O anúncio apressado de Nelson Barbosa, por Janio de Freitas

O ato e a pressa

Por Janio de Freitas

Da Folha de S. Paulo

Uma hipótese: Barbosa quis testar o poder e a liberdade de ação de que vai dispor com Joaquim Levy

O incidente do ministro Nelson Barbosa com o salário mínimo é menos simplório do que indicado em sua redução, de aparência unânime, a mais um trompaço temperamental da “gerentona”.

O ministro do Planejamento não está estreando em governo. Nem mesmo na área de política econômica. Em seus anos de secretário-executivo do Ministério da Fazenda, até desentender-se com Guido Mantega, pôde comprovar a profunda relação entre o que se passa na área econômica e as condições em que Presidência caminha, em política, na administração e com os cidadãos.

Nelson Barbosa decide dar uma entrevista coletiva no primeiro dia útil do novo governo, espremido entre o feriado da posse presidencial e o fim de semana. Não expõe o motivo de tanta pressa. Não espera, sequer, que o seu parceiro da Fazenda e de ideias seja empossado já no próximo dia útil. Mas Nelson Barbosa fala no plural: “vamos”. Faz as manchetes com o tema dominante e, excluídas as obviedades, quase único de sua oferecida fala: “Vamos propor uma nova regra de reajuste do salário mínimo para 2016 a 2019 ao Congresso Nacional nos próximos meses”.

A pressa é mais abrangente: Nelson Barbosa anuncia no primeiro dia útil deste ano e do novo governo uma alteração que, se vigorar, só o fará no ano que vem. Por si mesma, essa antecipação não faz sentido. É, talvez, uma medida a ser iniciada proximamente, convindo abordá-la desde logo? Não, nada há estabelecido: a proposta ao Congresso será nos vagos “próximos meses”. Também do ponto de vista administrativo e legislativo, portanto, o anúncio não faz sentido.

Muito menos há sentido em um integrante do governo, no primeiro dia do ano e do próprio governo, anunciar alteração em um dos fatores mais sensíveis na relação entre governo e população. Como ato político é, no mínimo, de espantosa temeridade.

Nelson Barbosa dispôs de um elemento a mais para saber o peso, no governo, do tema salário mínimo. Esse elemento foi dado pela própria Dilma, menos de 24 horas antes do chamado aos repórteres para ouvir a comunicação do ministro do Planejamento: até por causa do seu desgaste com as escolhas de Joaquim Levy e Nelson Barbosa, nem na posse Dilma Rousseff deixou de reiterar a imutabilidade da regra vigente do salário mínimo. Nelson Barbosa estava lá, ouvindo-a.

Uma hipótese: velho crítico do salário mínimo, ao qual atribui efeitos corrosivos nas contas governamentais, como declarou contra a opinião de Dilma quando se iniciava a campanha eleitoral, Nelson Barbosa tomou-se da presunção de um poder mais do que suficiente para fixar, vitoriosa com ele, uma das suas insistências derrotadas nas discordâncias com Guido Mantega. E a imporia com Mantega ainda como ministro, não mais seu superior, mas um igual posto no papel de derrotado. Hipótese improvável, sim. Desprezível, não.

Outra, menos requintada: Nelson Barbosa quis testar o poder e a liberdade de ação de que vai dispor com Joaquim Levy. Um desafio. Recebeu a resposta ou parte dela, ambas insatisfatórias.

Pode-se imaginar uma série de outras hipóteses, melhores e piores. Até onde chego, nenhuma capaz de dar sentido administrativo ou político à atitude do novo ministro. Nelson Barbosa, no entanto, não sendo ingênuo nem de pouca inteligência, por certo agiu com um propósito que, a seu ver e cabe supor que no de Joaquim Levy, tem sentido.

A indagação que não se precisa fazer, talvez a mais importante, é a da absorção do episódio. É o caso típico das sequelas inevitáveis, tanto de quem se sentiu provocada como de quem precisou fazer uma retirada pública. Nenhum dos dois se olha e se ouve da maneira de antes. Com todas as consequências disso.

Redação

13 Comentários

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  1. Exatamente.

    Grande Jânio de Freitas. Exatamente. Sem tirar nem por. E quem não estiver satisfeito, peça para sair. Quem ficar, cumpra ESTRITAMENTE as determinações.

  2. Janio defende, Nassif ataca.

    Interessante, Jânio de Freitas defende a posição de Dilma e recrimina a posição do ministro dando razões sobre a intempestividade das declarações do ministro, já Nassif atribui a hormônios (ou a ausência dos mesmos) nas declarações da presidenta.

    O primeiro escreve de um jornalão, considerado por todos como um representante de primeira ordem do PIG, enquanto o segundo ataca de um site dito progressista.

    É totalmente bizarra a situação, mas de qualquer forma fico com a lógica, não com os hormônios.

  3. .

    Qualquer governo de composição carrega em si contradições e divergências. É impossivel governar com unanimidade no gabinete, não existe governo homogêneo. É ter consciência disso e procurar aparar as diferenças, embora em muitos casos se tenha que recorrer ao similar na medicina: Amputação.

