesto, amedrontar e humilhar.

    Shaul e Bigelman fazem parte de uma ONG, a Breaking the silence/Quebrando o silêncio, que já reuniu cerca de 950 depoimentos de militares e de ex-militares israelenses. Para recordar os dez anos de sua existência, houve manifestação recente na praça Habima, em Tel Aviv. Durante dez horas, políticos, jornalistas e ex-militares leram relatos atestando violências cometidas nos territórios palestinos ocupados. A ocupação, raiz da revolta palestina, e inteiramente ilegal, como sublinha Shaul, “não é mais uma segunda natureza para nós, ela incorporou-se à nossa própria natureza”.

    Em nenhum dos depoimentos há qualquer aprovação aos atos de terrorismo ou aos foguetes lançados contra Israel por organizações islâmicas. Considerados “horríveis” porque suscitam medo, ferem e matam, tais atos, entretanto, não justificam fazer “de todos os habitantes de Gaza alvos de uma destruição em massa”.

    É disso mesmo que se trata, pois o ataque desferido pelo exército de Israel a partir do 16 de julho último está destruindo em massa a população de Gaza – um terrorismo de Estado. Fontes publicadas pelo New York Times, nove dias depois do início da ofensiva, em 23 de julho, registravam 3.209 alvos atingidos, provocando um pouco mais de 800 mortos, milhares de feridos e dezenas de milhares de refugiados entre os palestinos.

    A situação torna-se desesperadora.

    Em Gaza, segundo dados do Le Monde, vivem 1,8 milhão de pessoas, com média de 18,2 anos, um alto índice de desemprego, maior entre os mais jovens (50%). Comprime-se num território de 45 km de comprimento por 10 km de largura, uma das mais altas densidades populacionais do mundo: 4.505 pessoas por quilômetro quadrado.

    Em 1948, quando da fundação do Estado de Israel e da partilha da Palestina, o território ficou sob jurisdição egípcia, verificando-se um grande afluxo de refugiados. Depois da guerra de 1967, passou à ocupação israelense. A partir de 1994, os acordos de Oslo atribuíram seu controle à Autoridade Nacional Palestina. Entretanto, a região continuou triplamente aferrolhada: por terra, os postos fronteiriços com Israel e Egito filtram a conta-gotas os que desejam entrar ou sair. Por ar, o espaço é vigiado pelo Estado israelense. E por mar, Israel estabeleceu um limite de apenas 6 milhas náuticas (5,5 kilômetros) para o tráfego de embarcações.

    Gaza virou um imenso gueto. E os palestinos converteram-se em novos judeus, cuja consciência precisa ser “queimada”.

    “Novos judeus”: foi assim que, há pouco mais de trinta anos, Helena Salem intitulou um livro sobre a tragédia dos palestinos depois da II Guerra Mundial. Judia, teve que se haver com a crítica – às vezes, insultuosa – de judeus no Brasil e no mundo. Corajosa, recusou-se à autocensura. É trágico que sejam os próprios judeus, trucidados em guetos durante a II Guerra Mundial, os responsáveis por fazer reviver, agora, a maldita experiência.

    Os palestinos não querem piedade.

    Por destemidos, dela não carecem. Às vezes, como disse o Doutor Gilbert, médico norueguês, no hospital de Al-Shifa, em Gaza, “a gente só tem vontade de chorar e apertar num abraço as crianças cobertas de sangue”. Mas as lágrimas de dor, de raiva ou de medo não são bem vindas. Nem honrariam a capacidade de resistência e a resolução que, nas piores condições, demonstram os palestinos.

    Eles precisam é de solidariedade ativa. Das gentes, nas ruas do mundo, manifestando apoio, obrigando os respectivos governos a agirem, através de pressões políticas e diplomáticas.

    O mundo não pode assistir de braços cruzados e em silêncio ao massacre de um povo, agredido por uma força maior e mais poderosa. É preciso impedir que os judeus fabriquem novos judeus. Como disse Eric Goldstein, do Observatório dos Direitos Humanos, “Israel precisa fazer mais do que tentar explicar ataques ilegais. Precisa parar com eles”. Para o bem dos palestinos, da humanidade e dos próprios judeus.

