Pegada Ecológica, um bom parâmetro ou mais uma farsa?

Por Rogério Maestri

Todos nós sabemos quem gera as leis no Brasil. Por mais que estejamos contra algumas dessas leis nos é permitido apontar o dedo acusador contra A ou contra B e criticá-los com todos os nossos argumentos. Porém está sendo introduzida no mundo uma nova forma de legislar e regular a vida de todos, uma verdadeira première na história da humanidade: a introdução e formatação de parâmetros de comportamento, que servem para julgar a conveniência de atos das pessoas e governos, sem que ninguém saiba quem está fazendo estes normas e regulamentos.

Em 1995 dois pesquisadores da University of British Columbia, Mathis Wackernagel e William Rees, publicaram um trabalho a partir da tese do primeiro intitulado “Our Ecological Footprint: Reducing Human Impact on the Earth”. Onde desenvolveram o conceito de Pegada Ecológica e o calcularam. Este conceito já havia sido proposto por Rees em 1992 em “Ecological Footprint and Appropriated Carrying Capacity: A Tool for Planning Toward Sustainability.” sem calculá-lo. A Pegada Ecológica se baseia nos princípios desenvolvidos por Georgescu-Roegen em “Energy and economic mythis” (citação 7 do trabalho) e outros autores.

O trabalho de Wackernagel e Rees vem a ser o primeiro cálculo da pegada ecológica, sempre partindo do princípio já postulado por Georgescu-Roegen de que a Terra é um sistema termodinâmico fechado e que, naturalmente, segue a sua própria extinção (o raciocínio é bem mais complexo, logo adotei uma simplificação sujeita a críticas). Logo, se calculando a disponibilidade de recursos naturais e não considerando uma possibilidade de um salto tecnológico, calcula-se o limite do crescimento que deveríamos seguir através de um índice, denominado numérico e quantificável, a Pegada Ecológica. Este índice é importante pois os conceitos termodinâmicos de Georgescu-Roegen são qualitativos, enquanto a Pegada Ecológica é quantitativa e permite, em teoria, calcular o limite do crescimento da civilização humana.

Inventado este índice por Wackernagel e Rees, ele foi assimilado pela conhecida ONG Suíça o World Wide Fund for Nature (WWF) que passa a calcular a pegada ecológica nos diversos países do mundo. A WWF é aquela famosa ONG que gosta muito de ter reis e rainhas como presidentes de honra em seus domínios, como o Rei da Espanha Juan Carlos I, que quebrou a bacia em Botsuana, na África, caçando os seus elefantes e leões. As cabeças coroadas europeias gostam muito de conservar a vida selvagem desde que não atrapalhe as suas caçadas!

Com a divulgação do relatório da WWF de 1998 sobre a Pegada Ecológica, onde é apresentada uma tabela de distribuição de países conforme a Pegada Ecológica da maior (pior) para a menor (melhor), num verdadeiro campeonato de sustentabilidade, verifica-se que lideram este campeonato países como o Haiti e a República Democrática do Congo. Como estes paradigmas de excelência ficam meio indigestos para o resto dos habitantes do mundo que olham o gráfico com olhos críticos, ela passa o cálculo para outra ONG mais obscura a Global Footprint Network, ou seja, um nome que sugere uma rede internacional para calcular a pegada ecológica. Diga-se de passagem que a tabela de Pegada Ecológica versus Países, não é mais repetida sabiamente pelo Global Footprint Network, no seu lugar aparece uma entrada on line de países conforme a curiosidade do leitor, que se não tiver atento não associará miséria a baixa Pegada Ecológica.

Mesmo a WWF deixando de lado o cálculo da pegada ecológica, ele ainda cria no seu último relatório: Living Planet, Report 2012, Biodiversity, biocapacity and better choices, um item especial sobre os BRICS em que, no meio da citação da sustentabilidade da maior parte dos países que o compõe, introduzem uma DESLAVADA E MENTIROSA AFIRMAÇÃO DEMOGRÁFICA, que colocarei o texto integral para verem:

“The rapid economic expansion of Brazil, Russia, India, Indonesia, China and South Africa – the so-called BRICS group – merit special attention when looking at the Ecological Footprint and the pressure on biocapacity. High population growth in the BRICS group along with increasing average consumption per person are contributing to an economic transformation. As a result, the BRIICS economies are expanding more rapidly than those of high-income countries. This growth will bring important social benefits to these countries. The challenge, however, is to do this sustainably.”

