Uma eleição a ser decidida pelo voto dos indecisos, por J. Carlos de Assis

Eleições presidenciais sempre tem um caráter plebiscitário e suscitam um tipo de paixão especial que conjuga juízo do valor sobre o passado e vagas expectativas sobre o futuro. O balanço entre passado e futuro nem sempre é racional. A expectativa muitas vezes vence a experiência. Por uma inclinação inata sempre esperamos um futuro melhor que o passado, não obstante a bruma que sempre recobre aquilo que está por vir. A razão deveria nos orientar. Mas quem apela para a razão numa eleição plebiscitária?

Em muitos aspectos, uma eleição presidencial não se difere muito de um antigo FlaXFlu. Por alguma razão nunca claramente especificada – afinal, por quê sou Flamengo ou sou Fluminense? -, escolhe-se um partido ou um candidato, e isso determina uma atitude política até o fim da eleição. Claro, não estou falando de militantes que tem razões objetivas ou racionais para escolher um ou outro candidato. Falo da grande massa dos indecisos, dos que não tem preferência clara no início da campanha e nem razões para se decidirem no fim.

Entretanto, são justamente os indecisos que definem a eleição tão disputada como a atual. Eles se situam num ambiente dominado sobretudo pela desconfiança dos políticos profissionais, descritos sistematicamente pelos formadores de opinião como corruptos, ladrões e imorais. Como, na política real, há efetivamente políticos corruptos, ladrões e imorais, o cidadão de informação mediana sente-se perdido. Suponha-se que ele queira mudar essa situação? Ele teria de escolher, entre todos os políticos corruptos por definição, algum que fosse honesto. Como fazer? É uma aporia.

Consta que Ademar de Barros, o antigo condestável da política de São Paulo, hoje dominada pelos tucanos, resolveu esse enigma: seu lema seria “rouba mas faz”. No entanto, uma atitude cínica desse tipo não resolve o dilema do verdadeiro indeciso. Ele é puxado para trás mais do que impelido pela frente. E atrás não significa o comportamento de um, mas de muitos. Num país, como o nosso, em que tudo se espera do governo, um chefe do governo não tem espaço de manobra para justificar os desvios de seus subordinados. É culpado por tudo que acontece no seu governo.

A propósito, o ministro do Supremo, luminar desses novos tempos, Joaquim Barbosa, introduziu na doutrina do direito brasileiro a figura da culpa pelo “domínio funcional do fato”, pelo qual a simples posição hierárquica, sem necessidade de provas materiais, define a responsabilidade penal sobre os atos de quem está embaixo. O indeciso é o tipo do sujeito influenciável por esse tipo de raciocínio. O que o faz balançar para o outro lado é a suspeita de que, por trás do linguajar jurídico, haja uma imensa dose de charlatanismo.

Como conquistar os votos dos indecisos? A meu juízo, os indecisos são fundamentalmente de dois tipos. Os que condenam o passado – seja materialmente, seja ideologicamente -, sem terem esperanças sobre o futuro, e os que consideram o passado bom mas que alimentam a esperança de uma mudança para melhor, embora não tenham certeza sobre quem escolher e sobre o que é melhor. Uns tendem a renegar o passado, outros não tem segurança sobre o futuro. Por causa da ambiguidade, o marketing político tem dificuldade em influir na escolha.

Na corrida presidencial atual, os indecisos, como regra geral, até gostam de Dilma, mas esperam mais de Aécio. Gostam de Dilma pelo que ela fez, e esperam de Aécio pelo que ele ainda não fez mas promete fazer. É no ponto de equilíbrio entre essas duas atitudes que se encontra o destino do Brasil. Não é nenhuma novidade. É assim em toda a democracia. No meu caso particular, movido por uma escolha racional em Dilma, só peço a meus queridos amigos que reflitam bem sobre suas escolhas, controlando a emoção. A despeito da importância transcendental de uma eleição presidencial, não vale a pena sacrificar amizades pessoais numa eleição que muitos imprudentemente transformam num Fla X Flu. Como diria Fernando Pessoa, “não vale a pena”. 

J. Carlos de Assis – Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.

Redação

12 Comentários

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    1. Fala sério!

      Parei quando o filósofo coloca que na época da Ditadura Militar a esquerda dominava a grande imprensa e imprensa nanica de oposição, que o jornal O Globo estava cheio de comunistas é demais! Caracá, para o sr, a história é interpretação, mais do que isso, tem que ser do modo que eu quero ver!

      1. Sabia que, por exemplo, o

        Sabia que, por exemplo, o jornalista mais autenticamente petista de toda mídia nacinal, Mino, era nesssa época redator chefe da Veja.

      2. Saiba que os generais demitia

        Saiba que os generais demitia ao máximo docente das públicas que prestavam e faziam rigorosa seleção, concurso pura fajutice, até tendo que fazer entrevista com general para testar se o cara prestava mesmo para o regime, e no dia seguinte que assumia a turma o cara se revelava um esquerdista capaz de doar seu sangue para derrubar o regime. Foi por isso que quando houve a abertura os petistas foram linha de frente para que todos fossem efetivados sem concurso

      3. Logo depois da instalação da “Redentora”

        esse jornal que você citou divulgou uma lista bem grande de comunistas e o mais interessante dessa lista é que depois de alguns anos a grande maioria dos citados acabou trabalhando nesse jornal. 

        É extremamente curioso isso ! 

  1. O VOTO DOS QUE FALTAM TAMBÉM PODE DECIDIR!

    Mas quem falta vota?

