Ser ou não ser… um Brasil shakespeariano, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Ser ou não ser… um Brasil shakespeariano

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Hamlet oscila entre a realidade e a loucura, entre o amor e a solidão, entre a amizade e o ódio, entre a vingança e a resignação e, por fim, entre a vida e a morte. O espectador fica sem saber se ao protagonista falta a convicção para vingar o pai ou a vontade de se tornar rei eliminando o tio usurpador.

Ser ou não ser… A dúvida sobre a veracidade das palavras do fantasma do pai que incriminam o novo rei transforma-se em patologia (ser e não ser) quando a peça dentro da peça revela também a culpa da mãe (ela se casou com o assassino). No final a vingança consuma a afirmação do ser, mas Hamlet se desfaz no não ser, ou seja, na morte.

Antes dos governos petistas o Brasil era e não era uma democracia. Muito embora os eleitores pudessem votar, a esmagadora maioria deles não tinha acesso à educação universitária e ao consumo de bens e serviços.

Sob os governos petistas diversas universidades públicas foram criadas, o financiamento da educação universitária privada se tornou uma realidade ao alcance de todos, os estudantes pobres puderam ir completar sua formação no exterior. Em razão da distribuição de renda, do aumento do salário mínimo, do crescimento econômico e do financiamento de habitações o consumo se tornou uma realidade para dezenas de milhões de brasileiros.

A ascensão dos pobres, porém, foi vista pela classe média como se fosse um rebaixamento do seu próprio status. Ser e não ser uma democracia se tornou uma patologia sócio-política vomitada e diariamente instigada pela imprensa. Mesmo desejando a realização de eleições, os jornais, telejornais e revistas passaram a deplorar o resultado delas quando a população vota errado. O autoritarismo jornalístico (desde quando o certo numa democracia é o povo se limitar a votar como os donos das empresas de comunicação recomendam?) criou as condições indispensáveis que possibilitaram o golpe de estado de 2016. Desde então não somos mais uma democracia.

Na tragédia de Shakespeare ninguém é poupado. Hamlet havia perdido o pai e perde também a amada. Antes de se vingar ele se transforma em assassino, depois disso ele morre causando imenso sofrimento a mãe. Todas as personagens que estão em volta do príncipe da Dinamarca são afetadas pela sua dúvida, pela sua patologia e pela sua ação, inclusive aquelas que não foram responsáveis pelo assassinato do pai dele. Em razão de estar morto, apenas Yorick é incapaz de sofrer.

O simulacro democrático em que vivemos se completa através da ação do Poder Judiciário. A cada decisão excepcional que legitima ou reforça a nova ditadura destruindo, sob a aparência da legalidade, os dois principais princípios democráticos (igualdade perante a Lei e soberania popular), os juízes confirmam que o ser do Direito (abstrato, universal e impessoal) foi substituído pelo seu não ser (seletividade, casuísmo e parcialidade).

Hoje Lula será injustamente condenado. Ser ele culpado ou não é irrelevante. Os inimigos dele no MPF e na Justiça Federal estão convictos de que o processo do Triplex é apenas um meio para um fim: impedir o povo de eleger alguém considerado indesejado pelos donos das empresas de comunicação. Dentro e fora dos Tribunais os inimigos da democracia irão comemorar a inabilitação eleitoral do sapo barbudo.

Hamlet é a tragédia da indecisão, mas também a do déficit de justiça. Ao assassinar o irmão o novo rei (juiz em última instância de todas as disputas do reino) se tornou suspeito para julgar a pretensão de Hamlet e inapto para julgar seus próprios atos. O poder que foi obtido através de um crime só pode ser perdido mediante uma ação igualmente criminosa. Há algo de podre no Brasil, mas a nossa tragédia shakespeariana está apenas começando.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

5 Comentários

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  1. Caro Fábio, o Brasil está

    Caro Fábio, o Brasil está deixando de exisitir. Tudo o que havia de bom ficou no passado, enterrado pelo poder das máfias que sequestraram o Estado. A única esperança é uma revolta popular que vire o país do avesso. 

  2. Prezado Fabio
    Boa tarde
    Por

    Prezado Fabio

    Boa tarde

    Por enquanto não há e nunca houve tragedias, o que há são apenas negocios e quando aparece alguém querendo atrapalhar é retirado como foram todos que tentaram. Simples assim!

    Comentei algumas vezes com o titular que era para o petismo ter largado o osso em 2010, porem, insistiram e trouxeram alguém que resolveu bater de frente com os patrocinadores da pantomima democratica chamada Brasil!

    Quem manda são os patrocinadores, (elites e oligarquias), e não o povo!

    Povo é parte da pantomima que chamamos de democracia!

    O petismo teve 15 anos para enquadrar os patrocinadores, resolveu prende-los!!!

    Deveriam fazer um estagio com o Maduro, de como fazer isso!!!

    Abração.

     

    1. Nunca antes na História do
      Nunca antes na História do Brasil três Desembargadores lamberam tanto as bolas de um juiz de primeira instância diante das câmeras de TV. Em São Paulo o povo reunido na Praça da República já revogou a decisão ilegal proferida no TRF-4.  

  3. Na corte do TRF-4 não ha inocentes

    Muito boa comparação. Se não me engano, Hamlet se faz de louco e joga com todos os peões de seu tabuleiro para ter ao fim a certitude de que Gertrude, sua mãe, se deixou corromper e se aliou à seu tio, sendo cumplice do assassinato de seu pai. Mas na corte de Hamlet não ha inocentes, mesmo a pobre Ofélia é sacrificada por ser filha de um homem de baixa estatura moral. Na corte brasileira também não ha inocentes e quem esta sendo sacrificado é o homem que poderia mudar tudo o que vem sendo implantado por Temer desde a queda de Dilma Rousseff.

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