A queda do herói precede ou possibilita a perda do território?

Em 2016 o Brasil perdeu sua presidenta eleita: Dilma Rousseff foi impedida de governar através de um processo fraudulento. Todos os ex-presidentes praticaram pedaladas fiscais e não foram incomodados pelo Congresso. Após assumir o cargo, o usurpador Michel Temer foi autorizado a fazer aquilo que resultou na condenação da legítima titular da faixa presidencial. Em 2018 o Brasil perdeu seu maior líder operário: Lula foi condenado e se tornou inelegível através de uma fraude processual. O crime que ele teria cometido exige o recebimento de vantagem ilícita, mas o TRF-4 considerou irrelevante o fato do ex-presidente não ter recebido a posse e a propriedade do Triplex.

Entre um ato e outro, consolidou-se uma nova realidade. A Petrobras começou a ser desmantelada e privatizada. A indústria naval brasileira foi destruída porque nossa petrolífera decidiu transferir a produção de navios e plataformas para o exterior. O petróleo do pré-sal foi rapidamente entregue a preço de banana aos estrangeiros. A perda de uma presidenta eleita e do candidato presidencial preferido dos brasileiros irão causar um prejuízo permanente ao Brasil.

O que nós perdermos outros irão ganhar. Mas isso apenas os fará desdenhar ainda mais do nosso país. Foi exatamente por isso que disse que estamos sendo recolonizados:

https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/a-marcha-da-recolonizacao-do-brasil-0

https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/com-o-stf-com-tudo-o-decreto-nero-ja-entrou-em-vigor-no-brasil-por-fabio-de-oliveira-ribeiro

A História nunca se repete. Mas ela é um repositório de lições úteis e indispensáveis quando pensamos na vida dos Estados e na sobrevivência das nações.  

Heródoto, por exemplo, conta em detalhe as desventuras dos ossos de Orestes. Os espartanos são constantemente vencidos pelos tegeatas. Tal regularidade não podendo ser atribuída senão à hostilidade de algum deus, consultaram a Pítia, que lhes promete vitória no dia em que tiverem mandado vir para junto dele os ossos de Orestes: então ‘tu te tornarás protetor de Tegeia’. Após longas buscas, um espartano, Licas, terminou descobrindo os ossos em Tegeia mesmo, na casa de um ferreiro; ele os transportou para Esparta, onde foram enterrados na ágora: ‘a partir desse momento, todas as vezes que os lacedemônios e os tegeatas lutavam uns contra os outros, os lacedemônios levavam uma vantagem’.”  (O espelho de Heródoto, François Hartog, editora ufmg, Belo Horizonte, 2014, p. 172/173)

“Quando os tegeatas ‘perdem’ Orestes, perdem, ao mesmo tempo a supremacia militar e, no fim das contas, a supremacia de seu território; simetricamente, os espartanos ganham o que perdem os tegeatas: o herói é, pois, como que a figura metonímica do território.” (O espelho de Heródoto, François Hartog, editora ufmg, Belo Horizonte, 2014, p. 173)

O fenômeno referido por Hartog é tão relevante que tem sido explorado pelos artistas desde a antiguidade https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/a-queda.

Os militares brasileiros, homens aferrados ao território e aos símbolos que garantem a existência duradoura do Brasil, deveriam prestar mais atenção ao que está ocorrendo. Dilma Rousseff e Lula são metonímias do território brasileiro. Ao perde-los nosso país perdeu também a soberania, a autonomia política e o controle do território.

 

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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