De volta ao passado

Coluna Econômica – 09/01/2007

O grande avanço do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) será recuperar a noção de planejamento nos investimentos públicos. Trata-se de passo básico de gestão, que o Brasil descobriu nos longínquos anos 40 e que a “modernidade” pós-1994 jogou fora.

A pior herança do período FHC-Lula foi essa, a de ter ignorado até princípios básicos de planejamento que haviam se incorporado no serviço público brasileiro desde os primórdios da criação do DASP (Departamento de Administração do Serviço Público).

Nos anos 40, o Brasil recebeu a visita de três missões norte-americanas, a Cooke, a Abbink e o Plano Salte. A Cooke ensinou o bê-a-bá do planejamento estratégico, a mera listagem de obras prioritárias de infra-estrutura – e já foi um avanço. A Abbink ensinou a ordenar melhor o orçamento, de maneira a concentrar recursos internos nessas obras. O Plano Salte ensinou a trabalhar projetos, analisando impactos, retorno econômico e financeiro. Foi esse know-how básico que chegou ao Brasil.

Nos dois governos FHC e no primeiro de Lula, esse conhecimento foi jogado fora. O acomodamento de FHC induziu-o ao primarismo ideológico de deixar tudo por conta do “mercado”, abrindo mão de qualquer planejamento indicativo. A única iniciativa promissora de reorganizar o orçamento, o “Avança Brasil”, acabou se perdendo na falta de prática e de experiência de seus gestores com a administração pública, e na falta de interesse de seu chefe.

O PAC permitirá colocar na agenda um mínimo de prioridades, voltar a se fazer o que se perdeu durante tanto tempo. Os recursos envolvidos não chegam a ser expressivos. Embora o Ministro do Planejamento encha a boca para falar em R$ 80 bilhões em investimentos para os próximos quatro anos, na verdade, corresponderão a um adicional de menos de meio por cento do PIB por ano, fora os R$ 12 bilhões anuais das estatais -basicamente Petrobrás e Eletrobrás, segundo estimativas de Júlio César Gomes de Almeida, Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

Para 2007 o percentual será um pouco menor, porque não existem projetos prontos em quantidade suficiente. Para 2008 e 2009 o investimento será um pouco maior.

No total, haverá R$ 60 bilhões a mais -nas contas da Fazenda, menos do que as estimativas do Planejamento–, o que permitirá se chegar a investimentos da ordem de 0,8% do PIB, mas adiante distantes da meta de 2%.

Parte desses investimentos irá para PPI (Projeto Piloto de Investimento), um teste importante para dobrar a ortodoxia das instituições multilaterais. Esses projetos serão de retorno econômico-financeiro rápido, não necessariamente retorno social. Ou seja, em curto prazo estarão dando retorno mensurável à economia.

A relação dívida pública/PIB não será afetada. A idéia é manter o superávit primário (aquele onde não está incluído o serviço da dívida) em 4% do PIB. Com a aguardada redução dos juros, com a perspectiva de um crescimento um pouco melhor, a relação dívida/PIB poderá continuar caindo.

Enfim, se está de volta ao passado que ajudou a construir o futuro. Lentamente o país sai da República Velha, na qual foi jogado por FHC, e começa a reconstruir penosamente o futuro.

Para incluir na lista Coluna Econômica

Luis Nassif

24 Comentários

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  1. Nassif,
    Enfim o País, com o
    Nassif,
    Enfim o País, com o advento do Programa de Aceleração do Crescimento, vai saindo da pasmaceira pós 94 e como você bem o disse penosamente vai construindo o crescimento sustentado. A batalha a ser vencida, ao contrário de muitos mercadistas, ainda é a política monetária: ou seja a queda do juro básico (Selic). Acredito como você sempre alertou, o próximo obstáculo a ser superado é o de persistir e manter a curva de queda dos juros, tudo como foi em 2006. Viva o PAC. Viva o juro civilizado.

  2. Nassif,

    Não concordo que o
    Nassif,

    Não concordo que o FHC tenha agido por “primarismo ideológico” quanto deixou tudo por conta do “mercado”. Você está sendo elegante e benevolente com ele. Uma pessoa do nível intelectual dele não teria uma visão tão estreita. Acho que a coisa é muito pior e mais grave. Bom, deixa pra lá….