    _______________

    Esta matéria se encontra em http://www.odiario.info/?p=3358

  10. 438 militares ucranianos pedem asilo a Rússia

    438 soldados ucranianos abandonaram suas unidades, no leste do país e pediram permissão para entrar no território da Rússia, informou o Serviço de Guarda de Fronteiras da Rússia.

    “Durante a noite, 438 militares ucranianos abordaram guardas fronteiriços russos em busca de asilo. De acordo com a decisão do Departamento de Guarda de Fronteiras Autoridades russas, seus funcionários abriram um corredor humanitário e permitiram entra na Rússia aqueles que necessitam de refúgio”, disse o porta-voz do Serviço de Guarda de Fronteiras da Rússia, Vasili Maláyev, a agência Itar-Tass.

    Leia o texto completo (en español): http://actualidad.rt.com/actualidad/view/135930-militares-ucrania-asilo-rusia

     

    Assista o vídeo:

    “- Fomos traídos.

     – Quem te traiu?

     – Os generais”.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=E-OsrCkXTNY%5D

    Essa rendição vem a confirmar o relato contido nesta matéria.

     

    Mais um vídeo (en español):

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=L7qEoiW-jas%5D

     

     

  11. Número de eleitores com curso superior é o maior da historia

     
     
    O retrato do Brasil que vai às urnas
    por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

    O Tribunal Superior Eleitoral divulgou um abrangente perfil social e econômico do Brasil que vai às urnas daqui a dois meses. O Brasil que sairá dessas urnas (os candidatos eleitos) refletirá, portanto, tal perfil, que envolve 142,8 milhões de eleitores em todo o País. E há relevantes novidades. Pela primeira vez, por exemplo, o número de votantes com estudo superior supera o de analfabetos: 8 milhões e 7,4 milhões, respectivamente. Em 2010 deu-se o inverso: 7,8 milhões não sabiam ler nem escrever, enquanto 6,2 milhões dos que votaram possuíam diploma universitário. Outros fatos novos referem-se às mulheres e aos jovens na faixa etária entre 16 e 17 anos (voto não obrigatório). As mulheres são maioria no universo de votantes: 52,2%. Quanto aos jovens registrou-se queda de 31,5% – eles eram 2,4 milhões em 2010, hoje são 1,6 milhão. O fenômeno revela considerável grau de incredulidade dessa faixa etária com a política e os políticos em geral.

     

  12. A guerra na tevê
    A guerra na tevê
    ISTOÉ acompanhou os bastidores dos programas eleitorais dos candidatos ao Planalto, que investirão R$ 200 milhões e mobilizarão 400 pessoas para conquistar o voto do eleitor pela televisão a partir do dia 19Izabelle Torres ([email protected])

     

    Há pelo menos 15 dias, as equipes dos principais candidatos à Presidência da República se dedicam à produção dos programas de tevê que serão exibidos durante o horário eleitoral gratuito. Na última semana, a reportagem de ISTOÉ acompanhou de perto os preparativos para a confecção do material eletrônico que será exibido a partir do dia 19 para cerca de 190 milhões de brasileiros. Conversou com marqueteiros, produtores, assistentes de estúdio e até maquiadores de Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), que anteciparam qual o tamanho da estrutura montada para dar suporte às gravações, como serão os primeiros programas dos presidenciáveis na tevê, seus jingles e de que maneira eles pretendem se apresentar ao eleitorado.

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    Para conquistar o voto do eleitor pela televisão, estão sendo investidos mais de R$ 200 milhões e mobilizadas cerca de 400 pessoas – incluindo produtores de conteúdo, assistentes e maquiadores. Embora a internet e as redes sociais tenham assumido um papel relevante para moldar a opinião do eleitorado, especialistas e candidatos consideram que a propaganda na televisão é o marco inicial da guerra eleitoral. Por isso, tudo está sendo minuciosamente preparado pelas equipes tucanas, petistas e socialistas para a primeira semana de propaganda. No programa de estreia de Dilma Rousseff na tevê, o locutor dirá: “Você assistirá agora a um Brasil que mudou para melhor…”. Em seguida, a candidata à reeleição fará uma prestação de contas das realizações dos governos petistas, somando os resultados do seu mandato com os do ex-presidente Lula. Em seu jingle, ao som popular de um xote, a presidenta Dilma será descrita como uma “mulher de mãos limpas” e que “nunca desviou o olhar do sofrimento do povo”. A música da petista também faz referência ao padrinho político da candidata, o ex-presidente Lula.

