O tombamento das fazendas históricas

De O Estado de S.Paulo

50 fazendas podem virar patrimônio paulista

Marcos da era do café, da cana e do gado têm tombamento analisado pelo Condephaat

José Maria Tomazela

O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado (Condephaat) realiza um inventário para tombar casas e instalações de antigas fazendas que movimentaram a economia de São Paulo com a produção de café, cana-de-açúcar ou gado. O estudo, que segue até 2013, deve abranger pelo menos 50 fazendas paulistas.

O tombamento de uma delas, a Fazenda Santa Gertrudes, em Itupeva, a 60 km da capital, acaba de ser aprovado. De acordo com a diretora do Centro de Estudos de Tombamento de Bens Isolados do Condephaat, Ana Luiza Martins, trata-se de um dos raros exemplares íntegros da produção cafeeira do fim do século 19. O parecer levou em conta a história da propriedade que pertenceu ao Barão de Jundiaí e o fato de a casa-sede ter sido projetada por Ramos de Azevedo – uma das poucas obras rurais do arquiteto. São Paulo tem quase uma centena de fazendas históricas, mas apenas 20 são tombadas e, na maioria das vezes, a proteção legal atingiu somente a casa-grande.

Até o tombamento da Santa Gertrudes, apenas a Fazenda Cachoeira, em Vinhedo, ganhou em 1999 a proteção para todo o conjunto. Segundo a pesquisadora, são propriedades da segunda metade do século 19, quando a cafeicultura começava a migrar do Vale do Paraíba para as regiões de Campinas e Itu. Como o transporte do café era feito por muares, as áreas de produção não podiam estar muito distantes do Porto de Santos. A chegada do trem fez a lavoura adentrar o interior. “Várias ferrovias foram bancadas com o café.”

A Santa Gertrudes foi instalada a partir de 1864 por Francisco de Queirós Telles, filho do barão. As instalações retratam a transição da mão de obra escrava para a livre e, daí, para a produção mecanizada do café. O tombamento atinge a casa-sede, a capela e a antiga senzala, além da casa do administrador e do conjunto de casas dos colonos. Estende-se ainda aos terreiros de secagem dos grãos, ao tanque lavador, à tulha e casas de máquinas. “Surpreendentemente, os equipamentos todos estão conservados e em condições de uso”, diz a pesquisadora. Um detalhe curioso é que a proprietária, dona Sara Guimarães, preocupada em preservar o imóvel, pediu o estudo para tombamento ao secretário estadual da Cultura, Andrea Matarazzo.

Transição. A religiosidade é outra marca. A capela, por exemplo, guarda uma imagem de Nossa Senhora do século 17. Tem ainda a pia batismal original e 12 bancos doados originalmente pelo barão à Catedral de Jundiaí.

TOMBADOS

Casa e instalações
Fazendas Cachoeira (Vinhedo) e Santa Gertrudes (Itupeva)

Casas-sedes

Fazendas Salto Grande (Americana), Resgate (Bananal), Mato Dentro (Campinas), Três Pedras (Campinas), Casa Grande (Campinas), Dumont (Dumont), Engenho D”Água (Ilhabela), Morro Azul (Iracemápolis), Ponte Alta (Natividade da Serra), Conceição (Paraibuna), Santa Sofia (Presidente Venceslau), Grão Mogol (Rio Claro), Pinhal (São Carlos), Santa Eudóxia (São Carlos), Pau D”Alho (São José do Barreiro), Santana (São Sebastião), Pasto Grande (Taubaté) e Cacutá (Valinhos).

Luis Nassif

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