…do desespero de se viver num mundo surreal…

“Todo o jogo é esse, uma sucessão de argumentos retóricos em que o objetivo final não é a busca da verdade, mas o convencimento do público.” – (ponto 7 do artigo do Nassif “Xadrez dos embargadores da verdade de Lula”)

Ao demonstrar o absoluto vazio do conteúdo dos discursos midiáticos em relação ao julgamento de Lula, Nassif, você trouxe parte da verdade. A outra é óbvia, não precisava ser manifesta: manipula-se uma sociedade nesse nível, a ponto de levá-la à cegueira, ao fanatismo, por interesses claros de poder – a destruição do inimigo e o fortalecimento de todos os segmentos de força da sociedade que estejam afinados com esses interesses finais. A RETÓRICA, ou o discurso, nesse caso, jamais são um fim em si mesmos, atinge-se a finalidade do apaziguamento social, via manipulação das mentes porque só assim evita-se a reação da sociedade àquele projeto de PODER – cuja “instalação” e manutenção são os grandes objetivos.

Nesse aspecto, a grande mídia foi diabolicamente eficaz: aproveitou-se da indiferença, ignorância e da grotesca falta de conhecimento mínimo dos fatores sociais e políticos que fazem do nosso país um dos “campeões” mundiais de miséria, injustiças de toda sorte, opressão selvagem e diversificada sobre milhões de seres humanos há séculos, e RECRIOU uma “nova realidade”, um mundo surreal, um “mundo-matrix”, com direito a heróis e demônios, o bem e o mal, algo facilmente digerível pelas mentes simplórias de uma elite social e classes médias absurdamente desacostumadas ao pensamento crítico aprofundado, independente, livre…. – o que essas pessoas são incapazes de enxergar em si mesmas por se olharem no espelho e receberem de volta uma imagem INFLADA pelo “NARCISISMO DE CLASSE” – “Eu, ignorante, preconceituoso, manipulado e levado ao fanatismo? Ora, fiz faculdade, sou um vencedor, não voto por bolsa esmola como os nordestinos ou favelados, não voto no ladrão analfabeto e tosco chamado Lula…” – pensamento e sentimento comuns a esses brasileiros – que confundem o sucesso profissional e financeiro e o precário verniz cultural adquirido ao longo da vida, com “superioridade intelectual e existencial” diante de um povo miserável, sofrido e sem Educação formal….. – um prato cheio para a formação de uma sociedade medíocre, narcísica, vazia e indiferente – portanto, ALTAMENTE manipulável!

Não se domina uma sociedade sem FRATURÁ-LA primeiro, e uma das condições para essa fratura é a criação de um “DEMÔNIO SOCIAL A SER ODIADO”, a ser pensado e sentido como “O MAL EM SI” – nada mais natural que esse demônio fosse apontado como Lula e seu partido, logo depois estendido o conceito a qualquer apoiador desse “lixo humano”, esse “chefe de quadrilha”, esse “cínico enganador da pobretaiada ignorante brasileira”, e logo tínhamos artistas agredidos verbalmente nas ruas, por sua falta de caráter, por serem canalhas, ou “merdas”, a ponto de apoiarem Lula e o PT.

Se temos demônios, precisamos de “EXORCISTAS”, além de bons candidatos para os cargos públicos. À essa altura, uma sociedade levada a paroxismos, histeria coletiva, “nojo do mal”, abraça como uma “FÉ FUNDAMENTALISTA” todos os mantras neles incutidos pelos “PASTORES DO REBANHO”. De quebra, ainda ganham a agradável sensação de “pertencimento à classe social superior”, basta ver as expressões corporais, os risinhos de deboche e “esperteza” de qualquer brasileiro de classe média ou rico, numa roda social em que a conversa seja sobre o Brasil – todos reverberam os mesmos conceitos, e cada um tenta exibir mais fortemente que o outro sua AVERSÃO ao que “é chulo”, “é desprezível”, “é nojento”….. – Lula, Dilma, PT, e as ideologias “esquerdopatas” em geral.

Então, temos uma sequência de heróis: Joaquim Barbosa é o Batman, Aécio na capa da Veja é o “super-homem”, Moro, “o justiceiro”, a Polícia Federal chegando ao ponto patético de usar vestimentas quase que de “guerra contra terroristas ativos”, para prenderem um político, um professor universitário, ou conduzirem Lula para depor coercitivamente, com cem homens armados até os dentes em sua porta……. A “República de Curitiba”, o bem, contra o mal, Lula, o PT, a classe política como um todo – ressalvados os “dignos”, os intocáveis de sempre…….

Vivemos portanto, enquanto “sociedade ativa, enquanto força social”, no pior dos pesadelos: um MUNDO SURREAL, criado pela mídia, abraçado ferozmente, esse mundo e suas crenças e valores, pela parcela da sociedade que tem força e voz políticas, e onde TODOS OS FEITOS do maior líder popular mundial nos últimos vinte anos, são execrados, desqualificados, tornados nulos, enquanto ele mesmo, Lula, é TORNADO a fórceps de bombas semióticas, num “ladrão comum”, um “patife”, um ser ordinário que se locupletou no poder “para chefiar a quadrilha petralha”. Só uma sociedade tornada tosca a esse ponto, daria 50 milhões de votos a um ser abjeto e medíocre como Aécio Neves. Só uma sociedade com a razão INTERDITADA, respeitaria e celebraria um homem perverso, sádico, um PSICOPATA DA PIOR ESPÉCIE, como Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato. Porque no mundo-matrix, isso faz todo sentido, no mundo real, é o que é: essa mistura triste, trágica, de doenças mentais e morais, de seres que já não respondem por si livremente, FANÁTICOS que se tornaram, sob o PESO do discurso, da retórica desse “novo-velho-Brasil”.

A coisa toda tomou proporções tão inacreditáveis, tão dantescas, o quadro é tão desesperador, que a FARSA já assume de modo “natural” o lugar da verdade…… Homens com a responsabilidade imensa sobre seus ombros, como esses três desembargadores, sem pudor algum, sem dúvidas na alma, rendem-se ao “mundo-matrix” e suas exigências de aniquilamento total do inimigo, Lula – sem que suas consciências pesem, pelo horror da injustiça, pela perversidade de destruírem um homem inocente, um homem que é respeitado e admirado em todo o mundo por sua obra, seu governo. A doença vai ao ponto do discurso elogiar a patifaria, e todos os envolvidos na farsa, fingirem que há qualquer resquício de verdade na ficção patética, nonsense, imoral…..

Como se vive num mundo assim? Como se vive num mundo onde a FARSA passa a ser o chão onde se caminha todos os dias, o ar que se respira? Não vive-se, desespera-se! A questão passa a ser “qual o nível que podemos suportar de violência à verdade e à justiça, e o consequente DESESPERO, até não valer mais a pena viver assim….?” – ESSA É A QUESTÃO!

Por fim, um “detalhe” – a impressão que dá a essa altura, é que mesmo nós, os lúcidos de todo o horror, meio que seguimos os passos de Lula e Dilma: ingenuamente, inacreditavelmente, é como se vivêssemos nós em nosso “mundo surreal à parte” – onde enxergamos os males, os vícios, a violência deles, o cinismo….. MAS SEGUIMOS EM FRENTE, como se nos bastassem os “Nassifs, Hortas, Azenhas, Aragões”, e tantos outros, que nos trazem suas excelentes análises, para que “saibamos mais da realidade…..” – É quase como um grande aquário masoquista, onde nos empanturramos de ESPANTOS, indignações, mas sem sairmos do aquário, esperando o que mesmo…..? que “as instituições tomem vergonha e salvem Lula da prisão?” que algum juiz cesse a venda dos nossos ativos, a entrega da Eletrobras, do Pré-sal, e até dos nossos aquíferos? A letargia e a catatonia, nessa sofrida “espera de Godot”, tornou-se o “nosso mundo surreal”, nosso “mundo-matrix dos brasileiros indignados”.

Requião, Lindbergh, Bresser Pereira, Eugênio Aragão, Lula, Boulos, senhores articulistas, todo brasileiro enfim, com voz, lucidez e alguma representatividade política e/ou social, têm a partir de agora, que a FARSA ultrapassou todos os limites aceitáveis, que se levantar e indicar caminhos de resistência e luta.

No mundo real, estamos em GUERRA! A ditadura midiático-judiciária já está instalada, segue destruindo tudo e todos do nosso lado, não basta mais a lucidez, a indignação, a dor, o desespero, o “saber o que estão fazendo ao meu país”….. – Não podemos ser “republicanos”, como Lula e Dilma foram. O nosso “mundo-matrix”, no momento, é essa rendição apática de nossa parte – mesmo reconhecendo que foi linda e forte a união em torno de Lula. Mas a questão, é que “eles não pararam….” e não vão parar, porque eles não têm limites, nem escrúpulos. E a sociedade à nossa volta sequer sabe o que estamos vivendo. Chega de nos desesperarmos por causa do mundo surreal, farsesco, selvagem e perverso que eles criaram. A hora é de ter coragem!

Redação

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