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    Tempo não faltará para passar em revista os 12 anos de gestão petista. A candidata terá 11 minutos e 48 segundos em cada bloco de 25 minutos da propaganda no rádio e na televisão. Nos filmetes do PT, programas como o Pronatec, voltado para a capacitação profissional, e o Mais Médicos serão exaltados. Apesar de elencar as conquistas de Lula e Dilma, a intenção é que a campanha carregue um tom propositivo e não fique olhando apenas para o retrovisor.

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    A candidata à reeleição, Dilma Rousseff, já gravou algumas cenas no próprio Palácio da Alvorada. Nos próximos dias, o marqueteiro do PT, João Santana, irá levar a presidenta para gravar novas inserções no megaestúdio montado em uma casa de 1.200 metros quadrados no bairro do Lago Sul, região nobre de Brasília. Com a frente voltada para o Lago Paranoá, o endereço é tratado com discrição pela equipe do PT. A produção dos programas e tudo o que a envolve custarão ao partido cerca de R$ 90 milhões, dinheiro que vai custear uma equipe de 220 pessoas, sendo 45 diretamente ligadas às filmagens, e o restante com a divulgação pela internet. Aliás, esta será uma das novidades da campanha eletrônica deste ano de todos os candidatos à Presidência. No momento das transmissões dos programas, equipes estarão abastecendo as redes sociais para amplificar a audiência. Também farão, em tempo real, observações críticas sobre os programas dos adversários. Outra novidade é que os candidatos poderão gravar seus pronunciamentos em qualquer lugar e não necessariamente nos estúdios. O material será editado e colocado sobre um cenário digitalizado.

    Esse modelo facilita a agenda e permite a gravação em estúdios de menor porte, como o que Aécio Neves (PSDB), principal candidato de oposição, utilizou no Rio de Janeiro na sexta-feira 1º. O tucano tem gravado por cerca de três horas semanais em São Paulo, mas já viajou para pelo menos cinco outras cidades. Na televisão, o tucano terá direito a quatro minutos e 31 segundos em cada bloco. O senador pretende aproveitar esse tempo para fazer críticas incisivas ao atual governo e exibir suas realizações à frente do governo de Minas Gerais. Na telinha, o tucano se apresentará como o mais capacitado a fazer as mudanças desejadas pela população, sobretudo na economia, hoje assombrada pelos fantasmas da inflação e da volta do desemprego. O jingle de Aécio Neves será mais objetivo e curto, usando as sílabas inicias do nome do candidato para ritmar a música. “É ele quem vai mudar o País”, dirá o locutor. A equipe de produção do tucano tem cerca de 30 pessoas, dedicadas a acompanhá-los nas andanças pelo País. Outras 80 ficarão responsáveis pela divulgação na internet. Os custos podem chegar a R­$ 8­5 milhões ou cerca de 30% do teto de gastos informado pelo PSDB ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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    CASA-ESTÚDIO
    Candidata à reeleição, Dilma Rousseff grava os programas em casa
    de 1.200 metros quadrados no Lago Sul, área nobre de Brasília

    O candidato do PSB, Eduardo Campos, fará a campanha de tevê mais modesta, afinal terá apenas um minuto e 49 segundos no horário eleitoral. O principal desafio dos socialistas, num primeiro momento, será apresentá-lo ao eleitorado, já que Campos ainda é pouco conhecido nacionalmente. Para isso, vai utilizar um modelo de filmagem em que o candidato será entrevistado pelos eleitores. Segundo um dos articulares da campanha de Campos em Pernambuco, a estratégia assemelha-se à utilizada por Barack Obama, na primeira campanha à Presidência dos Estados Unidos. Campos tem filmado em São Paulo sempre acompanhado da vice, Marina Silva, que teve 20 milhões de votos nas últimas eleições presidenciais. A dobradinha com Marina é uma das apostas para os primeiros programas na tevê. Inclusive, o jingle que vai embalar a campanha de Eduardo Campos é o único entre as três que fará referência ao candidato a vice-presidente. Na canção, a dupla é descrita como a “cara” e “as cores” do País. A música ainda sugere “coragem para mudar o Brasil” ao eleitor “que tá na dúvida”.