(Tradução Google(?): A rápida expansão econômica do Brasil, Rússia, Índia, Indonésia, China e África do Sul – o chamado grupo BRICS – merecem uma atenção especial quando se olha para a Pegada Ecológica e a pressão sobre a biocapacidade. O alto crescimento populacional no grupo BRICS, juntamente com o aumento do consumo médio por pessoa está a contribuir para uma transformação econômica. Como resultado, as economias BRICS estão se expandindo mais rapidamente do que as de países de alta renda. Este crescimento vai trazer importantes benefícios sociais para esses países. O desafio, no entanto, é de fazer isto de forma sustentável.)

Primeiro eles colocam de carona a Indonésia no grupo dos BRICS, que qualquer idiota sabe que ela não pertence, depois mentem quanto ao crescimento populacional, já que Brasil, Rússia e China estão com tendências de decrescimento de população num futuro bem próximo.

Mas voltando ao assunto principal, alguém conhecia esta tal de ONG – Global Footprint Network? Pois esta nebulosa ONG é quem sistematiza para o mundo inteiro como devemos calcular os nossos limites de crescimento.

Esta ONG possui um comitê de normalização, cujos nomes e procedência são:

Alfredo Rosso, Instituto Nacional de Tecnología Industrial

Caroline Noller, The Footprint Company Pty Ltd

Cathrine Armour, Abu Dhabi Global Data Initiative

Craig Simmons, Best Foot Forward

Ertug Ercin, Water Footprint Network

Fernando Giannetti Biagio, Instituto Jatobás

Katsunori Iha, Global Footprint Network

Gondran Natacha, ENS des Mines de Saint-Etienne

Jane Glavan, Abu Dhabi Global Data Initiative

Jane Hersey, BioRegional Development Group

João Salvador Furtado, Instituto Jatobás

Luca Fernando Ruini, Barilla

Maria Csutora, Corvinus University of Budapest

Miroslav Havranek, Charles University Environment Center

Monika Besenyei, KÖVET Association for Sustainable Econiomies

Simone Bastianoni, University of Siena – Ecodynamics Group

Valentina Niccolucci, University of Siena – Ecodynamics Group

Wolfgang Pekny, Plattform Footprint

Simon Cordingley, (Moderator) Compass Professional Development Ltd

Joy Larson, (Coordinator) Global Footprint Network

É interessante notar que este comitê de normatização é composto por um pequeno número de entidades, não muito representativas e pouco conhecidas nos seus países, como o tal Instituto Jatobás no Brasil, e por empresas privadas que prestam serviço a quem queira reduzir a sua pegada ecológica, algo um pouco estranho para uma ONG que não é governamental por definição, mas possui membros com claros conflitos de interesse na iniciativa privada. Além disto chama a atenção que Abu Dhabi aparece duas vezes no comitê de normalização, um país com uma das piores Pegadas Ecológicas do mundo.

Poderíamos ir mais adiante detalhando, por exemplo, quem financia algumas destas entidades normalizadoras, porém quem quiser saber mais já tem informações que permitem seguir esta verdadeira associação entre amigos que pretende levar ao mundo os parâmetros de sustentabilidade que este deve seguir.

Agora vamos às perguntas que não querem se calar. Qual a representatividade deste Comitê de Normalização? Quem escolheu este comitê? Quem verifica a validade de seus parâmetros de sustentabilidade?

Em resumo, cria-se um parâmetro que define a sustentabilidade das pessoas, cidades, Estados e do Mundo, cria-se a partir do nada uma ONG que parametriza um coeficiente de sustentabilidade, o qual é utilizado por outras ONGs para pressionar os poderes públicos. Com isto tudo se estabelece uma série de normas para o cálculo da Pegada Ecológica e o pior de tudo, se dá um ar de respeitabilidade a este parâmetro e ninguém discute nada! Milhares de textos, trabalhos escolares e acadêmicos e estudos governamentais são feitos a partir de algo que não é discutido pela comunidade local, nacional, regional e mundial, é imposto por uma ONG!

Ou seja, repito o que já escrevi há bastante tempo e foi gentilmente resgatado por precioso colaborador de um texto de 2010 intitulado “No século XX, a Eugenia, no século XXI a Pegada Ecológica.Quando ouço falar em “Indicador de Pegada Ecológica” fico com urticária ou erisipela”.

Redação

21 Comentários

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    1. Farsa porque a partir de um

      Farsa porque a partir de um conceito correto, o de procurar limitar os abusos contra a natureza, se coloca a quantificação disto nas mãos de quem não tem o mínimo respaldo popular, escondendo de todos quem determina como calcular a Pegada Ecológica.

