Deltan tenta reescrever a história comparando a cobertura da Lava Jato à de Bolsonaro

Carla Castanho
Carla Castanho é repórter no Jornal GGN e produtora no canal TVGGN

Ex-procurador questionou se a imprensa teria tratado a Lava Jato com a mesma postura acrítica e cautelosa que hoje emprega ao STF

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ex-procurador e ex-deputado federal Deltan Dallagnol questionou, na rede social X, se a imprensa teria tratado a Lava Jato com a mesma postura acrítica e cautelosa que, segundo ele, emprega ao Supremo Tribunal Federal (STF) nos casos envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. No entanto, registros da época desmentem o argumento de Deltan e demonstram que a grande mídia apoiou amplamente a operação, dando-lhe visibilidade e sustentação política.

Veja a publicação de Deltan Dallagnol abaixo, respondendo à matéria da Veja, um dos principais veículos que articulou e promoveu a Operação Lava Jato na época.

https://twitter.com/deltanmd/status/1903946730086793653

Grande mídia foi peça-chave para Operação Lava Jato

O argumento de Deltan não se sustenta quando confrontado com a realidade dos fatos. A imprensa brasileira – especialmente os grandes veículos como Globo, Estadão, Veja e Folha – não apenas apoiou a Lava Jato, mas foi peça-chave na construção de sua narrativa. 

Como destaca o jornalista Luis Nassif, a cobertura da Lava Jato foi meticulosamente orquestrada, “Veja manchetava o lixo na sexta, e o JN repercutia”, um dos esquemas que contribuiu para ampliar o impacto da Operação e legitimar as ações da força-tarefa de Curitiba. 

Além disso, a Vaza Jato e a Operação Spoofing demonstraram que a operação tinha uma estratégia de comunicação alinhada com setores da imprensa para vazar informações seletivamente, direcionar a opinião pública e pressionar decisões políticas e jurídicas.

O conluio entre Moro e Dallagnol ficou evidente nas mensagens divulgadas, mostrando que havia uma colaboração ilegal entre os figurões, que remavam juntos para plantar acusações contra Lula e influenciar as eleições presidenciais de 2018.

Imprensa cuidadosa?

No entanto, um ponto a se considerar no argumento de Deltan é que, de fato, a imprensa tem adotado uma abordagem mais cuidadosa ao tratar de Jair Bolsonaro e das investigações que o envolvem.

Recentemente, a Folha de S.Paulo publicou que a “PGR turbina acusação contra Bolsonaro com conclusões que nem mesmo a PF bancou”, levantando preocupações sobre a atuação da Procuradoria-Geral da República e a necessidade de um olhar crítico sobre a condução das investigações.

Esse movimento é bem distinto do adotado durante a Lava Jato, quando a mídia manteve uma postura acrítica ou parcial, frequentemente favorável ao papel do Ministério Público.

Ao sugerir que a imprensa tratou a Lava Jato com rigor semelhante ao que hoje dispensa ao STF e às investigações sobre Bolsonaro, Deltan ignora a própria realidade da operação que comandou. Na tentativa de reescrever a história, posando como vítima de uma suposta perseguição da imprensa, o ex-procurador desmorona diante das evidências do papel central que os meios de comunicação desempenharam no fortalecimento da operação.

Veja abaixo alguns momentos em que o Jornal GGN aponta a complacência da grande mídia:


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