    A equipe do candidato responsável pelo programa eleitoral terá 100 pessoas, sendo 40 envolvidas diretamente com as filmagens. Na expectativa dos tesoureiros da campanha, a produção dos programas não custará mais do que R$ 40 milhões.

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  13. Nova Democracia em Debate

     

    Após dez anos da morte de Celso Furtado, a atualidade de suas formulações quanto ao desenvolvimentismo será tema de congresso do Centro Internacional que leva seu nome.

    do Jornal do Brasil

    País – Sociedade Aberta

    Hoje às 06h08

    A Nova Democracia no Congresso do Centro Celso Furtado

    Roberto Saturnino Braga*+A-AImprimirPUBLICIDADE

    O século 20, atravessado por conflitos políticos devastadores, trouxe, ao final, a consolidação da democracia como único regime capaz de preservar a dignidade do ser humano e promover o desenvolvimento da humanidade dentro desta condição. O século 21 está destinado a ir além, e realizar a expansão, o aprofundamento e o aperfeiçoamento da democracia pela implementação de novos modelos que contemplem correções no tradicional esquema liberal representativo, desgastado em sua credibilidade e em sua legitimidade.

    Esses aperfeiçoamentos se anunciam como busca de uma participação mais direta dos cidadãos nas decisões políticas fundamentais, sem retirar as prerrogativas essenciais dos parlamentos representativos, mas influenciando suas decisões através de manifestações organizadas e institucionalizadas das sociedades.

    Brasil avançou nesse sentido, ousada e significativamente, com o decreto de maio (8.243), que institucionalizou os Conselhos da sociedade e as Conferências Nacionais como instâncias orientadoras do Executivo. E poderá ir além, instituindo a prerrogativa desses Conselhos e Conferências de elaborar projetos de lei, obrigando o Congresso a discuti-los e decidir sobre eles em prazos determinados. Só que este segundo avanço terá que ser aprovado pelo próprio Congresso que, dominado ainda pelos conservadores, já reclamou do primeiro passo do avanço dado pelo Executivo.

    Pela qualidade da democracia que emergiu após vinte anos de ditadura, o mundo olha com interesse para o Brasil, que realizou um fato notável, com a eleição e a reeleição de um torneiro mecânico para a Presidência, e vem agora de efetivar esse progresso relevante na convocação da sociedade organizada para participar mais diretamente da política. E, mais, o Brasil que acaba de sediar a histórica reunião dos Brics que criou o novo Banco de Desenvolvimento e o Fundo de Reserva, como importantes instrumentos capazes de abrir novos caminhos de desenvolvimento, alternativos em relação aos existentes até então, criados e administrados pelo grande capital global segundo os seus interesses.

    O mundo olha com interesse para o Brasil e o Centro Internacional Celso Furtado, neste mesmo momento.Realiza agora em agosto (dias 18, 19 e 20) o seu segundo congresso, balizado em suas discussões pelo tema do Novo Desenvolvimento para a Nova Democracia.

    O Centro foi criado há nove anos, precisamente para discutir e formular caminhos para este Novo Desenvolvimento, seguindo a inspiração do seu patrono que se dedicou, tão lcida e incansavelmente, a esta tarefa.

    Neste próximo Congresso, além de dezenas de mesas de discussão sobre assuntos da maior importância para a definição de linhas deste novo desenvolvimento, haverá, na manhã do primeiro dia, a conferência do professor José Antonio Ocampo da Columbia University, sobre o tema geral do Congresso, e a mesa A relação entre democracia e desenvolvimento, no antigo e no novo desenvolvimentismo. À tarde, haverá a mesa Desafios do novo desenvolvimento. 

