Izaias Almada
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
[email protected]

Esquerda? Onde?, por Izaías Almada

Escrita em 2020, a crônica pretende alertar para o perigo do que estaria em gestação: a mistura da política com a  religião num Estado laico.

Observatório do 3º Setor

Esquerda? Onde?

(Crônica escrita em 2020)

por Izaías Almada

        Eleições de 2018: Dilma Rousseff, Lindbergh Farias e Roberto Requião, segundo as pesquisas eleitorais venceriam em seus estados a eleição para o senado com boa votação. Para surpresa geral, foram derrotados.

        Eleições municipais de 2020: também segundo pesquisas para o segundo turno em várias cidades do país, candidatos como Guilherme Boulos, Manuela D’Ávila e Marília Arraes reuniam excelentes condições para virar o resultado a seu favor em São Paulo, Porto Alegre e Recife. Também foram derrotados.

        Falsas pesquisas? Novamente a questão das “fake news”? Excesso de otimismo? Erro de avaliação? Distância da realidade? Tudo isso e mais alguma coisa.

        Alianças aqui e ali, elogios, análises políticas que previam uma virada da esquerda sobre os conservadores e a direita fascitoide, notório filósofo a dizer que Boulos destoava da figura do político tradicional brasileiro e isso o credenciava à vitória… E a lenga-lenga ia por aí afora.

        Tudo indica que a esquerda brasileira, com seus vários partidos e interesses, anda um pouco tonta e sem saber muito bem que fazer diante do ataque do capital e seus porta-vozes, pois ainda não encontrou a melhor maneira de enfrentar seus adversários. Anda a patinar e, talvez, com os olhos mais no passado do que no presente e no futuro.

        Não basta só desejar. É preciso ter quadros que acompanhem o veloz caminhar dos atalhos digitais, todo ele na mão dos grandes capitalistas do mundo e que, cada vez mais, não se mostram nem de longe dispostos a entregar o ouro ao bandido.

        Aqui, país que volta a ser o quintal das grandes potências (se é que algum dia deixou de ser), a justiça (sic) reconhece que a prisão de Lula foi ilegal. Jura? É mesmo? Descobriram só agora?

        Passadas as eleições, o cidadão Ciro Gomes volta à sua cantilena favorita: atacar a esquerda para agradar a direita, ou seja, agradar a si mesmo. Com seu linguajar de coronelão nordestino, sonha em ser presidente, não se sabe exatamente para quê. Iguais a ele ou um pouquinho melhores até temos candidatos aos montes. 

        O trabalho sujo de Moro é premiado com um emprego em Washington. O que têm a dizer os patrioteiros da camisa verde amarela sobre esse cafajeste que traiu a sua pátria por dinheiro?

        Como costumo dizer: o brasileiro não sabe distinguir o que é esquerda ou direita. Não sabe qual a diferença entre Lula e o presidente Jair. Não sabe nada de nada em política, economia, mas gosta muito de arrotar sabedoria. O que gosta mesmo é de andar na moda, sabe tudo sobre futebol, alguns jogam na bolsa, vibram com os desenhos animados de Hollywood, adoram exibir seus títulos acadêmicos num país de semianalfabetos…

        Como dizia meu avô mineiro: melhor que isto só pão com aquilo.

        Escrita em 2020, a crônica acima teve o sentido de alertar para o perigo do que parecia estar em gestação: a mistura da política com a  religião num Estado laico.

        A situação, mesmo com o esforço do terceiro governo do presidente Lula da Silva, perdura e espalha-se pelo mundo.

        Um bom exemplo do tema está descrito em duas séries exibidas na Netflix: a argentina “Vosso Reino” e a norte-americana “The Family, a democracia ameaçada”,

        Se o leitor ainda não as assistiu, não perca tempo.

        Assistam os “trailers” abaixo.

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Permitam-me compartilhar esse texto, que achei tão bom, quanto profético e deprimente…

    https://temporealrj.com/teocracia-a-vista/

    Sim, o autor foi presidente da Petrobrás, e é primo de um pernambucano mais famoso, Alceu Valença…

    Estudei com o filho, Alfeu Neto na então Escola Técnica Federal de Campos, ETFC, hoje IFF, no curso de eletrotécnica.

    São pessoas de rara inteligência.

    Sim, o que a esquerda e nem muita gente percebeu, apenas os donos do mundo, que o capitalismo, ora precipitado em rentismo, e que se aproxima de sua transição para um novo modo econômico, é que a luta de classes se deslocou de seu eixo principal.

    A diminuição e precarização permanente da renda, dos vínculos de emprego, do trabalho, e da própria produção capitalista, retiraram do conflito entre trabalhador e patrão sua mola mestra, já que a mais valia está no fim, mas não se sabe bem o que entra no lugar.

    A super (extra) estrutura política da esquerda estremece, sem saber como lidar com essa subtração, que veio lenta, mas poderosa, desde 1980 (Reagan/Tatcher, e aqui, Collor, FFHHCC, Temer, Bolsonaro) até hoje…

    Impérios de bilhões de dólares como GM, Bayer, ou outra qualquer, são quase nada comparados às empresas boladas e tocadas dentro de uma sala de 500 m², e com terabytes enterrados em desertos, em depósitos de hardware de milhares de metros quadrados.

    A relação trabalhador e renda (lucro + faturamento) dessas empresas é absurda se comparadas às estruturas anteriores da produção industrial.

    Uma empresa de aplicativos de transporte de passageiros (Uber, ou 99) faz mais dinheiro que a esmagadora maioria das indústrias nacionais…e seu dono ou donos gerenciam de qualquer lugar do mundo, ou até do espaço.

    E o que restou?

    Nada.

    O capitalismo necessita de estruturas ideológicas dispostas em instituições formais de representação, para veicular a farsa de um homem, um voto, tão ingenuamente confundida por todos (e por toda esquerda) como democracia, fazendo com o que o próprio sistema (capitalista) reifique a palavra democracia.

    Assim como de um aparato de Estado controlado (e que controla) essas instituições no arranjo de classes (e na repressão delas).

    Com a transição do capitalismo para o deus-nos-acuda, essas formas políticas de controle, assim como o aparato de Estado, tendem a ser reduzidas a pautas cada vez mais voláteis e instáveis, como a de costume, já que não há mais nada, senão gente sendo consumida por máquinas, a serviço de outras gentes (a elite dos megafundos).

    Um ditado relativamente antigo (hoje tudo com mais de 5 min é) diz: “quando o serviço é de graça, o produto é você”, e falava da ilusão sobre a internet fornecer serviços essenciais de forma não onerosa.

    Como os sítios de busca.

    É disso que se trata, e quando a Humanidade é o produto, a mediação política passa pelo comportamento.

    Foi assim que a Igreja manteve-se no topo da cadeia alimentar do mundo antigo para Idade Média.

    Agora, eis a Nova Idade Média, e não se repetirá como farsa, mas como tragédia.

    1. Prezado Douglas B da Mata
      Parabens pelo texto complementar com riqueza de aprofudamento sobre o futuro que esta presente …profético e deprimente…

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador