Helena Nader continua na presidência da SBPC após reunião do conselho

Jornal GGN – Depois de reunião de conselheiros da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, presidente da entidade, decidiu que continuaria no cargo. Ontem, Nader anunciou que iria renunciar após ser criticado por defender uma posição neutra da SBPC em relação ao governo interino de Michel Temer. Na manhã de hoje, o conselho pediu por unanimidade que ele permanecesse na presidência.

Ontem, durante ato público na reunião anual da SBPC em Porto Seguro (BA), Helena foi chamada de “pelega” por pessoas que protestavam contra o governo Temer.  O químico Antonio Carlos Pavão, da Universidade Federal de Pernambuco, acusou Nader de ficar “em cima do muro” e “negociar com golpistas”, em referência a uma reunião com o ministro Gilberto Kassab.

“Vou continuar, mas com muito sacrifício, pode ter certeza”, disse Helena para Herton Escobar, do Estadão. “Eu tenho uma história muito clara de luta contra a ditadura”, ressaltou.  O ato foi convocado para criticar a fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com o Ministério das Comunicações e também para pedir a recomposição do orçamento da pasta.

Do Estadão

Presidente da SBPC decide permanecer no cargo
 
HERTON ESCOBAR
 
Após ser chamada de “pelega” em protesto, Helena Nader colocou o cargo à disposição, mas conselheiros da entidade pediram por unanimidade que ela ficasse; e ela aceitou. “Tenho uma história muito clara de luta contra a ditadura”, disse em entrevista exclusiva ao Estado.

A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, colocou seu cargo à disposição do conselho da entidade em uma reunião hoje de manhã. O conselho, porém, solicitou por unanimidade que ela permanecesse, e Helena aceitou. A decisão foi comemorada com uma salva de palmas pelos 22 conselheiros presentes.

“Vou continuar, mas com muito sacrifício, pode ter certeza”, disse Helena, bastante emocionada, em uma conversa exclusiva com o Estado após a reunião. O pedido de renúncia foi motivado por uma agressão verbal sofrida ontem, durante um ato público na reunião anual da SBPC em Porto Seguro, no sul da Bahia. Helena foi chamada de “pelega” e “chapa branca” por pessoas que protestavam contra o governo interino de Michel Temer — entre elas o químico Antonio Carlos Pavão, da Universidade Federal de Pernambuco, que acusou Helena ao microfone de ficar “em cima do muro” e “negociar com golpistas” (vídeo abaixo).

“Eu tenho uma história muito clara de luta contra a ditadura”, disse Helena, de 68 anos, ao Estado. “Eu não fui presa; o que é um buraco na minha formação. Mas eu lutei pela democracia; estive presente em todas as reuniões. Eu tive amigos que foram presos e torturados; tive professores que foram violentamente torturados. A palavra ‘pelega’ para mim é muito forte, muito forte mesmo. E ela foi usada conscientemente, de propósito.”

Vídeo do ato divulgado pelo professor Nelson Pretto, da UFBA.

O ato público havia sido convocado para criticar a fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com o Ministério das Comunicações e pedir a recomposição do orçamento da pasta aos níveis de 2013. Mas acabou sendo dominado por manifestações contra o “golpe” e o governo interino. “Fora Temer e seu bando”, disse Pavão diversas vezes ao microfone. Nader disse então que a SBPC era uma “entidade sem cor político-partidária” e que não participava desse “segundo slogan” do ato — referindo-se ao coro de “Fora Temer”.

Após ser ofendida, Helena pegou o microfone, disse que entregava o cargo e deixou o palco. Depois disso, a conferência seguiu normalmente durante a tarde, com ela participando de mesas e mediando debates. Mas hoje de manhã, ela de fato colocou o cargo à disposição.

“O conselho me abraçou de uma forma incrível”, disse Helena, com lágrimas nos olhos. Ela lamentou o radicalismo que tomou conta das discussões políticas no Brasil e disse que a SBPC precisa manter o diálogo aberto com todos os governantes. “O governo agora é interino, mas os problemas são permanentes. Ou a gente enfrenta eles agora, ou vai parar a ciência, vai parar a educação, vai parar tudo.”

“Eu, Helena, tenho uma posição. A presidente da SBPC, não”, completou ela, que é professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), filiada da SBPC desde 1969 e está em seu terceiro mandato como presidente da entidade.

Uma proposta de apoio ao movimento Fora Temer será debatida na assembleia geral da SBPC hoje à noite. “O tema vai ser levado à assembleia para discutir se a SBPC deve ou não assumir essa ou aquela bandeira política”, disse Glaucius Oliva, professor da Universidade de São Paulo e conselheiro da SBPC. “O que é inaceitável é essa agressão pessoal contra a Helena, totalmente desmedida e desnecessária.” Ex-presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Oliva também defende a manutenção do diálogo com o governo.

“Me envergonha ver a presidente (Helena Nader) dizendo que não pode bater palma para o Fora Temer. Como não pode? O que impede você de bater as mãos? Você é nossa presidente. Ou você é a favor desse governo?”, disse Pavão ao microfone, ontem. Ele também chamou a Academia Brasileira de Ciências (ABC) de “pelega”.

“Falar que a academia é pelega é uma incompreensão completa do papel das instituições que atuam em ciência e tecnologia. A academia não é sindicato”, rebateu em entrevista o bioquímico Walter Colli, professor aposentado da USP e membro da ABC.