    No segundo dia, haverá a mesa Dilemas do desenvolvimento e da democracia no Brasil do século 21 pela manhã e outra, A nova democracia no século 21, à tarde. 

    No terceiro dia, a conferência do professor Deepak Nayyar, da Jawaharlal Nehru University, e a mesa redonda 2004-2014: a atualidade de Celso Furtado dez anos após a sua morte. Os debatedores dessas mesas serão brasileiros e estrangeiros do nível mais alto de reconhecimento acadêmico, pelo seu trabalho e pela sua dedicação aos assuntos tratados. As ideias, os pontos de vista e as proposições apresentadas nesses debates serão objeto de comentários, artigos e resenhas contidas nas publicações do Centro Celso Furtado.

    * Roberto Saturnino Braga é diretor-presidente do Centro Internacional Celso Furtado

     

  14. As “previsões” do mercado
    As “previsões” do mercado

    As análises eleitorais do setor financeiro são hoje pouco mais que exercícios do wishful thinking, quando não armações para lucrar

    por Marcos Coimbra

    Uma das peculiaridades do momento atual é a intensa e despropositada divulgação das especulações do mercado financeiro a respeito da eleição presidencial. Quase todo dia, a mídia oposicionista faz circular prognósticos eleitorais de bancos e consultorias. E trata-os como se merecessem crédito especial. Talvez considere que nessas empresas existam especialistas notáveis da vida política brasileira, cujas opiniões e pontos de vista precisariam ser conhecidos por todos.

    Sem subestimar a competência dos profissionais do mercado financeiro, é fantasia imaginar que possuam grande habilidade analítica em assuntos políticos e eleitorais. Ao contrário, a regra é que estejam improvisados circunstancialmente no papel de “analistas políticos”, o que deixarão de ser tão logo passe a eleição. Em três meses, lá estarão de volta aos afazeres que conhecem, na interpretação de cenários do agronegócio no Piauí, da indústria de calçados ou do comércio de bebidas.

    Os bancos, as consultorias econômicas e outras instituições financeiras, nacionais ou não, claro está, têm o direito de elaborar análises da situação política brasileira. E não é de hoje que monitoram os processos eleitorais, para avaliar o impacto dos resultados em seus negócios. Desde a eleição de 1994, muitos dos mais importantes tornaram-se clientes de institutos de pesquisa, às vezes por meio da contratação de pesquisas próprias, às vezes na busca de assessoramento técnico.

    Duas coisas são diferentes neste ano. De um lado, há uma proliferação de atores menores, pequenas empresas que buscam espaço no campo das “previsões eleitorais”, algumas no esforço de vender um know-how que não possuem. Quem dispuser de dinheiro para jogar fora que as compre.

    De outro, e mais importante, temos atualmente, na imensa maioria dessas “análises”, um extraordinário predomínio do desejado em relação ao observado. Nas “previsões eleitorais” disponíveis, o que encontramos é o retrato do que seus autores gostariam de ver, não do que é mais provável.

    Isso fica claro no uso seletivo das pesquisas e na relutância em aceitar o que elas mostram de fato. É o inverso do que o mercado fez em eleições passadas, quando recebia os números com a cautela devida, mas não brigava com eles.

    Hoje, a regra passou a ser não acreditar no que as pesquisas dizem e procurar pretensos significados “ocultos”, escondidos nas entrelinhas.

    A larga vantagem de Dilma Rousseff, que tem, sozinha, mais intenções de voto do que a soma dos adversários? O fato de ela ter o dobro do segundo colocado e quase cinco vezes o obtido pelo terceiro? A constatação de que os “outros candidatos” sempre terminam com desempenho modestíssimo na urna e são irrelevantes para propiciar o segundo turno? A dianteira da presidenta ante todos em um possível segundo turno? Não dizem nada para quem gasta tempo a perscrutar tabulações e cruzamentos de dados à cata de algum sinal negativo para a presidenta.

