Ônus do coronavírus alimenta corrupção no governo Witzel, mostra investigação

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Crimes parecem já estar comprovados e investigados -dentro e fora do governo fluminense- se aproveitaram da atual pandemia com contratos ilícitos

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Jornal GGN – Em um dos últimos despachos assinados na Operação Favorito, que investiga esquema de corrupção dentro do governo de Wilson Witzel no Rio de Janeiro junto ao empresário Mário Peixoto, o juiz federal Marcelo Bretas disse que os ilícitos já estão comprovados e que os réus se aproveitaram da atual pandemia, ampliando a corrupção em contratos de serviços necessários ao combate do novo coronavírus.

Para isso, as interceptações de conversas telefônicas e online dos investigados, durante os meses de fevereiro a abril deste ano, foram cruciais. Durante este período, a Operação chegou a ser interrompida diante da quarentena e pandemia do novo coronavírus. O que, segundo o juiz, não impediu que o empresário Mário Peixoto e demais investigados continuassem a atuar nos ilícitos.

“Os períodos de monitoramento telefônico implementados permitiram confirmar suspeitas de que as empresas ligadas a MARIO PEIXOTO e família estão sendo favorecidas nas contratações públicas mediante o pagamento de vantagens indevidas aos agentes públicos, principalmente no período de enfrentamento emergencial da pandemia do novo coronavírus (COVID-19)”, escreveu o juiz, nos autos que o GGN teve acesso (abaixo).

O avanço dos crimes não paralisou. Ao contrário, expôs Bretas. Motivou a atuarem na destruição de provas e dar continuidade às contratações ilícitas em serviços de saúde do Rio de Janeiro para justamente enfrentar o Covid-19, como foi o caso da denúncia de fraude na compra de respiradores para hospitais de campanha criados para receber pacientes com o vírus.

Expõe:

Entretanto, como o caso dos respiradores envolve diretamente o nome do governador Wilson Witzel, conforme divulgou o noticiário na última semana, essa apuração está na alçada do Superior Tribunal de Justiça (STJ), acima da primeiras instância de Marcelo Bretas. No que tange a investigações sob a sua condução, o juiz federal tratou de outra “possível irregularidade” também relacionada a contratações para o combate ao coronavírus: a compra de álcool em gel para a Marinha do Brasil.

O crime teria ocorrido em fevereiro deste ano, quando Alessandro Duarte, apontado como o operador financeiro de Mário Peixoto conversa com um funcionário da Marinha, que se identifica como “João”, que segundo investigação do MPF, trata-se de João Paulo Mendonça da Silva, em que “claramente combinam uma forma de burlar licitação para o fornecimento de álcool em gel para a entidade”.

No diálogo interceptado, o militar da Marinha afirma a Alessandro que ele deveria conseguir “três preços diferentes, com três CNPJ” para apresentar no certame, com o objetivo de mascarar o crime. Em março, ambos voltam a conversar para coordenar a entrega do álcool em gel, o que indica que a empresa de Peixoto saiu vencedora da licitação, de maneira ilegal.

O caso teria seguido até a última semana de interceptação telefônica. No dia 16 de abril, ambos voltam a conversar para simular mais uma licitação de suprimentos da saúde.

Ainda durante o mês de março, outro ilícito cometido por Peixoto teria perdurado, com a nova contratação da Organização Social UNIR SAÚDE para a gestão de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), ligada ao empresário. A OS havia sido desqualificada como organização social em outubro de 2019, pelo Tribunal de Contas do Estado, e no dia 23 de março tal medida foi revogada “com um agente público”.

Sem mencionar o nome do “agente público”, a negociação de Luiz Roberto Martins, apontado como o chefe do esquema de Peixoto, pode ter sido feita com um dos secretários de Witzel já expostos aqui. “Na mesma conversa, LUIZ afirma que a medida de revogação não lhe geraria qualquer investigação junto ao TCE, devido à situação atual de calamidade pública”, traz o despacho.

E, por fim, durante a pandemia, a contratação da Organização Social Iabas, também ligada a Mário Peixoto, para administrar o hospital de campanha que trata infectados pelo Covid-19, teria gerado R$ 850 milhões ao grupo criminoso. Entre as provas para tais acusações, os investigadores apontaram planilhas enviadas por e-mail entre Alessandro Duarte e Juan Neves, que seria o contador de Peixoto, com valores da implantação e cronograma de funcionamento dos hospitais pela OS Iabas.

Estes detalhes da investigação foram citados por Bretas em sua decisão do último dia 12 de maio, quando aceitou o pedido do MPF do Rio e PF de bloqueio de bens dos investigados. E os crimes, segundo o magistrado, já estão comprovados.

“Tudo o que se exige para a decretação da medida [bloqueios] é a averiguação de indícios de prática dos delitos apontados, juízo que constato ser positivo no presente momento, razão pela qual defiro o bloqueio de bens móveis e imóveis nos limites apontados, para os investigados abaixo relacionados.”

Leia também:

Witzel (re)abriu as portas do governo para a corrupção investigada na Lava Jato
Os personagens da corrupção no governo Witzel em contratos ilícitos
A relação entre Witzel e Mário Peixoto, o empresário preso na Lava Jato
Influentes, Pastor Everaldo e Peixoto disputaram “feudos” no governo Witzel
O caso Witzel e o planejamento da cobertura

 


Leia, abaixo, a íntegra da decisão da Justiça Federal do Rio:

Evento 17 - DESPADEC1b

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Nem precisou mirar na cabecinha.Acertou logo o cabeção.
    Agora,nosso povo precisa parar com essa besteira de votar em quem sequer vivenciou a estrutura política e partidária.Se com gente conhecida os problemas já são enormes,com desconhecidos a situação só piora já que todo tipo de hipócrita oportunista surge nessas situações.
    Não existe nem nunca existirá nova política,somente política.
    Quando alguém falar em nova política devemos entender,de uma vez por todas,que estão falando em fazer o que tem de pior na política.Tem sido assim historicamente com todos desse naipe.

  2. Imagino que a explosão da corrupção e dos corruptos que saíram dos bueiros, onde se escondiam, tem uma explicação: com a liberação dos bilhões disponíveis para ajudar estados e municípios, para comprar equipamentos e remédios, para construção de hospitais de campanha, para compra de acessórios de proteção hospitalar (luvas, máscaras, toucas, aventais, capas, etc) e o auxílio emergencial, os ratos e ratazanas estão indóceis e tontos com a fartura de tanto $$queijo$$. a coisa está tão descontrolada que até ressuscitaram o asqueroso Ratão Mor para controlar o assalto geral.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador