Ahá! Uhú! Ele está contra nós, por Wilson Luiz Müller

Ahá! Uhú! Ele está no meio de nós. / Não Jesus, mas o torturador. / O que importa o sentido das palavras? / Que importam os atos, o caráter?

Ahá! Uhú! Ele está contra nós

por Wilson Luiz Müller

 

Para ficar bem digo que amo Jesus,

o homem que amava os oprimidos,

as mulheres humilhadas,

os leprosos,

as prostitutas,

os excluídos.

É simbólico entende? O fato em si é o de menos.

O Jesus torturado e assassinado pelos poderosos.

Mas isso foi há muito tempo, como se não fosse real

Tempo demais para não amar,

ainda mais,

o torturador presente no meio de nós,

porque mais próximo,

mais atual,

mais amigo dos poderosos de hoje,

não do tempo de Jesus.

Torturador com métodos mais sofisticados de tortura,

coisa que nem passava pela cabeça dos que torturaram Jesus.

O meu torturador ao menos escolhe bem suas vítimas,

mulheres que lutam contra a opressão dos poderosos,

bem diferente das vítimas acolhidas por Jesus.

 

Convenci a mim mesmo, e depois aos outros,

ser um novo simon bolívar, às avessas.

Serviçal da mais fina flor do dinheiro branco.

Passei corrido a leitura do livro.

Ou tenho problema de interpretação, de seguir a lei.

Senão teria compreendido, estava escrito em letras garrafais:

Vaidade! Deslumbramento!

Mas o cara está comigo, vem dele a força.

Ele manda, ele tem poder.

Não Jesus, mas o cara.

 

Meu torturador é idolatrado pelo presidente.

Estou legitimado no meu moderno sentir de cristão autoproclamado,

cristão sem mais sê-lo,

cristão que perdeu o sentido de ser.

Sou um seguidor de Jesus,

aquele do livro que virou embrulho.

Amo todos,

como manda Jesus.

O torturador,

o presidente,

Jesus.

Nessa ordem.

 

Jesus! In fux we nunca trust.

Meu presidente está preso.

Era o melhor de todos.

Preso e trocado pelo pior de todos.

Encarcerado pela má compreensão da sociedade.

Dele.

Não dela.

Não compreendeu que era preciso amar o torturador que amava Jesus.

Preferiu amar Jesus, o de verdade,

não o do livro transformado em  embrulho.

 

Ahá! Uhú! Ainda bem que esse ladrãozinho também comete erros primários.

Senão tinha que matar.

Só foi preciso encarcerar.

 

Mil vezes we trust in fuk, sempre trust.

A festejada luz fulgurante da cor esverdeada do dólar norte-americano.

Que tesão meu Jesus!

Beijo na boca de quem achou a prova que faltava para incriminar o ladrãozinho.

A luz da reportagem do jornalão.

Ninguém deu bola.

Beijo na boca de quem deu bola

e comprou a solução da falta de provas que faltava.

Santa mídia auxiliadora e redentora dos amigos da luz.

Luz esverdeada que me empurra para o alto.

Tão alto me eleva o espírito que não preciso mais sentir o real.

Vou jejuar para o Jesus amigo do torturador:

acolha as súplicas do pobre povo,

Não permita querido Jesus,

interceda junto ao teu bom e influente amigo torturador,

para que não libertem o ladrãozinho que deu alento e decência ao povo pobre.

Foi tudo enganação!

Vamos repetir isso até quando vier o dragão do apocalipse.

Essa pobre massa ignara que não aceita a redenção que vem da adesão à luz.

A luz esverdeada que dá sentido à vida.

Vida que não é pobre nem carente de poder apesar da minha carência de caráter.

Apesar da cacofonia das minhas palavras.

 

Não quero melindrar o presidente.

Na verdade não quero melindrar ninguém que nos apoia.

Na verdade mesmo não ouso melindrar os que de fato têm poder

Quem não quer ouvir as palestras do popular presidente?

Qual honorável membro da elite não pagaria um generoso cachê em troca de tão sábias palavras? O príncipe que condensa em si todo o bom produzir das pessoas de bem.

No final tudo é dinheiro e poder,

fux-luz como se diz em latim, que quer dizer:

o dinheiro faz as coisas ir para frente.

Isso para mim está claro como a luz.

Então o presidente é limpinho, fala empolado, mas é cheiroso.

Mas fica mal melindrar ele.

Assim mesmo, porque tenho problemas com a língua.

Com a concordância verbal, também a legal.

Mesmo assim o presidente está melindrado, assustado:

O país corre perigo. Por que será presidente golpista?

 

Salvamos 15% da indústria nacional de engenharia.

Os inimigos da luz e do torturador vão dizer que quebramos  85%.

Antes fosse.

Pelo sim pelo não vamos continuar dizendo que isso foi melhor

do que deixar o ladrãozinho ficar com tudo.

Antes nós  do que ele.

A prova estava no jornalão. Ahá Uhú!

Beijo na boca desse também. Não é que enganou bem!?

Agora ele é nosso

e não soltamos por nada.

Sempre acreditei na luz.

Gloriosa luz que seduz.

Pena que rima com pus,

pois passado do ponto pode parecer (de novo a cacofonia).

Podre que pariu!

Prefiro  a rima com Jesus,

a que ao torturador conduz.

Pois ninguém se interessa pela essência,

Nem pela decência.

Importa demonstrar aparência.

 

Ando no vale das sombras.

Não vejo luz.

Escarnecem de mim, cospem em meu rosto,

anuncia o profeta amado por Jesus.

Nada me anima a exclamar: Ahá! Uhú!

A tênue luz que enxergo talvez seja uma miragem,

quem sabe uma armadilha para eu ir direto a ela,

como mariposa confiante e tonta, iludida.

Aprisionada na ilusão que imobiliza. E mata.

 

Ele está no meio de nós.

Sim, ele, Jesus.

Mas não é disso que se trata.

Estou no vale das sombras.

Apesar disso, talvez por isso,

nada mais me engana.

Jesus não tem culpa de nada.

Culpa tem os que estão contra o povo de Jesus,

os fariseus de ontem hoje e sempre.

Vamos lavar as mãos até o cotovelo.

Isso importa mais que o sofrimento do povo de Jesus.

Eles exultam confiantes:

Ahá! Uhú! Ele está no meio de nós.

Não Jesus, mas o torturador.

O que importa o sentido das palavras?

Que importam os atos, o caráter?

Importa luz e poder.

Anunciar em latim in fux in trust.

 

O Jesus do torturador nos autoriza:

O povo tem o direito de se insurgir!

Mas e  as mortes? Detalhe. Problema de quem vai se insurgir, não estarei lá entre os insurretos. Que são afinal trinta mil?

Não é solução,

faço como mostra de dor e indignação,

costuro no peito uma tarja cor sombria de luto:

Ahá! Uhú! Nin fux nin lex nin trux.

 

E cada um entenda isso como quiser.

 

Wilson Luiz Müller – Integra o Coletivo Auditores Fiscais pela Democracia (AFD)

Redação

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