Izaias Almada
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
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O debate que não houve, por Izaías Almada

Cinco candidatos contra um, todos a mostrar para a torcida em primeiro lugar que estavam ali para ver se conseguiam diminuir a vantagem do favorito

Divulgação Band

O debate que não houve

por Izaías Almada

                   Espetáculo deprimente foi apresentado pela TV Bandeirantes no último domingo, quando seis candidatos à presidência da república foram colocados lado a lado para mostrarem ao país, no mínimo, suas intenções como candidatos e seus programas de governo.

                   Três deles já conhecidos do público, Luís Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes e Jair Messias Bolsonaro. E três calouros: Soraya Thronicke, Simone Tebet e Felipe D´Ávila.

                   A expectativa era grande e o clima tenso, pois colocaria os dois candidatos mais votados em pesquisas a se defrontarem pela primeira vez. Um confronto de ideias por um lado e a falta delas por outro poderia dar um panorama bastante próximo do que nos aguarda nos próximos quatro anos a prevalecerem as regras democráticas e civilizadas que se espera de um país como o Brasil.

                   Após a primeira fala de cada candidato, os apresentadores passaram a nomear quem deveria falar e quem deveria responder às questões levantadas e o tempo de cada um para darem as suas opiniões. A burocracia surrada de sempre, mas dessa vez com propósitos bem claros como se viu na sequência.

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                   Sim, pois já no primeiro bloco do debate um desenho foi se tornando bastante claro à medida que o tempo passava: esse desenho tinha como pano de fundo tirar qualquer tipo de protagonismo que pudesse dar a Lula da Silva algum destaque além daquele que as pesquisas eleitorais vêm indicando e, em segundo lugar, a montagem de uma estrutura que pudesse dar a todos os outros candidatos a oportunidade de cobrar do principal candidato que ele, mesmo absolvido dos falsos processos em que se viu indiciado pela famosa operação montada fora do Brasil para isso, tivesse a oportunidade o tempo suficiente para as respostas.

                   Cinco candidatos contra um, todos a mostrar para a torcida em primeiro lugar que estavam ali para ver se conseguiam diminuir a vantagem que o principal dos candidatos vem carregando com a possibilidade de vitória já no primeiro turno das eleições. E, de sobra, conseguir ajudar ao educadíssimo Ciro Gomes ou a uma das senhoras o prazer de aumentar talvez 1% nas suas respectivas votações. Patético, para não dizer outra coisa…

                   O ex-presidente percebeu a arapuca que armaram e manteve-se discreto, sem entrar no jogo proposto, o que tornou seus adversários nervosos e desorientados, aonde propostas – algumas delas até mirabolantes – iam sendo jogadas para a plateia como fazia o velho Chacrinha, animador de auditórios, que os mais jovens não conheceram.

                   Jair Messias e Ciro Gomes chegaram a ser ridículos (que novidade, não caro leitor?) pelo machismo e a falta de educação que os caracteriza.

                   As duas candidatas tentaram mostrar uma ou outra proposta, mas sem dizer como iriam executá-las. E o candidato Felipe D’Ávila, um zero à esquerda, a fazer escada para o candidato dos 7%.

                   Como diria um amigo meu, um debate de dar sono em anfetamina. Um debate que, de tão enrustido bolsonarismo, conseguiu a proeza de fazer o tiro sair pela culatra, expressão essa, peço desculpas, bem ao gosto do candidato à reeleição.

                   As pesquisas eleitorais após o debate que não aconteceu continuam a apontar uma possível vitória de Luís Inácio Lula da Silva no primeiro turno.                   

Afinal, um debate de ideias que não aconteceu.

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro. Nascido em BH, em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

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Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

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