    E nossa história eleitoral, que indica que quem mais cresce quando começa a propaganda eleitoral na tevê e no rádio são os candidatos à reeleição? E a experiência internacional, que mostra que o “tempo de antena” é um fator decisivo nas eleições modernas? Nada, tudo seria irrelevante, pois viveríamos agora em um hipotético mundo pós-televisivo, no qual o eleitorado conheceria e selecionaria os candidatos por meio das redes sociais.

    Engraçado: nas pesquisas esses analistas enxergam apenas o que lhes interessa: a “vontade de mudança”, a “rejeição a Dilma”, o “desgaste do PT”. Para isso serviriam, mas, para qualquer outra coisa, poderiam ser desconsideradas.

    As “análises eleitorais” do mercado são hoje pouco mais que exercícios de wishful thinking (quando não são armações para lucrar à custa dos incautos). Os responsáveis por elas fazem “previsões” com base nos desejos de um determinado resultado. Preferem a derrota de Dilma e a anunciam ao mundo.

    Lembram o que alguns “analistas” brilhantes da mídia oposicionista ofereceram aos diplomatas norte-americanos na última eleição e o WikiLeaks revelou: um monte de interpretações equivocadas e previsões furadas. No fundo, são muito semelhantes aos comentaristas e colunistas da mesma mídia hoje em dia. Apenas torcedores. Nada mais.

  15. A criação e o criador do Soro caseiro
    Conheça médico que salvou 50 milhões de pessoas com receita caseira

    Por BBC |

    04/08/2014 12:21- Atualizada às 04/08/2014 12:57

    Texto
     

     

    Norbert Hirschhorn teve papel-chave na definição de medidas do soro caseiro, ‘avanço médico mais importante’ do século 20

    BBC

    BBC
    Norbert Hirschhorn criou a mistura de de açúcar, sal e água; o barato e eficaz soro caseiro

    A fórmula, hoje, é mundialmente conhecida: uma solução simples de açúcar, sal e água. Uma mistura que pode ter salvado até 50 milhões de pessoas.

    Encontrar um equilíbrio entre esses elementos foi o feito essencial dela, e o médico Norbert Hirschhorn teve um papel-chave na descoberta das medidas certas na preparação do soro caseiro.

    Um caso emblemático: depois de dois dias sofrendo diarreia, um bebê egípcio de três meses não tinha forças nem para levantar a cabeça e mamar no peito da mãe. Médicos temiam pelo pior: a diarreia grave é uma das principais causas de morte em países em desenvolvimento.

    Com um tratamento simples, pouco mais de quatro horas depois ele estava bem o suficiente para retomar a amamentação – tudo graças a uma solução barata de açúcar e sal.

    Hirschhorn descreve a transformação causada pela terapia de reidratação oral como incrível. “Você entra em uma sala e a criança ou o adulto está perto da morte. Eles têm olhos fundos, respiram acelerado, a pele e as unhas estão azuladas”, conta.

    Ver alguém se recuperar é “como ver Lázaro voltar dos mortos – um milagre”, diz ele.

    Medida certa

    AFP
    Irmãos atingidos por diarreia e desidratação no Sudão, em foto de 2004: segundo a OMS, a diarreia mata cerca de 760 mil crianças por ano

    Hirschhorn se envolveu em pesquisas sobre terapia de reidratação oral em 1964. Ele prestava serviço militar nos Estados Unidos no serviço público de saúde e foi enviado para o que é hoje Bangladesh, que padecia de uma grave epidemia de cólera.

    A cólera causa diarreia grave e pacientes rapidamente perdem muita água e sais. Os infectados ficam extremamente desidratados e podem entrar em choque e morrer em poucas horas. Na região, até 40% dos moradores que não tratavam cólera estavam morrendo.

    À época, o tratamento de reidratação era administrado por via intravenosa no hospital. Era caro, e muitas vezes, inalcançável para os que mais precisavam dele. O objetivo era encontrar uma maneira de dar o tratamento por via oral e assim ajudar muito mais gente.

    Outros haviam tentado no passado encontrar o equilíbrio certo de açúcar, sais e água para um tratamento oral. Hirschhorn trabalhava com o capitão Robert Phillips, que havia tentado ele próprio, sem sucesso, sua própria mistura anos antes. Vários pacientes morreram durante os testes.

