As discussões sobre a inflação de demanda nos EUA, por Luis Nassif

Aumento de juros significa mais custos aos tomadores de crédito

É curiosa a marcha da insensatez da política mundial. A Rússia invade a Ucrânia. O impacto das primeiras cenas, nos dias iniciais, leva a opinião pública ocidental a exigir um “delenda Russia”. Pouco importam os riscos de guerra nuclear e os impactos sobre a economia mundial. A miopia geral leva os governantes a atender às demandas da opinião pública, estimulada por uma mídia mundial incapaz de um enfrentar as ondas de opinião. É estouro da boiada. E toca a alimentar a guerra, enviando armamentos para a Ucrânia, em vez de pressionar ambos os países para um acordo de paz.

Depois da festa, vem a conta. A inflação explode por todos os cantos, erodindo ainda mais a popularidade dos governantes dos Estados Unidos e da Europa.

O Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal dos Estados Unidos, subiu a uma taxa anual de 7,7%, contra uma meta de 2% do FED (o Banco Central norte-americano). E nem adiantaram os truques estatísticos, a média aparada, a mediana, o expurgo de serviços e da inflação cíclica. Todos os indicadores subiram.

A inflação americana atual é a segunda onda depois do aumento de preços de alimentos e combustível, decorrente da guerra da Ucrânia. Agora, há uma inflação de serviços inercial. Desarmaram-se as políticas de estímulo fiscal, e nada de segurar a inflação. As expectativas de inflação no curto prazo levam a uma pressão por reajustes salariais, criando a espiral. Hoje em dia existem praticamente quase duas vagas de emprego para cada desempregado, evidenciando a pressão dos salários.

Da parte das empresas tem-se, de um lado, uma produtividade fraca, com as empresas mais preocupadas na manutenção das margens de lucros do que em investimentos produtivos.

Parte dos economistas defendem que a inflação americana é de demanda. Daí a única forma de combate seria com a redução da demanda. Mas segurar a inflação via emprego tem custo elevado. Segundo cálculos de economistas americanos, reduzir a taxa de inflação de 4% para 3% exigiria pelos menos cinco anos-ponto a mais no desemprego.

Outros economistas rejeitam a minimização dos preços. Segundo o economista James Galbraith, nos 12 meses até junho de 2022 , os preços da energia subiram 40% – com a gasolina subindo 60% e o óleo combustível quase 100% – e os preços dos alimentos subiram 10%. Os preços de todo o resto subiram apenas 5,9% e certamente foram afetados pelos aumentos da energia.

A lógica de Galbraith é cristalina. Custos de um produto são salários, matérias primas e lucros. Essa soma é paga pela demanda. Lolgo há uma relação direta entre custos e demanda. Ou seja, se aumentam os custos, reduz a demanda. Até pode ser que as empresas paguem salários mais altos. No entanto, os lucros são muito altos e impactam diretamente os preços. Portanto, para mencionar espiral salário-preço, os economistas deveriam incluir os lucros.

De que maneira os juros afetarão os preços dos salários? Segundo Galbraith, em nada. Juros mais altos enriquecem os investidores e significam custos mais altos dos produtos para os tomadores de empréstimos.

Galbraith menciona uma ilusão estatística que, coincidentemente, afetou o plano Joaquim Levy. Houve um enorme choque de câmbio, tarifas e juros. Passado o impacto inicial, a inflação tenderia a refluir. Mas como as análises se dão quase sempre em torno da inflação anual, só 12 meses depois haveria uma redução efetiva da inflação, à medida que os meses de choque fossem saindo da contagem de 12 meses.

Luis Nassif

2 Comentários

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  1. Insensatez da política mundial….
    Nunca vão aprender qualquer lição na política.
    Não parece que, com a gerra Rússia/Ucrânia não chamando mais a atenção, estão à procura de um acirramento das tensões com a China?
    O hemisfério norte está condenado mesmo.

  2. A miopia geral é atributo único e exclusivo das demandas da opinião pública. Os governantes se apressam a atendê-las de olho na própria popularidade e aprovação, além das próximas eleições. O binômio Bancos/Grandes Corporações está andando para as ondas de opinião e para os riscos de guerra nuclear (cuja eclosão, ou não, é perfeitamente manipulável e controlada por eles – a mera menção a essa possibilidade já propicia uma especulação desenfreada, e lucros e ganhops imediatos), e os impactos sobre a economia mundial (que, muito mais que os riscos de guerra, está 100% sob seu controle, e é conduzida pelos seus interesses, e não preferências, como pensam alguns), e muitíssimo menos para as oscilações na popularidade de seus lacaios de ocasião, no Executivo e no Legislativo. E, ouso dizer, no Judiciário, ainda que este tenha uma dinâmica própria. E a Grande Mídia dança conforme a música: entoará loas à paz mundial, se o vento soprar para esse lado, e rufará os tambores da guerra, em caso contrário. E faturará horrores, nas duas pontas.
    Não creio que possa haver, hoje, em 2022, qualquer dúvida quanto a isso: os destinos da humanidade, em qualquer rincão onde esteja presente, é decidido em vastos escritórios assépticos (corrijo a digitação, na pressa saiu um ‘escrotório’ – senti-me tentado a manter o erro), em meio a doses de uísque 12 anos, cotações da bolsa e indicadores diversos. O mundo e a vida real tem sua existência, de fato, atrelada a esses ambientes inacessíveis. É possível acreditar que figuras absurdamente ridículas como Zelensky, ou mesmo um idiota americano – seja milionário, como Trump, seja um arrivista, como Biden – detenham mesmo algum tipo de poder efetivo, nesse teatro? Podem ter, eventualmente, comando de tropa, mas, ao primeiro sinal de desvio do programado, podem ser ejetados de onde estão sem que para isso o Binômio tenha que despender muito esforço.
    E dentre as decisões que se tomam naqueles ambientes, além da cotação do dólar e do preço do petróleo, esta a inflação. Que é um desastre para o assalariado, mas vantajosa, até um certo ponto no tempo, para o Binômio. O processo inflacionário atualmente em vigor nos EUA já vêm se mantendo há algum tempo; e as medidas tomadas seguem prejudicando, instantaneamente os pobres e os assalariados, e apenas fazendo cócegas em alguns setores da atividade do Binômio. Quando se transformar em uma comichão mais perceptível, num instante saiu uma decisão dos ‘escrotórios’ e tudo volta ao melhor dos mundos possíveis, o deles, e quem eventualmente perdeu alguma coisa no processo, logo logo recupera o que perdeu: o que não falta no mundo são contribuintes e pensionistas, bons samaritanos à própria revelia.
    O Proer do mundo existe, amigos: somos nós, ainda que não saibamos disso.
    Resta a Mídia, que o Nassif ainda crê que, um dia, se regenerará. Vã ilusão. Vai seguir o Binômio, como bom cachorrinho que é, mendigando atenção e abanando o rabinho, toda vez que conseguir alguma, ou seja, verbas publicitárias.
    Deixai toda esperança, vós que entrais no mundo do algoritmo. E como nada é tão ruim que não possa ficar pior, vem aí o grande duelo do cowboy americano com o sábio chinês.
    Adivinhem para quem eu estou torcendo.

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