Militante de rede… ô coisa chata, por Leonardo Rodrigues

Sugestão de Cintra Beutler

do Observatório da Imprensa

Militante de rede… ô coisa chata

Por Leonardo Rodrigues em 18/08/2015 na edição 864 do Observatório da Imprensa

O paradoxo está aí. “Nunca antes na história desse país” tivemos e temos tantos canais de comunicação, plataformas de socialização e tecnologias para fomento de conhecimento. Ao mesmo tempo, é tão difícil o exercício do diálogo. Intriga e cansa cada vez mais o esforço para essa prática. Ou a tentativa de exercê-la.

A composição, em que as vozes se alternam ou respondem, é cada vez mais deixada de lado. Predomina o modelo de imposição do que é tido como absoluto para os comunicadores de redes sociais, em detrimento do que possa ser contraditório. Aliás, o que se percebe nas redes é a relativização de qualquer coisa contrária a um post autoral.

Há certa abstinência do ponderar e do uso do bom senso para discussões que não levam a conclusões. Quase sempre desembocam em depreciação do outro, e não necessariamente se restringindo aos argumentos divergentes.

Há certa tendência em adotar posturas que, mesmo informalmente, constroem um padrão de comportamento nada aconselhável, ou mesmo que se possa adjetivar de saudável. Não seria exagero, em muitos casos, reclassificar como militantes os que se apresentam como comunicadores e jornalistas.

Agressivamente ativos por uma causa, se apresentam de forma simples, mas com tom intelectual. Costumam postar nas redes com uma humildade que quase nos leva a nos considerarmos sortudos por podermos ler suas “obras”. Mas, mesmo nessas plataformas sociais, em que há espaços para comentários, opiniões contrárias ou diferentes dos princípios defendidos pelos militantes não são geralmente bem recebidas.

As redes sociais, mesmo amplamente difundidas, ainda são algo novo e não tão bem assimilado pela sociedade em geral. E ainda não se sedimentou no seu uso a cultura do diálogo e do respeito ao contraditório. Em tal ambiente virtual, predominam as apresentações dos melhores modelos, dos casos de sucesso – sempre dos casais mais felizes, dos religiosos mais fervorosos, dos ateus mais inteligentes, dos cientistas políticos mais perspicazes e dos jornalistas com as melhores opiniões.

Com tais paradigmas fazem seus posts. E medem sua popularidade em likes (curtir) e compartilhamentos. Geralmente, os primeiros comentários a essas postagens são de aprovação. Isso ocorre em razão da probabilidade, já que os comentários são feitos por aqueles que têm pontos em comum, que dividem o mesmo espaço virtual e seguem um ao outro.

Desconstrução do diálogo

Mas, diante de situações contraditórias, de casos polêmicos, de informações envolvendo o mundo político e econômico, é normal a ocorrência do adverso. E aí se percebem alguns sinais de padronização de desconstrução do diálogo. O primeiro é o uso de certa dose de humor, com ironia, para colocar em cheque a crítica e reafirmar a postura inicial. Se a oposição atingir um patamar insustentável, segue-se a tendência de tirar do foco a denúncia ou objeto de discussão. Passa-se a falar sobre o denunciante ou sobre o crítico.

Começa-se, então, a apurar primeiramente coisas imateriais, como intenção, disposição, linha editorial e ideologias que possam estar por trás da crítica. Em seguida, passa-se às coisas materiais, como currículo, os últimos locais de trabalho, se há aproximação ou afeição por algum partido, se há influência das universidades em que o autor da crítica estudou ou lecionou – além do recurso, caso necessário, de sobrepor um escândalo do autor do post com outro do crítico (ou de alguém próximo).

Caso o tom de determinada discussão atinja altas temperaturas, começam a aparecer mais participantes para pitacos, que cumprem a função de servir como lenhas na fogueira. Normalmente, seus autores deixam o ringue rapidamente para a contínua luta do autor e seu crítico. Quase sempre, esses debates virtuais terminam sem conclusões práticas. Depois de uns 20 comentários, cada um continua com a mesma opinião e segue seu caminho.