    Phillips estava muito receoso em deixar Hirschhorn realizar sua própria pesquisa. “Ele já havia tentado a solução quando estava na Marinha em Taiwan e nas Filipinas, mas não acertou na medida, que era muito concentrada, e piorou as coisas”, disse Hirschhorn.

    O trabalho de Hirschhorn se baseou nos estudos de Phillips e de outro colega, David Sachar. Sachar havia mostrado que o corpo poderia transportar sódio assim que glicose fosse adicionada – algo fundamental no combate à desidratação.

    Mas a medida correta era fundamental: a quantidade maior ou menor de qualquer um dos ingredientes poderia fazer com que a solução não apenas não funcionasse, mas causasse danos mais graves.

    “As proporções são cruciais. Para obter a absorção ideal de água, você precisa da mesma quantidade de glicose e sódio”, disse Hirschhorn.

    Foi um estudo pequeno, de apenas oito pacientes, no qual a terapia de reidratação foi aplicada usando uma sonda nasogástrica, que provou que a combinação funcionava.

    No hospital e em casa

    Hirschhorn disse que havia descrença de que uma mistura tão simples pudesse ser tão eficaz. “Sua simplicidade era sua própria inimiga. Levou muito tempo, muito tempo para convencer os pediatras de que fosse segura.”

    A publicação científica Lancet descreveu a terapia de reidratação oral como “potencialmente o avanço médico mais importante” do século 20.

    O Unicef, fundo da ONU para infância, disse que nenhuma outra inovação médica do século “teve o potencial de evitar tantas mortes em um curto período de tempo e custo tão pequeno”.

    Agora, a eficácia é mundialmente conhecida e usada por médicos em clínicas e em casas por pais.

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) adverte que a diarreia é a segunda principal causa de morte de crianças menores de cinco anos, responsável pela morte de cerca de 760 mil crianças por ano.

    E qual é a sensação de saber que seus esforços ajudaram a salvar mais de 50 milhões de pessoas? 

    Hirschhorn conta a história de uma viagem ao Egito, muitos anos depois de seu trabalho clínico. Durante uma conversa com um taxista, descobriu que o filho dele havia sido salvo por reidratação oral quando criança. O garoto cresceu para virar um jovem estudante, realizando seus próprios estudos científicos nos EUA.

    “Essa troca”, diz Hirschhorn, ainda visivelmente emocionado, “teve um impacto grande em mim, tanto quanto todas as estatísticas juntas”.

     

  16. Aumento da escolaridade: mudança no perfil do eleitor brasileiro
    Aumento da escolaridade do brasileiro começa a mudar perfil do eleitor – Agência Brasil – Ana Cristina Campos* – Repórter da Agência Brail – Edição: Lílian Beraldo

    Se antes era prática comum prometer cestas básicas, emprego ou tratamento médico em troca de votos para conquistar um mandato, com o aumento da escolaridade do eleitor brasileiro essas propostas começam a perder espaço para um voto de mais qualidade. Para especialistas, há um novo eleitor em construção e a melhora no nível educacional pode se transformar em mais consciência política no médio prazo.

    Apesar de a maior parte dos eleitores ainda ter baixa escolaridade, houve aumento no número de pessoas com superior completo e incompleto e ensino médio completo e incompleto. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que dos 142,8 milhões de eleitores aptos a votar no pleito de outubro, 5,6% (8 milhões) terminaram a graduação – 2,8 milhões de pessoas a mais que nas eleições de 2010.

    O número de pessoas com superior incompleto também subiu em relação a 2010 – aumentou em 1,5 milhão, passando de 2,7% para 3,6%. O número de cidadãos com ensino médio completo aumentou em 5,9 milhões de pessoas, de 13,1% para 16,6%. Já o número de eleitores com ensino médio incompleto teve um incremento de 1,8 milhão, de 18,9% para 19,2%.

    Em contrapartida, o número de analfabetos e dos que apenas leem e escrevem (analfabetos funcionais) diminuiu. São cerca de 700 mil analfabetos a menos que na eleição de 2010, passando de 5,8% dos eleitores para 5,1%. No caso dos analfabetos funcionais, são 2,5 milhões a menos no pleito de 2014, de 14,5% do eleitorado para 12%.

    Para o cientista político Leonardo Barreto, especialista em comportamento eleitoral, o índice de desenvolvimento educacional do eleitor é reflexo da evolução dos indicadores de educação da população brasileira. “As pessoas melhoraram a capacidade de buscar e processar informações porque é isso que, basicamente, o nível de educação mais elevada proporciona.”

    O Censo Demográfico 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicou que o nível de escolarização, de um modo geral, tem melhorado no país. No grupo acima de 25 anos, idade considerada suficiente para conclusão da graduação, o número de pessoas sem instrução ou com ensino fundamental incompleto caiu de 64% em 2000 para 49,3% em 2010. Com ensino médio completo passou de 12,7% para 14,7% e a proporção de pessoas com ensino superior completo passou de 6,8% para 10,8%.

    Para Barreto, ainda não é possível dizer que o país já tem um eleitor mais crítico e consciente. “É um eleitor híbrido, que combina a necessidade de propostas novas para ele, de políticas públicas mais universais, com práticas antigas. Era uma pessoa que até ontem estava dentro de um contingente populacional que era muito suscetível a trocas e a propostas clientelistas. É uma pessoa que está migrando de um lugar para outro, mas que ainda está no meio do caminho porque essa é uma mudança de uma geração.”

    De acordo com o especialista, com o aumento da escolarização e da renda, fazer campanha em uma região pobre não significará encontrar um eleitor desprovido de capacidade crítica e de informação. “Na periferia, você vai encontrar pessoas cujos filhos estão fazendo ou fizeram faculdade. Uma geração abastece a outra. O filho que fez faculdade é o orgulho da família, vai influenciar quem não fez. Tem um efeito de dispersão desse conhecimento. Isso torna o processo político mais complexo. Abre uma janela de oportunidades para uma nova geração de políticos. Quem interpretar e conduzir bem esse processo vai sair na frente”, disse.

    O professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Roberto Kramer também avalia que o eleitorado brasileiro está em fase de transição. Para ele, os dados do TSE comprovam o gradual avanço nas condições de vida e de educação da população. “Um eleitor mais instruído costuma ser mais exigente. Esse eleitor tende a transcender o nível mais básico de expectativas e necessidades, como o alimento e o teto, e passa a querer políticas públicas mais amplas, de educação, saúde e mobilidade urbana de qualidade.”

    Na opinião do especialista, os políticos vão se deparar com uma parcela cada vez maior da população que vai cobrar seus direitos. “Esse novo eleitor certamente vai lançar um desafio para os políticos, que é repaginar suas propostas, suas maneiras de abordagem, pois está mais crítico ao confrontar as promessas que são feitas com a possibilidade de concretização.”

    Para a coordenadora-geral da organização não governamental (ONG) Ação Educativa, Vera Masagão, à medida que o país mude o perfil educacional da população, a tendência é que o perfil do eleitorado também seja alterado no sentido de um voto mais consciente.

    “Pessoas com mais escolaridade se sentem mais empoderadas, sentem menos o político como alguém de quem precisam para ter um favor. Tendem a romper essa visão do clientelismo, daquele pobrezinho que precisa ir lá pedir favor para o político. Aumentam a consciência cidadã de que eu estou exercendo meu direito votando e que o meu dever também não acaba na hora do voto. Tenho que continuar cobrando e é dever desse gestor público cumprir as promessas que fez. Esse caráter da cidadania é reforçado”, disse.

    Segundo Vera, ao lado da educação formal, é preciso ampliar a educação cidadã. “Essa é uma educação que se dá principalmente no engajamento político. Então são pessoas participando de partidos, de ONGs, engajadas, acompanhando causas de interesse público e políticas públicas. É dessa forma que a gente vai, de fato, mudar a política, com mais gente participando e exercendo o controle social.”

     

    *Colaborou Pedro Peduzzi

     

    Grau de instrução do eleitor brasileiro

     

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