A lição que o Egito nos dá.

 

Que sirva de lição o que aconteceu no Egito.

Primeiro presidente eleito democraticamente é deposto por golpe civil/militar apenas um ano e meio depois de empossado.

Alguns erros foram cometidos assim que Hosni Mubarak, antigo ditador, foi alijado do poder, após intensos protestos. A primavera árabe. Os militares então tomaram conta do poder e lá permaneceram por um ano, até a realização de  eleições.

No entanto houve erro no processo, a meu ver.

O povo, agente e causa direta do fim da era Mubarak, não foi consultado em nenhum momento sobre que forma de governo desejaria. Presidencialismo, parlamentarismo, monarquismo, Faraóismo. Nada, nenhuma pergunta. Sim, há povos que preferem outros sistemas de governo. E quanto ao Estado. Laico ou não?

Deveria haver um plebiscito. Não importa o tamanho do caos que se instalou. Seria um ótimo começo e demonstração de respeito à população.

A constituição egípcia permaneceu a mesma dos tempos da ditadura. Não seria interessante chamar uma assembleia constituinte para adaptá-la aos novos tempos e rumos do país?

Foram trinta anos de Hosni. Evidentemente o povo não estava organizado em partidos políticos ou associações. Os jovens não viveram outros tempos. As eleições não seriam justas.

Então o único movimento suficientemente organizado para tomar conta do poder seria o religioso.

A religião tende nestes casos de obscurantismo a se sobressair. Não se desfaz mesmo debaixo da mais ferrenha tirania. Até o ditador tem um quê de religiosidade. O que restou do império romano foi a igreja católica, correto?

Então, deu o que tinha que dar. Foi eleito Mohamed Mursi. Pertencente ao grupo religioso Irmandade Mulçumana. Dito radical.

Não resolveu os problemas econômicos. Não se livrou da imagem de corrupto. E tentou implantar um estado mulçumano. Lá foi a população de novo às ruas. Os militares deram um ultimatum: ou ouve a voz do povo ou será destituído.

Mas como Mursi não tomou o poder pela força, seus simpatizantes saíram também em protestos a apoiá-lo. Até agora estimasse em cem mortos. O presidente preso. Outro colocado no poder. E vão começar tudo de novo.

Esse é o perigo quando não se tem uma sociedade representada em seus diversos níveis e minimamente organizada. E com uma constituição atualizada com a nova realidade.  A religião tende a ocupar o vácuo. Se não for ela será outro grupo radical. Ou os dois. O pior cenário.

A população se sente vulnerável e sem rumo. Disposta a seguir a qualquer um com discurso fácil.

Até o momento não apareceu sistema melhor que a democracia. Por isso devemos defendê-la, sempre. E lutar por mais democracia.

Grupos religiosos e radicais sempre estarão à espreita para tomar o poder. E se isso acontecer será  um deus-nos-acuda. Azar das outras expressões culturais que não se encaixarem nos seus dogmas. Será o fim de outros estilos de vida. Da chama jovem que move o mundo.

Redação

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