  4. Sobre “Pitis” Santos (Ou: Quem chega lá, nunca é bobinho(a))

    Grande Análise, para variar, do Janio.

    Houve um “Piti” que ficou na História como sendo um “Santo Piti” (ou um “Piti” de um Santo).

    O Vídeo abaixo mostra que há Tempo para se dar o “Piti”, e Tempo para uma Estratégia à la Leão da Montanha (“Saída pela Esquerda”).

    Repare que Jesus, após o “Piti” no Templo, respira fundo, e faz uma Retirada Estratégica…

    https://www.youtube.com/watch?v=AqMRvrhw0S8

    https://www.youtube.com/watch?v=h0caSK3aBuo

     

  5. “Muito menos há sentido em um

    “Muito menos há sentido em um integrante do governo, no primeiro dia do ano e do próprio governo, anunciar alteração em um dos fatores mais sensíveis na relação entre governo e população. Como ato político é, no mínimo, de espantosa temeridade.”

    E o Nassif e mais um reporrter de brasilia, com o jornal o globo na mão, o mesmo em que um de seus colunistas ventilou que dilma estaria deprimida chorando pelos cantos, dizem que foi um “piti” da presidenta… Se o foi, foi muito bem dado.

    Esses cidadãos “respeitados” pelo mercado sempre vão querer “culltivar” esse “respeito”; estão presos a isso. Sabem que o mercado age como crianças mimadas, ou mesmo como adolescente que exige provas e cada vez mais provas de “amor incondicional”.

    Chamaram-no de modo até cansativo de “desenvolvimentista”. Ele sabe que isso pode virar “bullying” contra ele no futuro.

  6. Tirou daqui…

    Jânio percebeu que não tem santo nesse quiproquo. Alguém pode ter testado outro alguém.

    Considerando que as alterações nos esterores de 2014 nas regras de concessão de benefícios como seguro-desemprego, auxílio doença, pensão por morte e abono salarial já foram bastante criticadas pela a “esquerda”, o teor da abordagem do tema salário mínimo na entrevistra do empossado Ministro Barbosa foi, no mínimo, inoportuna.

    A oposição e parte da “esquerda” já estava pronta pra deitar e rolar no tema, pois a “vaca havia tossido”. Um estelionato eleitoral teria sido cometido por Dilma, todos bradariam – como bradaram. Pode ser que sim.

    Enfim, faltou “semancol” ao sujeito Ministro? Ou ele queria ir adiante, testando Dilma, achando que o “pacote de maldades” do fim de 2014 não era suficiente? Vai saber. Quem sabe jornalistas como Nassif consigam extrair isso de Barbosa. Falou o tecnocrata com pouca sensibilidade política. E se ficou Ministro, deve ter compreendido que, de fato, falou demais em momento impróprio. e quem avança o sinal, deve ser, no mínimo, chamado à atenção – com um belo e sonoro esporro. Tanto assim que Levy falou o óbvio, pois estava escaldado.

    Mas, de certo, algo teria e terá de ser feito. Algumas despesas com os benefícios andavam explodindo, e sem razão lógica de ser. Ora, numa situação de pleno emprego não se pode ter uma explosão na conta seguro-desemprego, ou quando a expectativa de vida aumenta se ter mais concessões de pensões por morte do que aposentadoria. Alguns trabalhadores fazem acordos com patrões, em conluio, para receberem seguro desemprego e continuarem trabaslhando. Idosos casam com mocinhas para que com a finalidade delas perceberem pensão por morte de modo vitalício. Não considero justo quem acha uma brecha legal para usufruirem de pequenas “Lava-Jatos” que lesam a sociedade.

    Estão perfeitas as alterações? Claro que não. Deve haver discussão no Congresso Nacional, pressão de entidades sindicais de trabalhadores e servidores públicos. Ajustes no ajustes serão esperados. Talvez, faltou colocar os servidores militares na mesma situação da pensão por morte, já que só os servidores civis foram atingidos. Como e aual motivo de livrarem a cara das empresas que tem um turn over elevado, pois está previsto na Constituição Federal que elas devam ser oneradas – mais tributos cobrados – em razão da terem uma elevada rotatividade. Aí, a conta ficou só com a parte trabalhadora, o que é um irremediável equívoco a ser resolvido. Todos devem contribuir para o tal ajuste de despesas.

  7. Sem piti, mas com firmeza

    Nelson Barbosa, com sublinha Jânio, não é um principiante. Falou sobre mudanças no calculo do salario minimo esperando o que…  Acho que como era sua primeira declaração publica, esperava que a presidente fosse aquiescer. Sera que estão [muitos] achando que depois desse fim de ano turbulento politicamente e, na logica de alguns, de “enfrequecimento” da presidenta, seria mais facil fazer aprovar certas propostas ? 

  8. acho que oarticulista

    acho que oarticulista explicou o motivo da prsidenta

    pedir a retificação necessára ao ministro.

    se o ministro não gostou é melhor qua  saia.

    na minha opinião, pode-se até mexer em algumas táticas

    do governo,.

    mas na estratégia política, jamais.

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