      Calcular é quantificar quais são as atividades que devem ou não ser coibidas, e nesta quantificação, por exemplo, a presença do Brasil que é extremamente elogiada pela FAO (ONU) como um país que está passando a sustentar a alimentação de grande parte do mundo, nos conceitos da Pegada Ecológica isto é um mal a ser corrigido.

      Logo, o conceito de Pegada Ecológica é claro e útil, mas sua implementação a favor da humanidade é definido por grupos estranhos e não representativos de nada, logo para onde ele irá ninguém sabe justificando assim a interrogação: Um bom parâmetro ou uma farsa?

      1. A pegada…

        Hehehe, a Pegada Ecológica é fraude intelectual!

         

        Seus questionamentos são válidos. Não são ninguém.

        Outro dia eu estava discutindo um texto  aqui do blog, sobre a dicotomia entre esquerda e direita. E aí meu primo me veio com o seguinte argumento:

        A tese é inválida(nem lembro o que eu estava argumentando) porque não existem raças!

        Eu fiquei sem resposta e mudo! Porque a mulher dele é negra e fiquei  sem jeito de responder, com medo de ser politicamente incorreto, meio que pisando em ovos.

        O episódio me fez refletir sobre quando e como estas teses, como esta da pegada ecológica, passam a serem aceitas.

        Este caso é mais grave porque ME PARECE algo feito FORA das universidades, então, nem tese é.

        Com o fim, ou quase, dos créditos de carbono, querem criar outro tipo de certificação. Enfim, criou-se O Mercado…e O Mercado não pode ficar orfão do que fazer.

         

        Sobre raças, que não é o assunto aqui, eu não argumentei na hora mas o fato é que a classificação das raças e g~eneros de animais se deu ANTES da descoberta dos GENS.

        Me parece também que a incapacidade atual em diferenciar raças geneticamente não é uma prova de que não existem raças. Prova apenas que não conseguimos diferenciar raças geneticamente, ainda.

        MAs se eu colocar numa sala um Chines, um Finlandês e um Pigmeu eu aposto que vc consegue me dizer de que raça cada um é…. sem precisar olhar seus GENS!

         

        Mas a tese é tão politicamente correta que fica até feio vc ser contra. Mesmo se a tese não tiver qualquer lógica além do politicamente correto.

        A pegada ecológica é a mesma coisa. Tão politicamente correto que fica chato vc ser contra e dizer que É FRAUDE!

         

        Abraço

        1. Athos, não diria que o conceito é uma fraude, agora ….

          Athos, não diria que o conceito é uma fraude, agora a implementação do mesmo é um imenso estelionato, por isto coloquei o ponto de interrogação.

          Ninguém no mundo (ou seja 99,99% da população) deu direito a estes senhores de legislar pelo futuro da humanidade, principalmente devido a heterogeneidade tendenciosa do grupo que o compõe!

  1. Pegada ecológica não combina com Capitalismo. Então nada muda

    Pegada ecológica é (Professores aadêmicos): Tranporte coletivo, Saneamento Básico,univeralizar a aude e a Educação de qualidade, não vender coisas inútteis como alimentos (refrigerante, etc). não fazer propaganda de produtos industrializados quando existir produtos diponíveis(menos elaborados) no mercado.

    Seria , se possível , acabar com o paseio de produtos , sem navios intercontinentais só por ubmissão a loggggggica de mercado.

    1. Luiz, não entendeste o básico.

      O conceito de Pegada Ecológica considero bem razoável e útil, porém para prosseguirmos no caminho desta precisamos quantificá-la de forma correta. Não acho que transformar todos os países em Haitis seja o ideal para o futuro da humanidade, logo a quantificação correta da mesma é essencial, e não acho que estes senhores por mais respeitáveis, probos e confiáveis que sejam, não receberam nenhuma procuração de ninguém para dizer se o mais importante é termos hidrelétricas ou andarmos de bicicleta.

      Pergunta: Tinhas alguma noção de quem estabelecia a forma de calcular a Pegada Ecológica?

    1. A Indonésia, quase uma

      A Indonésia, quase uma colônia dos EUA no pacífico, é um dos países que mais desmata no mundo.

      Suas madeireiras estão atuando na AMAZÔNIA! E só exportam para os EUA…

       

      E colocar a Indonésia em qualquer grupo piora qualquer indicador ecológico.

       

      Acho a observação no artigo pertinente.

      Não temos nada a ver com indonèsia e os BRICS também não!

        1. E  daí?
          Brics é um grupo

          E  daí?