Cartaz68RASBPC

 

Redação

8 Comentários

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  1. luta contra a Ditadura

    Não conheço a professora em causa e posso falar sem envolvimento pessoal no caso.

    Lutar contra a(s) Ditaduras é tema muito atual. Dizer que foi contra a outra Ditadura nao exime ninguem de ficar neutro hoje. Conheço (infelizmente) varias pessoas que foram perseguidas pela Ditadura de 64 e que hoje são lideres golpistas.

    “Primeiro chegam e pisam no jardim de teu vizinho, etc, etc…”

     

     

  2. Helena Nader continua na presidência da SBPC após reunião do co

    Ontem eu li o artigo, sobre o documentário da secretária de Goebbels. Explica bem a posição dessa senhora.

    “É claro que, de certo modo, é para ser também um contraponto à visão da Sra. Pomsel sobre essa época. “Ah, meu Deus, os judeus… Eu nem percebi nada… os campos de concentração…” Então é simplesmente preciso mostrar o que foi e que era perfeitamente possível saber, sim, se se quisesse, e se tivesse visto essas imagens.

    Essa é a única acusação e a única culpa que ela carrega. Olhar para o lado é culpa, sim, e ser apolítico já é culpa suficiente. A intenção não foi desmascará-la como nazista. Isso ela decerto não era. Ela só era desinteressada – e isso é, justamente, uma forma de culpa.”

  3. Vergonha!

    A SBPC não é um sindicato. Mas Helena Nader e os que a apoiam usam desse subterfúrgio semântico para desqualificar a luta contra o golpe. A questão não é sindical ou corporativa. O que está em jogo é a democracia no país, a validade do voto de 54 milhões de brasileiros. Helena Nader é certo que compreende isso, mas, ao que parece, não é um valor para ela e os que a cercam na SBPC. Valem as demandas corporativas, assim como para os parlamentares valem as suas emendas paroquiais. Não há, a rigor, nesse momento, qualquer diferença entre Romário ou qualquer senador discutir um cargo na administração federal e Helena Nader discutir verbas para C&T. Eu me sinto tremendamente envergonhado em ver a pressa com que entidades diversas do meio acadêmico, como a SBPC e o ANDES-SN, correram para se reunir com o governo interino, dando  a ele uma legitimidade que, por exemplo, os setores da Cultura, que promoveram as invasões das sedes da FUNARTE, não deram.

    Não há diálogo possível com usurpadores. Essa pressa mostra, definitivamente, a dificuldade de enraizamento dos valores da democracia no país, mesmo entre os grupos da população teoricamente mais esclarecidos.  É interessante acompanhar as manifestações contra o golpe e verificar a compreensão que a população mais simples do ponto de vista do saber formal dá a seu voto e à defesa do mandato de Dilma e constatar, de outro lado, que os ditos cientistas, como Helena Nader, se prendem a aspectos formais para se esconderem da crítica ao golpe e aos golpistas. A mesma Helena Nader que apoiou e lutou para que o STF permitisse a extensão do uso de organizações sociais para as áreas de educação e saúde, algo que os governos tucanos paulistas fazem há anos e que pode muito bem ser estendido para o resto do país, como fruto do golpe. Já há em andamento na Câmara um PL para a transferência dos IFETs para o sistema S, por exemplo. 

    Quanto a ter lutado contra a ditadura, soa como apenas mais um álibi, vergonhoso de ser invocado nessa altura dos fatos, pois tantos outros lutaram efetivamente muito mais, como Pérsio Arida ou Aluísio Nunes Ferreira, e são o que são na atualidade.    

     

  4. É pelega e ponto! Vai fazer

    É pelega e ponto! Vai fazer reunião com o Kassab, que é um dos mais eméritos  dos cientistas brasileiros de porra nenhuma. Esse governo é uma afronta mórbida a inteligência brasileira.

  5. Não existe neutralidade

    Neste momento histórico não existe neutralidade.

    Ou você é a favor dos golpistas ou você é contra os golpistas.

    Os hipócritas são cúmplices dissimulados da quadrilha.

    A senadora Katia Abreu, que não pode ser acusada de petista, deixou bem claro para até uma inocente acadêmica poder entender.

  6. Isso Urbano, a quantidade

    Isso Urbano, a quantidade maliciosa de pessoas que diz que lutou contra a ditadura á alguma coisa. Talvez uma pesquisa breve mostre se ‘lutou’ ou ‘juntou’, sei lá.

  7. Pois é… é como artistas,

    Pois é… é como artistas, cientistas e até cidadãos estadunidenses que encontram nos EUA um ambiente propício às expressões de suas profissões esquecendo-se de que suas contribuições serão usadas como propaganda de um estado adepto da violência como política externa. Em tese, os EUA são uma democracia, o que significa que se seu povo não concordasse com as atrocidades que seu país cometem contra outros países, poderiam fazer valer suas vontades. Mas isso é em tese. Na prática quem determina a orientação do estado não é esse ou aquele partido, são as pessoas que administram empresas estadunidenses da iniciativa privada, que operam o dólar desse país.

    Quem cala não apenas consente, vira cúmplice.

  8. SBPC e o golpe

    No caso da SBPC, se submeter a este governo ilegítimo, golpista… Poderemos dizer, o no Brasil a entidade que representa a ciência e a tecnologia está vendida e, a História mostrará sua falta de condições morais para representar um pensamento científico brasileiro. Está de parabéns o químico pernambucano ao denunciar esta esta pelega adépta do golpe, portanto golpista.

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