Isso é o mais frustrante nos “diálogos” de hoje. Cada participante continua exatamente do mesmo jeito. Em nome da razão, que pode perfeitamente ser interpretada por orgulho, abre-se mão da evolução e aprimoramento da opinião.

Palavras ou expressões como “desculpa”, “você tem razão”, ou “não tinha pensado assim” sequer são cogitadas. Jornalistas afirmam exercer comunicação, mas se comportam como militantes. Frases de efeito e memes são usados cada vez mais como argumentos, além de se confundir achismo com opinião.

Dúvida? Perceba que em um país onde há mais de 30 partidos as “conversas” são polarizadas em duas legendas. Caso se fale do azul, há argumentos vermelhos e vice-versa. Uma nação em que laicismo se confunde com ateísmo ou obrigações religiosas unilaterais fica difícil ter uma boa prosa para se agregar informação e conhecimento.

Francisco José Castilhos Karam, em artigo publicado no Observatório da Imprensa, em junho de 2013, com o título “Jornalismo, ética e redes sociais” (http://zip.net/bkrNkf), aborda a ética como tema, e descreve: “As mudanças estruturais no jornalismo seguem determinados padrões, que acompanham épocas, circunstâncias, conjunturas e comportamentos. Num momento de implantação e consolidação das redes sociais, alguns autores falam no fim do jornalismo, enquanto outros no seu renascimento ciberespacial vinculado ao interesse público”.

Entre se ter esperança, ou aguardar o apocalipse do jornalismo, no momento procura-se uma boa prosa. Não concorda? Ótimo, isso dá uma boa conversa.

***

Leonardo Rodrigues é jornalista e chargista

Original em:

http://observatoriodaimprensa.com.br/redes-sociais/militante-de-rede-o-coisa-chata/

Redação

10 Comentários

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  1. Um dos comentaristas mais

    Um dos comentaristas mais chatos e chulos do blog, apresentando um texto para criticar a chateação e a vulgaridade alheia. clap clap

  2. Santa ingenuidade…

    Faz um monte de considerações, algumas até procedentes, mas cai no velho pensamento alienado de chamar facebook e twitter de “redes sociais” ( como se não fossem simplesmente empresas com interesses políticos e comerciais bem claros…). E ainda por cima atribui somente aos “usuários” a pobreza intelectual das “redes sociais” como estes produtos comerciais das empresas não funcionassem a partir de programas estáticos e restritivos que impedem que a contradição seja apresentada de forma inteligente e transformam tudo numa disputa tola de views e likes, extremamente manipulados pelas empresas para obtenção de seus lucros pouco éticos.

    Quando será que alguma pessoa realmente inteligente e crítica vai conseguir analisar a pobreza que decorre dessas bobagens chamadas “redes sociais”???!!!

  3. Mimimi

    Tem gente que se ofende com uma facilidade… passa recibo sem pestanejar. Atribui pra si alguma crítica feita aleatoriamente, leva pro lado pessoal e passa a usar o artifício “ad hominem” só porque não gostou de algumas assertivas.

  4. Complemento ao texto

    Há pairando na opinião pública uma assertividade que não abre margem para disposições em contrário. Não existe espaço para o contraditório, para ponderações divergentes. Não há margem para que a via de sentido contrário flua. Esse tipo de autoritarismo da maioria é sentido nos comentários dos veículos de comunicação em massa, onde o bom senso é descartado de início. A reflexão saudável e equilibrada é ausente.

    Esse clima de ameaça constante, de repreensão do contrário, parece verter a partir de um setor da sociedade que desde as eleições passadas vive ainda o clima de disputa eleitoral. Veio no lastro dessa insatisfação de parte da sociedade (artificialmente introjetada e inflamada diariamente pela imprensa alarmista e irresponsável), uma propaganda dirigida. A manipulação do noticiário, tendencioso, repleto de omissões e meias-verdades, fez com que aflorasse o sentimento de intolerância desse público consumidor de manchetes. Arrisco dizer que ele representará a maioria dos participantes das manifestações do dia 16.

    Em tempos “facebookianos”, tornaram-se típicas as divulgações de verdades incontestáveis. Normalmente em textos simples ou, mais comumente, em imagens acompanhadas de textos curtos. Tornou-se amiúde um certo tipo de pensamento maniqueísta e simplório. Óbvio que tal expediente independe dos sabores idelógicos e partidários – é uma constatação universal. Porém, o maior dano é causado por aqueles que se arrogam uma espécie de crédito ou autorização para difundir o ódio, pois abundam exemplos de representantes deste tipo em específico. Creio que essa espécie de licença para difamar e aviltar seja resultado de dois fatores: uma inerente disposição para o combate contra seja lá qual for a bandeira e a propaganda diuturna do catastrofismo pela imprensa. Esta última parece justificar o primeiro.

    Há juntamente com essa sensação de imposição, a supressão da voz contrária, que discrimina o oposto. O fato de acreditar em certas causas e bandeiras, apropriar-se de certos preceitos e pensamentos, cuja atribuição de legitimidade (se é que ela cabe) é totalmente subjetiva e pessoal. Entretanto, parece que isso tem sido convertido em uma espécie de confissão de crime, de conivência com o que a opinião majoritária atribui como inquestionavelmente condenável e deplorável.

    Quer essa mesma opinião majoritária e despótica, dizer que se você não é favorável a ela, automaticamente você passará para o lado dos reprováveis. Não ouse ameaçá-la com racionalidade ou contragolpeá-la com suas contradições e incoerências. Não há argumento racional, ponderação ou apelo à razão que vençam a brutalidade da ignorância.

  5. Mano, na boa… você

    Mano, na boa… você realmente acredita que é possível dialogar com moleques que exibem seus anus na Av. Paulista por razões políticas, com nazistas com a camiseta da CBF que erguem seus braços contra a presidenta eleita pelos os brasileiros e com as moçoilas que exibem suas tetas siliconadas porque querem empossar o candidato derrotado? Você já tentou dialogar racionalmente com os fervorosos evangélicos durante uma Marcha para Jesus? Ha, ha,ha… vai vendo. Vou gostar muito de vê-lo dialogar com o povo tucano ou com o povo do deus Eduardo Cunha.  Você conversa com eles e eu prometo ficar quieto só observando. Feito? 

  6. Sou um militante virtual do PT. . .

    Sou um militante virtual do PT há vários anos e aprendi duas coisas nesse tempo: 1) Quem é contra o PT, diz que é contra por causa do excesso de corrupção do PT, MAS VOTA NO PSDB, e 2) Militantes virtuais do PT são CHATOS, mas militantes virtuais do PSDB são IGNORANTES E VIOLENTOS.

    1. Militantes são sempre chatos, sejam do PT, PSDB ou outros

      Mas pior do que serem chatos é serem impermeáveis aos fatos; nada os demove da “razão” dos seus líderes e em nome dessa “razão” lutam muitas vezes desde posições muito incômodas… Será que vale a pena?

      Eu acho triste, essa “obrigação”… mas kadum, kadum!

  7. E ………………………

    Sou militante virtual com muito orgulho, e justifico: As Redes sociais hoje, nos possibilita o contraponto, ao contrário dos antigos jornais, que ao enviar uma carta para a redação reclamando de alguma inverdade publicada, jamia seria publicada, como aconteceu comigo várias vezes!

    Na Rede, encontramos vários lixos e vicios, mas nem por isto devemos invalidar os que tentam fazer o contraponto a esta midia porstituta que durante várias decadas reinou absoluta e inconteste!!!

    O medo que ela propagava, fazia tremer os audaciosos que raramente ousavam confronta-la, pois corriam risco de sofrerem o classico assassinato de reputação, que tardiamente era retificado, mas aí, “Inês já era morta” , pois jamais se recuperariam suas reputações!!!!!

    Finalizando, quero dizer que, com todos os defeitos e vicios, vejo lque a militancia virtual ainda é o contraponto que esta imprensa prostituta e vendida precisava ter !!!!!!!

    Ainda falta muito para eu ver a lápide da citada – ” AQUÍ JAZ QUEM CAVOU SUA PROPRIA SEPULTURA” !!!!!!!!!!!!!

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