          Brics é um grupo POLÍTICO!

          indonésia, que como eu disse, não tem representatividade POLÍTICA POR SER quase  uma colônia dos EUA, faria o que ali? Representar os EUA nos BRICS?

  2. Seria a pegada ecológia uma “farsa”? – 2 : O Guaíba.

    Vai ver, o “engenheiro” de Bagé acha que, pela cor, o Guaíba se tornou “ecológico”.

    1. Almeida, o texto deixa claro que nao é o conceito q é uma farsa

      E sim o fato dele ter sido apoderado por grupos sem representatividade nem respeitabilidade.

      1. Não adianta Ana Lú, nem desenhando ele vai entender.

        É extremamente simples, pagar uma passagem de ônibus, por exemplo, não é o problema, o problema é quem fixa a tarifa!

        Mas o Almeidinha faz tudo para misturar as coisas ele faz isto para pousar de sabichão.

        1. Nao me bota na briga entre vcs, tá?

          Respeito bastante os 2… (quer dizer, quase todas as vezes… rs, quando “alguém” nao exagera na falta de noçao ou na teimosia, rs).

      2. O título incentiva a estupidez em relação à causa ambiental

        Constrói ignorância, produz alienação. Sabe aquele efeito de uma manchete, sobre as pessoas que não têm muita disposição e paciência para ler? Isso reforça preconceitos, produz desinformação. Aí abaixo, apareceu um desses espiroquetas antiambientalistas, para se manifestar todo assanhadinho, esse é o resultado prático dessa postagem. O texto é uma mistureba de teorias conspiracionistas, com uma birra pessoal doentia contra uma questão central do nosso tempo, o destino da humanidade está em jogo na crise ecológica, fazer descaso disso é uma irresponsabilidade, uma forma de alienação profunda. O autor é useiro e vezeiro em chamar de farsa tudo que deriva do ambientalismo, na prática ele é um ferrenho antiambientalista que não se assume como tal.

        O autor diz reconhecer a validade do conceito e da necesidade do índice, mas mesmo assim confessa ter reações somáticas diante da menção do índice. Que reconhecimento é este que faz um burro velho ter chiliques, quando ouve falar de um índice desenvolvido a partir de um conceito científico?

        Definida uma metodologia clara, publicamente aberta, com seus parâmetros estabelecidos, em cima de bases de dados também públicos, por que colocar em suspeita o índice se foi A ou B quem calculou? Vamos pegar o IDH, por exemplo. A metodologia, os parâmetros e a base de dados são todos divulgados e conhecidos, não importa que o cálculo seja feito pela ONU, pelo IBGE, pelos aspones do renan, pelos coletores de dízimos do malafaia, se os elementos utilizados forem os mesmos, o resultado tem de convergir. Ontem ecrevi um comentário ( https://jornalggn.com.br/comment/690242#comment-690242 )para o “engenheiro” de Bagé: “Minha sugestão: na qualidade de pesquisador de uma universidade brasileira, você deveria escrever para a entidade que apura os dados, solicitar a publicação e verificar a metodologia, os parâmetros e a base de dados; com tudo isso em mãos você pode verificar os cálculos e propor novo método; vai que eles acatem? Acho que eles não vão esconder nada de você, até porque eles já publicam a metodologia no material que divulgam (“The ecological footprint accounting method at the national level is described in the l Footprint Atlas 2010”), com os parâmetros que utilizam (“or in greater detail in the Calculation Methodology for the National Footprint Accounts”), vão aceitar suas observações numa boa (“The National Accounts Review Committee has also published a research agenda on how the method will be improved”) …” Dei endereços de fontes para ele pesquisar: https://en.wikipedia.org/wiki/Ecological_footprint

        O  “l Footprint Atlas 2010” pode ser lido aqui: http://www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/page/ecological_footprint_atlas_2010

        Essa postagem dele acima saiu dessa dica, ele até trouxe o nome de dois pesquisadores de universidades brasileiras que participam do processo. Não custava nada ele escrever e manter contato com eles para se esclarecer, fazer alguma sugestão para contibuir com a melhoria do índice, se é que ele tem. Pra quê vir com uma postagem provocativa, levantando suspeitas contra acadêmicos como ele, com os quais nunca travou nenhum contato, de uma área de conhecimento que ele não tem a menor intimidade, onde jamais publicou qualquer trabalho? Isso é, no mínimo, falta de decoro acadêmico.

        1. Vcs 2 têm ma vontade sistemática contra o outro…

          O texto esclarecia qual era o ponto de vista dele. Vc ainda assim nao concorda, dá argumentos para isso, OK. Mas as acusaçoes que mantém me parecem muito exageradas…

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