    Levando em conta, que na época do papel os mesários corruptos usavam o dedo como carimbo, e que agora basta um mesário liberar eletronicamente, pro outro votar…
     

    SEM PARTICIPAÇÃO, NÃO EXISTE DEMOCRACIA!

    AJUDE A FISCALIZAR A ELEIÇÃO.

    APRENDENDO COM OS MELHORES ESPECIALISTAS!

    O vídeo tem apenas 3 minutos:

    https://www.youtube.com/watch?v=wQEsHOqXP9s

    É muito perigoso fraudar o programa que vem dentro da urna (mas não é impossível). Imaginem se um hacker identifica a fraude…

    O maior perigo está na transmissão dos votos!

    Assim que acaba a eleição, às 5 horas da tarde, os mesários imediatamente devem emitir o boletim de urna, onde já sai quantos votos cada candidato teve.

    Se a gente não estiver presente, observando esse processo, eles podem até trocar os boletins, por outros falsos.

    Os mesários são obrigados a fazer tudo de forma transparente, para que todos vejam a emissão dos boletins, e depois devem colar um deles no local onde ocorreu a votação. Se não fizerem isso é crime eleitoral, é caso de polícia, que deve ser chamada ao local! Caso isso ocorra, você pode denunciar filmando, ou então fazendo uma reclamação (impugnação) por escrito, e pedindo para 2 pessoas assinarem.

    É só deixar pra ir votar no fim da tarde e esperar. Levem o celular, fotografem os boletins de urna, depois mandem as fotos para o endereço do vídeo acima, e também para seus candidatos.

    VOCÊS JÁ VIRAM A CAMPANHA DO NÃO VOTE?

    Deve ser uma verdadeira

    PREPARAÇÃO PARA A FRAUDE

    Sabendo que muitos não vão votar, eles podem corromper o máximo de mesários que conseguirem. Na hora que a sala fica vazia, principalmente depois das 5 hs da tarde, quando acaba a eleição; é aí que eles agem, liberando eletronicamente para votar, quem não compareceu; e os próprios mesários votam no lugar dessas pessoas.

    Quem reiteradamente deixa de votar em toda a eleição, prevendo que não votarão dessa vez também, os corruptos podem votar por eles, assim que der uma brecha, a qualquer hora do dia, e ficarem sozinhos na sala. Quem falta, dificilmente vai conferir sua situação no cartório eleitoral, e ficará até feliz, se não lhe cobrarem a multa. Embora possam dar um jeito nisso também (cobrar a multa), para não levantar suspeita. Ninguém confere as assinaturas que são feitas, quando vamos votar. Uma vez fraudado, já era…

    Na época do voto de papel, para vocês terem ideia, os mesários corruptos faziam um “X” bem forte com caneta no dedo. Quando viam um voto em branco, marcavam o “X” em seu candidato; além de anular o voto dos outros.

    OS MESÁRIOS NÃO PODEM FICAR UM SEGUNDO SOZINHOS

    Também é importante acompanhar o que os mesários vão digitar na urna, na hora de imprimir o boletim, Filmem o que puderem, e denunciem as irregularidades. nessa hora, eles podem até votar no lugar de quem não compareceu. Tudo deve ser fiscalizado. Enquanto fingem configurar a urna para a impressão do boletim, podem estar votando no lugar de quem faltou.

    Os disquetes com as informações precisam ser transportados com segurança para o local de transimissão. Verifiquem se há alguma identificação no disquete, pois ele pode ser trocado por outro. O ideal é que seja colocado num envelope lacrado, e todos os fiscais assinem o lacre do envelope. Não confie em ninguém, nem nos outros fiscais. Fiscal serve para fiscalizar, não para confiar nos outros. Você também pode tornar-se um fiscal oficialmente, basta ir ao diretório de qualquer partido, e pedir uma credencial. Mas mesmo como cidadão comum, você pode acompanhar todo esse processo de fiscalização, e impugnar a eleição, que é pública.

    A TRANSMISSÃO DOS VOTOS!

    Pergunte aos mesários o endereço, para onde levarão os disquetes. Vá ao local de transmissão, logo após a votação, normalmente no fórum da cidade; que deve ser aberto ao público, para ver se os mesmos disquetes que chegam com os mesários, são os utilizados nos equipamentos de transmissão.

    Garantam seus direitos, não se deixem passar por palhaços. Denunciem qualquer irregularidade, e protestem caso seja necessário. Se não participarmos agora, depois não adianta reclamar…

    Vejam essa outra explicação de especialistas, também com apenas 3 minutos:

    https://www.youtube.com/watch?v=3sIE6AxJKkU

  2. Mas o que me pareceu ontem é

    Mas o que me pareceu ontem é que os votos indecisos ficaram iguais as ultimas pesquisas. O que chamou atenção foram votos do Aécio para Dilma.

  3. vale mais agora o argumento

    vale mais agora o argumento mais racional: o convencimento..

    a comparação do que deu certo com dilma

    contra as promessas falaciosas do aécio,.

  4. vale mais agora o argumento

    vale mais agora o argumento mais racional: o convencimento..

    a comparação do que deu certo com dilma

    contra as promessas falaciosas do aécio,.

  5. Não gosto dessa denominação

    “indecisos”, prefiro muito mais chamá-los de decisores tardios, ou decisores derradeiros, a meu ver muitíssimo mais apropriados. 

    Num empate dentro da tal margem de erro (que para mim é beeeeem maior do que a anunciada) são os decisores derradeiros que vão fazer o ponteiro da balança pender para onde interessa. 

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