Empregos de merda mais as merdas de emprego.

Empregos de merda mais as merdas de emprego.

Ao passear aqui pelo portal vi este artigo muito interessante sobre o que o autor, David Graeber, denominou os “Empregos de Merda”.

Como vi que há uma dificuldade de se entender o que se passa no setor que o autor chamaria de empregos produtivos, resolvi fazer uma pequena complementação, não chamando estes empregos de “empregos de merda”, mas sim das “merdas de emprego”.

Vai aí a comentário que postei lá no site original, não sabendo como serei recebido, ou até se serei recebido, sobre assunto que eu conheço a evolução história da atividade do engenheiro. Com algumas correções vai o texto postado.

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 Caros amigos, acho que a reflexão deve ir ainda mais fundo, pois além dos empregos de merda temos as merdas de empregos criados pelo falso conceito do aumento de produtividade. Vou explicar melhor na área que mais conheço, na engenharia.

Lá pelos anos 50 e 60 tínhamos uma categoria, que alguns chamariam de produtiva (como se houvesse isto) que eram os engenheiros.

Quando um engenheiro atingia algum status laboral devido a sua qualidade ele se cercava por um bando de pessoas que orbitavam em torno de seu trabalho. Tínhamos os desenhistas, os projetistas, as datilógrafas (o bom engenheiro rascunhava, a secretária ou um engenheiro menor – não em tamanho – redigia e a datilógrafa, datilografava – lógico, né!) sem contar com outros auxiliares de menor ação direta sobre o trabalho que davam suporte, como telefonistas, secretárias de diversos níveis, faxineiras, office-boys, …….Ou seja, vinculado ao trabalho de um engenheiro de ponta tínhamos no mínimo duas a três dezenas de pessoas que o assessoravam.

Agora vamos a outro fator, o aspecto salarial. Este engenheiro que era o núcleo e a base de projetos importantes e de grande porte tinha um salário bem acima de seus assessores, lhe dando a impressão que ele era um grande chefe, um verdadeiro colega do patrão e dono da empresa. Adotava totalmente a ideologia do patrão, sendo mais até mais rigoroso do que o mesmo na exploração dos demais empregados. O salário para a época era fantástico, porém uma fração dos salários dos CEOs que atualmente servem não para produzir nada, mas sim para produzir lucros no próximo trimestre ou no máximo no próximo exercício do ano fiscal, não importando que nos próximos anos a empresa entre em falência. Com este salário que lhe permitia uma vida confortável o mesmo podia ao fim do dia ir para sua casa e passar algum tempo com a família e gozar de alguns privilégios que eram característicos da época.

Corta a imagem e agora apresentamos o engenheiro especialista do século XXI, ele não tem mais datilógrafa, pois ele mesmo digita, redige e corrige seus próprios textos. Também não tem desenhista, pois no lugar de esquemas ele usando um CAD com eficiência ele projeta diretamente. Os engenheiros assessores foram substituídos por estagiários, que fazem também o papel de office-boy, secretário, e eventualmente dos projetistas profissionais.

Telefonistas não são mais necessárias, pois com os “confortos” da sociedade moderna ele pode atender e ligar diretamente a quem quiser. Quando vai para casa leva consigo 90% de todo o escritório, resultando que os famosos privilégios de cinquenta anos atrás ficaram para as férias (que são bem mais curtas) e que mesmo nestas ainda leva o seu “lap-top” interligado a Intranet do escritório que permite atualizar o andamento de outras atividades.

Sob o ponto de vista salarial ele ganha o equivalente ao que ganhava mais uns 30% de todo o pessoal que foi demitido. Importante, o custo do projeto que ele faz foi majorado bem mais do que a economia gerada pela demissão daquele grupo enorme dos seus colaboradores, podendo ele ganhar uma pequena parte do que foi acrescido no lucro da empresa.

Como ele não tem mais um fim de dia nem um fim de semana livre (sem falar nas férias que se transformaram em trabalho) quem o gasta são os filhos e a esposa num psiquiatra que procura tratar a falta da figura paterna em casa e outros que tratam de “tratar” a esposa pela falta do esposo! Um dos motivos da boa remuneração de alguns professores de tênis ou “personal trainers”.

Resumindo, um emprego que tinha status e dava conforto ao profissional foi transformado numa merda de emprego, que tortura quem antes era um torturador, e transforma a sua vida numa sucessão de períodos de infelicidade. Mas ele tem um i-Phone, um i-Tablet, um ai qualquer coisa que o permite transformar em alguém conectado e prisioneiro de seu próprio sucesso. Talvez lá pelos oitenta anos, se as várias pensões das várias esposas que o mesmo teve que pagar durante a sua vida, ele possa tranquilamente tomar uma boa sopinha num SPA para velhos executivos, ladeado de enfermeiras que profissionalmente vão tirando o resto do dinheiro que lhe sobrou.

É ou não é uma merda de emprego!

Redação

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