  3. Caro Nassif,
    Não estou tão
    Caro Nassif,
    Não estou tão otimista quanto você, pois até onde sei a estrutura do Planejamento continua nas mãos do mesmo pessoal da era FHC (apenas o “chefe, Silveira, saiu). E eles só têm compromisso com sua própria manutenção no “poder”.
    Esse PAC deve ser a mesma enganação que foi a discussão do PPA no início do primeiro governo Lula, quando os movimentos sociais perderam tempo debatendo propostas para um documento que já estava pronto e acabado…

  4. Que maravilha o assunto
    Que maravilha o assunto Nassif!

    Os outros jornalistas só sabem falar de eleição da câmara, criticar a cicarelli, falar mal do nome PAC e criticar as férias do Lula, apostar em quem vai ser ministro.

    Muito bem Nassif, vamos construir o futuro, elogiando ou criticando mas vamos pra frente.

  5. Salve salve Nassif! que bom
    Salve salve Nassif! que bom ler algo com conteúdo e não somente críticas.Após tantas investidas na escurudão patrocinadas pelos “Caciques!que comandaram a nossa economia nos 2 mandatos do governo FHC,foi necessário que o ex-ministro Palocci enfrentasse uma legião de críticos,quando propoz,e geriu uma pol´tica economica austera;de cumprimento dos contratos;de pagamentoe não de alongamento da dívida externa,para nos livrarmos da ingerencia do FMI;de inversão das prioridades,pois passamos a pagar a imensa dívida social com os até então excluídos da nossa sociedade,e agora temos tudo pronto para,como bem você define, recomeçarmos uma nova era,apagando tudo que foi feito,e não deu certo na condução da nossa economia.Parabens pelos comentários sobre este assunto,e que bom que você(parece)que esqueceu de culpar o cambio,e/ou a sua apreciação por tudo que não estar dando totalmente certo.Não sou partidário da ortodoxia dos comandantes do BC,porem acho que se não tivermos um BC austero e cuidadoso,voltaremos à época dos desacêrtos diários daquela instituição,e a falta de estabilidade de suas Presidencias,o que não era saudável.

  6. Não sou antipático à idéia de
    Não sou antipático à idéia de planejamento, mas a necessidade de planejamento público no Brasil é uma admissão de incompetência e falta de criatividade de nossas elites industriais.

  7. Sr. Raí: a última vez que vi
    Sr. Raí: a última vez que vi o referido sr. Palloci, ele estava saindo do palácio do planalto, quase de algemado: será que vivemos no mesmo país, ou os nossos impostos pagam o seu salário também..?

  8. Que nada, sempre defendi o
    Que nada, sempre defendi o esforço do Bresser, a ponto de ter sido convidado a integrar o Conselho da Reforma do Estado e o Conselho do Prêmio Qualidade do Governo Federal. Só que o projeto de Bresser esbarrou na total carência de interesse do presidente.

  9. Hahahahahahaha… É até
    Hahahahahahaha… É até divertido analisar a segurança com que você fala isso. Imagine o Bill Gates ao planejar a saída do DOS para o Vista; a Ford ao planejar a fábrica em Salvador; o Brasil ao planejar os investimentos em infra-estrutura nos anos 50. Tudo coreano comunista fdp.

  10. Eu sou otimista. Vejo com
    Eu sou otimista. Vejo com muita nitidez que o Brasil vai dar um enorme salto de qualidade nos aspectos econômicos e sociais. Já no primeiro mandato, o atual governo federal apresentou resultados excelentes, apesar da herança. O empresário Antonio Ermírio reconheceu em artigo recente os resultados conseguidos. E o nosso Brasil vai melhorar ainda mais, se todos nós fizermos bem nossas tarefas diárias e cuidarmos com carinho da nossa casa e de nossa vizinhança. Eu faço a minha parte e não tenho vergonha de dizer que sou otimista com o Brasil (sem ufanismo).

  11. Caro Nassif, boa
    Caro Nassif, boa noite.

    Parece que a coisa está meio agitada, interessante.

    Arevo-me a alguns pitacos impertinentes, sem maiores pretensões.
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    Do Diogo,

    Nassif, este mostra um jeitão de “corintiano” xiita. Há Há Ha
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    Do Mauriiogalinkin,

    Nassif, o “Chefe Silveira” a que ele se refere o Maurício é o José Paulo?

    Se for, o conheço bem, fomos colegas em curso de especialização, faz tempão: sujeito notável.
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    Do Hélio Monteiro,

    Alhos com bugalhos!? Nooossa!
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    Do Hélio Nunes,

    Para desenvolver o projeto Polaris, no final da década de 1.950, há meio século, foi desenvolvida -e aplicada com êxito– uma nova ferramenta de planejamento e controle para segurar pelos chifres um projeto tão complexo e urgente. Isto não se deu na URSS, mas nos EUA.

    Caracoles…
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    Do Ricardo Amaral,

    É isso mesmo, Ricardo, não adianta termos isso, se não tivermos aquilo e nem aquilo se não dispusermos ‘daquiloutro’.

