O humor de Billy Blanco

Da Folha

RUY CASTRO

Humor de Billy

RIO DE JANEIRO – Quando Dick Farney e Lucio Alves gravaram “Teresa da Praia”, de Billy Blanco e Tom Jobim, em 1954, a letra encantava de saída: [Lucio] “Ô Dick, arranjei novo amor no Leblon/ Que corpo bonito, que pele morena/ Que amor de pequena, amar é tão bom…”/ [Dick] “Ô Lucio, ela tem o nariz levantado?/ Os olhos verdinhos, bastante puxados? Cabelo castanho e uma pinta do lado?”.

Segue o samba e os rapazes descobrem que a moça que conheceram no Leblon e pela qual se apaixonaram (“É a minha Teresa da praia!”) deu, digamos, amor a ambos, um de cada vez. [Dick] “O verão passou todo comigo!”/ [Lucio]
“É, mas no inverno se esquentou com quem?” E resolvem “a Teresa na praia deixar/ aos beijos do sol/ e abraços do mar”, porque “Teresa é da praia, não é de ninguém”.

Teresa podia ser da praia, sem problema -menos da praia do Leblon. Em 1954, o Leblon era um bairro solidamente residencial, mas, quem não fosse seu morador, não tinha por quê visitá-lo, exceto para fins imorais. No fim da praia, ficava o Hotel Leblon, o primeiro “motel” do Brasil, e, à noite, a areia deserta e sem luz era um convite a nheco-nhecos à milanesa, principalmente entre jovens. Donde “ser visto” no Leblon costumava implicar alguma bandalheira.

Billy Blanco morreu na sexta-feira. “Teresa da Praia” foi o começo de sua breve, mas fecunda parceria com Jobim, que renderia ainda a bela “Esperança Perdida” (“Eu pra você fui mais um…”) e os dez sambas da “Sinfonia do Rio de Janeiro”. E, já sem Tom, a paródia que Billy viu-se obrigado a fazer de “Teresa da Praia”, ao constatar que a garota havia mudado:

“Ela usa o nariz só de um lado/ Tem o olho vermelho/ Bastante injetado/ Cabelo na venta/ E sapato 40/ Essa é a tua Teresa da praia/ No Leblon, não engana ninguém/ O meu caso é um rabo de saia/ Vai com calma, que é o dela também”. 

Luis Nassif

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