Izaias Almada
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
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Candidato independente, por Izaías Almada

Somos um povo conservador e disposto à luta, mas eternamente pacífico e acovardado para os grandes embates nacionais

Candidato independente

por Izaías Almada

         A terra não é plana e o homem não veio do macaco.

         Com quantos paus se faz uma canoa? Quem veio primeiro: o ovo ou a galinha?

         Devagar se vai ao longe e cada macaco no seu galho.

         Caro leitor, calma. Calma! Não se precipite a fazer conjeturas sobre a saúde mental do articulista.

         Estamos próximos das eleições presidenciais e tenho que fazer a minha propaganda, pois sou candidato a presidente pelo Partido da Mediocridade Nacional, o PMN, com o número 307.194. E como tal estou â procura de uma frase de efeito, uma frase original, para marcar a minha posição de independência partidária, confiança na democracia e total dedicação aos menos favorecidos.

         Segundo a última pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geriatria e Esquizofrenia), o PMN conta atualmente com mais de 25% dos eleitores do país e, nesses últimos dias recebeu adesões de pessoas muito importantes (sic), como Regina Duarte e Ciro Gomes.

“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn

         Mas existe isso? Candidato independente? Independente de quê ou de quem? E mais: o que significa confiança na democracia? Dedicação aos menos favorecidos? Não, não, nada de demagogia…

         Venho para mudar: mudar de ares, mudar de roupa, mudar de casa, mudar de carro, mudar de cidade e – se for o caso, – mudar de país…

         O Brasil precisa mudar, São Paulo precisa mudar.

         Há 522 anos constituímos essa massa amorfa de indecisos, ignorantes e espertos (estes em maior número), fingindo que somos aquele país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza.

         Há sessenta anos venho batendo na mesma tecla: precisamos mudar esse país: chega de ideias comunistas, de socialismo, de esquerdismo, de petismo… O negócio é comprar à vista e com dinheiro vivo!

         Disse Jesus da Galileia: “bem aventurados os pobres de espírito porque eles verão a Deus e em terra de cego quem tem um olho, oops!, errei”…

         O mundo já não é mais o mesmo, o homo sapiens já não é mais o mesmo. Por exemplo: se Marx fosse vivo, ele seria marxista? Ou estaria ainda seriamente tentado mostrar as podres entranhas do neoliberalismo?

         Agora que a corrupção foi banida do nosso país, segundo o Messias, o falso, não o da Galileia, precisamos nos concentrar nas questões mais relevantes como ajudar os cães vira latas a ter um lar, por exemplo, ou como fazer para violar um pouquinho mais as leis do trânsito, pois agora são 40 pontos na carteira e podemos correr à vontade; combater as urnas eletrônicas, congelar a merenda escolar e com o dinheiro vivo comprar mais casas pelo Brasil.

         Tenho muitas saudades do futuro (nunca alcançado) e grandes esperanças no passado colonizador. Somos um povo conservador e disposto à luta, mas eternamente pacífico e acovardado para os grandes embates nacionais, ainda mais agora que podemos lutar sentados em frente a um computador ou com um celular na mão. Maravilha, não? Fazer oposição dentro de casa.

         E, mais do que nunca, é preciso mudar!

         Podemos começar mudando o presidente, talquei?

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro. Nascido em BH, em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

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Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

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