    Exatamente isso, o planejamento es-tratégico, mesmo o tático, se destina a juntar todas estas coisas coordenadamente, observando forças e fraquezas, limitações e abundâncias (geralmente inexistentes), ameaças e oportunidades para, a partir de uma visão de futuro da nação, no caso, partir para alguma coisa como o desenvolvimento integral da população e do ambiente onde vivemos, estabelecer projetos, prever recursos etc. e, claro sistemas de avaliações e controles, indicadores apropriados.

    Lógico que, quanto mais distante o horizonte e menos conhecidos os contornos, menos precisas serão as próprias visões.

    Alguns detalhes fundamentais, mas pouco compreendidos, por vezes:

    A)Planejamento é um PROCESSO, permanentemente reavaliado e ajustado às realidades dinâmicas;

    B)Como se diz por aí, planejamento é uma trilha, uma estrada larga, não um trilho; indica caminhos e direções, não tem que ser seguido a ferro e fogo, erro que parece ter acontecido em países da Europa Oriental. Ao contrário, deve ser percebido como um norte a orientar-nos, norte cambiante a cada momentom mas orientador.

    C)Planejamento é uma técnica ou conjunto de técnicas que auxiliam a boa gestão, em muitos casos é fundamental para se ter alguma chance de atingir algum objetivo. Evidentemente, a escolha de prioridades, por estratégicas, será sempre política, contendo algum viés ideológico.
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    Do Marcos,

    Não consigo ser tão otimista, como Marcos e, mesmo, o Nassif, mas tenho um fraco por eles, os otimistas pé-no-chão. Porém, quando um Ministro do núcleo do Governo diz, com todas as letras, que o governo se volta para partidos e alianças, antes dos interesses nacionais, sei não. Entre PAC e empacar…

  12. Para os “Filhos da PUC” que
    Para os “Filhos da PUC” que acham que planejamento de investimento em infra-estrutura feito pelo estado é coisa do passado, por favor, dêem uma olhada no que os Estados Unidos fazem neste sentido. Ou vocês acham que eles soltam um espirro sem que as conseqüências tenham sido esquadrinhadas pelo governo? Claro que nem sempre bem esquadrinhadas, especialmente nos últimos anos…
    Essa coisa de estado policial-coletor é tão antiga e já se provou tão irreal que eu não sei porque tem gente que ainda nutre este fetiche… Será porque para eles o Brasil assim tá bom?

  13. Um pouco atrasado,pois estava
    Um pouco atrasado,pois estava trabalhando(ao contrário do que quis dizer o leitor ADAUTO)queria dizer ao citado leitor,que ao contrário dele,que fica espreitando as saídas dos funcs. públicos de seus departamentos,eu tambem pago impostos;produzo satisfatoriamente na empresa privada onde trabalho,e lamento que pessoas do quilate técnico de um Palocci,sejam defenestrados do serviço público sem nada desabonador,de verdade,somente acusações típicas do momento político pelo qual passávamos.E tanto ele saiu de cabeça erguida,como deixou a pasta da fazenda com as coordenadas exatas para seu sucessor,que a população do nosso Estado o elegeu para representar-nos no Congresso,e dar a volta por cima,para desgôsto de alguns inconformados.

  14. Sem dúvida é algo positivo.
    Sem dúvida é algo positivo. Uma pena que enquanto vários outros países do mundo já estão dando outros passos nesta área, nós temos que voltar ao be-a-bá. As coisas por aqui mudam, mas na velocidade que não agrada a quem paga tanto imposto e vê poucos retornos.

  15. Oi Nassif
    Interessante,
    Oi Nassif
    Interessante, voltamos a República Velha, re-entramos na Era Varga ( vi pessoalmente FHC dizer : Agi para acabar com a Herança Varguista, em palestra do Instituto FHC em que voce Nassif estava presente). Tudo foi desmanchado , depois reconstruido, e muda-se tudo para que tudo permaneça imutável.O futuro, a modernidade não chega nunca ?Só falta re-instaurar a Monarquia para depois derruba-la,em nome do neo-republicanismo rs, rs ,rs. Quando vamos deixar de lado o voluntarismo primário e tratar da gestão do planejamento público com abertura para toda a Sociedade.Os mecanismo de participação popular devem ser aperfeiçoados , assim teremos realmente os instrumentos para implantar o futuro entre nós.
    ( )s Paulo

  16. É Nassif, e olha que tem
    É Nassif, e olha que tem muitos ditos “formadores de opinião” que proclamam o Mercado uma espécie de deus, o regulador e mediador de todas as coisas… Bem FHC está tese – Sofista e Caricato.

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