A vida wi-fi de seres desconectados, por Eliana Rezende

Por: Eliana Rezende

Estranho pensar como uma civilização inteira tão conectada, ligada, plugada em cabos, fios, redes, plataformas e todo tipo de brinquedos tecnológicos pode ao mesmo tempo, e de forma quase que automática, estar completamente desconectada da vida à sua volta. 

Um estado de distopia parece se avolumar e alcançar todos: não importa idade, gênero, posição social e até grau de instrução. A vida, em especial aquela vivida em grandes centros urbanos parece reduzir as pessoas a autômatos que respondem e movem-se num aglomerado de poluição e engrenagens mecânicas, metálicas, por entre concretos, por cima de asfaltos entre espelhos e vidraças. Dentro de veículos individuais ou públicos, indivíduos perfilam-se e seguem suas rotinas tendo nos ouvidos um fone, nas mãos um teclado, e alheios a tudo e todos seguem suas rotinas de congestionamentos físicos e mentais, feitos por veículos, vidas e até ausências.

O único congestionamento não permitido é o de pensamentos. Estes são relegados ao mais profundo esquecimento, suprimido por ruídos artificiais produzidos por sons de gadgets.

A incapacidade de convívio com o silêncio próprio parece ser a regra. E as mentes ocupam-se num não pensar anestesiante e assustador, auxiliadas voluntária ou involuntariamente por outros seres nas mesmas condições. Compõem um exército de zumbis que perambulam por ruas, transportes, sentam-se em bares, restaurantes, praças, vias e espaços públicos.

Lembro de Saramago e seu “Ensaio sobre a Cegueira”. É fato, para não enxergar não é preciso que falte o sentido da visão. Basta que falte o sentido de pertencimento, de crítica, de agudeza de espírito. E neste ponto, a cegueira poderá acompanhar-nos uma existência inteira. Acostumados que estamos a não ver, nem notamos aquilo que nos passa ao largo.

Triste sina a desconexão de si e do mundo!

Neste mundo de paradoxos, a única consciência são as ausências de redes wi-fi. Percebidas, tornam-se rapidamente reivindicadas, reclamadas. São as “muletas” para manter o estado de entropia de uma massa que se deixa levar homogênea e compactamente.

Os sons que trazem consigo em seus aparelhos abafam os sons da alma.

Matam a última possibilidade daqueles bate-papos informais e camaradas. A conversa é sepultada ao som de teclas, músicas, vídeos e não há ninguém que note. Sem cerimônia, sem despedidas, sem sentimentos… totalmente perdida!

Gosto do curta metragem “Vida Curvada”, onde o uso excessivo de smartphones é satirizado através dos perigos que seus usuários passam ao não descolar os olhos desta minúscula tela brilhante. Espero que sirva à reflexão:

https://www.youtube.com/watch?v=abfqFE31N5w align:center

 

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4 Comentários

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  1. rosa purpura do cairo

    Para mim trata-se de fuga da realidade. Como a realidade é dura para a maioria nada melhor do que fazer de conta,

    as pessoas estão se refugiando nessa ilusão. 

    Uum pouco como o filme de Woody Allen “rosa purpura do cairo”, a mocinha ia para o cinema para esquecer sua vida mediocre. So que o principe encantado não vai saltar da tela do smartphone.

    Não tenho smartfone, nem uatisapi e outras tranqueiras e fico feliz assim.

    Me dizem que estou velho, desatualizado.  Eu acho otimo.

    Sobra mais tempo para ler boa literatura.

     

  2. Um texto deveras juvenil,

    Um texto deveras juvenil, idealizado com uma pitada de nostalgia liberal de ouvido com o patrulhamento típico e tão caro às esquerdas sobre aparatos tecnológicos que seriam contrapontos perigosíssimo para a mentalidade revolucionária. Só faltou dizer que as médias de leituras anteriores aos equipamentos contemporâneos de comunicação eram superiores Às atuais. 

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