Brasilianas.org: O setor de engenharia e o pré-sal

Do Brasilianas.org

“É preciso correr com os investimentos 

Por Dayana Aquino

Alicerce da indústria do petróleo, o setor de engenharia está confiante na capacidade das empresas e profissionais brasileiros em atender a demanda do pré-sal. À frente da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi), órgão que congrega 120 empresas, Carlos Maurício de Paula Barros diz que a demanda e os desafios do setor já foram maiores no passado, após a retomada de áreas, como o setor naval, que aqueceram a engenharia nacional após anos de estagnação. O momento coincide com uma maior preocupação das empresas em investir em pesquisa e tecnologia, como modo de ampliar sua competitividade. Há pelo menos 300 projetos de pesquisa, partindo das empresas, em busca de financiamento.

Barros também avalia ser necessário acelerar os trabalhos de exploração e produção das bacias, tanto para subsidiar o setor com informações sobre a nova fronteira exploratória, como para garantir a venda do petróleo a preços que remunerem a cadeia.

DV- Os números entorno da exploração do pré-sal são gigantescos, e refletem em uma movimentação na indústria. Como o setor de engenharia está se preparando para atender esse novo universo exploratório?

CarloCarlos Barros – O setor de engenharia vem atendendo a demanda crescente, que é, inclusive, menor do que a que existiu há alguns anos. Em 2003, com a decisão política de construir as plataformas P-51 e P-52 no Brasil, o governo Lula deu confiança ao mercado. Foi um divisor de águas, pois a demanda cresceu e o mercado vem acompanhando esse crescimento. As empresas associadas à Abemi tiveram em 2009 uma demanda 10 vezes superior a de 2003. O número é expressivo, mas mesmo assim, percentualmente, a demanda de 2003 foi maior. O movimento está sendo muito grande em torno do setor petróleo. A Petrobras fala em aportes de R$ 224 bilhões até 2015. As empresas estão se preparando de duas formas para atender a essa demanda. Uma é através do treinamento de pessoal e a outra é na melhoria da competitividade.

– E como estão sendo conduzidas essas ações?

CB – O principal vetor da qualificação ainda é o Promimp [Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural], que formou 78 mil alunos em maio deste ano. Na competitividade, instituímos uma comissão que avalia financiamentos, produtividade e oportunidades.

– O setor de engenharia é frequentemente citado quando o assunto é recursos humanos. O maior gargalo do setor ainda é a mão de obra ou a qualificação?

CB – Hoje, o maior gargalo é a mão de obra, pois temos instrumentos para qualificação. Com a crise, algumas empresas liberaram mão de obra, que pode ser aproveitada para a demanda do setor petróleo. Os trabalhos são semelhantes nos setores de mineração e celulose, por exemplo. Sobrou gente e as qualificações são as mesmas. Caso os setores retomem as atividades a situação será diferente.

– Então pode faltar mão de obra caso os setores reabsorvam os funcionários?Ou seja, o déficit depende de demais setores?

CB – Se retomar a atividade do período pré-crise, sim. Mas temos resolvido por meio do Prominp e das empresas que estão fazendo sua própria qualificação. Um dos exemplos dessa iniciativa é o estado de Pernambuco, onde as empresas como o Estaleiro Atlântico Sul estão resolvendo o problema localmente, com qualificação própria.

– Alguns especialistas defendem que umas das formas de ampliar a competitividade é a inovação, que torna o produto com valor agregado mais aceitado no mercado, mesmo que com maior preço, ficando menos volúvel e dependente às variações cambiais. A comissão também trabalha neste sentido?

CB – A inovação está ligada ao financiamento. A FINEP [Financiadora de Estudos e Projetos, órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia] sempre se distanciou da empresa, porque o elo era a faculdade e a indústria também não era muito próxima de pesquisas, já que trabalhava com capacidade ociosa. Mas esse perfil está em mudança. O próprio Prominp desenvolveu um setor para solucionar esses problemas. O Prominp Tecnológico terá a inovação e a pesquisa como temas. O programa mapeou e dividiu os processos industriais em 18 segmentos, que foram analisados sob a ótica da competitividade. Desses (18), foram identificados gargalos tecnológicos em seis segmentos, como válvulas, conexões, caldeiras, flanges e construção naval. Esse assunto [de pesquisas] será resolvido através do FINEP, juntando empresas e universidades. Já teve proposta de R$ 100 milhões em pesquisas financiadas pelo órgão às empresas do setor. Foram elaboradas 300 propostas, um demanda de R$ 600 milhões.

– Esse valor de R$ 600 milhões em 300 propostas é expressivo. Pode ser considerado uma inclinação das empresas na otimização dos seus processos?

CB – O valor nos surpreendeu. Parte se deve a mudanças que não aconteceram. Mostra também que a indústria quer dar um salto tecnológico. Até porque, não sabemos quais são os desafios de produção da camada pré-sal. Temos que esperar ampliar a escala de produção para ver com mais clareza as reais demandas.

– E como essa falta de clareza afeta o setor?

CB – As empresas estão se mobilizando, estão se tornando mais competitivas. As perspectivas são boas para a indústria, mas temos que correr nos investimentos [no pré-sal], pois pode ser que quando a produção tomar escala, se esperar muito, o petróleo já não esteja com cotação favorável à venda.

– O risco maior do epecista, o primeiro elo da cadeia, afeta os valores dos contratos?

CB – Sim, é ele que tem o maior risco, logo, maior custo. A Petrobras tem mudado isso de uns tempos pra cá. Ela (Petrobras) compra itens que não tem no Brasil, e consegue comprar mais barato, já que sua encomenda é grande. Cada caso é um caso, depende da particularidade dos projetos, dos pacotes. As plataformas P-58 e P-62 tiveram engenharia da Petrobras. No P [Refere-se a sigla EPC – Engineering, Procurement and Construction – ou Projeto, suprimento e construção, em português] muitos equipamentos foram fornecidos por ela, com as encomendas ao exterior. Não há uma regra definida.

– O financiamento é apontado como problemático, seja para as pequenas empresas, por conta das garantias, seja para as grandes, quando os altos valores dos projetos tornam o dinheiro caro. Como a questão é vista pela Abemi?

CB – Sim, o financiamento é uma questão. As principais dificuldades de crédito das empresas são encontrar financiamento, dar garantias, e o preço do dinheiro, que no Brasil é muito alto. As melhores alternativas de capitalização das empresas, hoje, são o BNDES e os bancos comerciais e o mercado de capitais, que é também muito caro. Uma iniciativa foi tomada recentemente, com o lançamento do Progredir, baseado em recebíveis não performados. Não vi restrição ao uso de empresas de maior porte, embora os pequenos com dificuldades em oferecer garantias sejam os principais beneficiados.

– Recentemente a Onip divulgou um documento com sugestões de ações e políticas públicas para ampliar a competitividade da indústria do petróleo, as reivindicações aderem às empresas da Abemi, já que dentre os associados estão grandes construtoras.

CB – Sim. Financiamos o documento e nele consta as reivindicações e necessidades do setor, como o próprio financiamento e demais itens que devem ser ordenados em uma política industrial. 

Luis Nassif

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