Exclusivo: Interrogado, Deltan disse que “não se recorda” de pressionar Hardt para homologar a Fundação Lava Jato

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Embora diga não se recordar de nada, Dallagnol estaria envolvido até o pescoço com o esquema que daria vida à fundação privada

Deltan Dallagnol
Deltan Dallagnol. Foto: Lula Marques/Agência Brasil

O ex-procurador Deltan Dallagnol disse em interrogatório que embasa a correição extraordinária na Lava Jato, promovida pela Corregedoria Nacional de Justiça, que “não se recorda” de ter pressionado a juíza federal Gabriela Hardt para acelerar a homologação do acordo entre Ministério Público Federal e Petrobras que desviaria mais de R$ 2 bilhões para a famigerada fundação privada que, na mídia, ficou conhecida como Fundação Lava Jato.

A correição extraordinária na 13ª Vara Federal de Curitiba, promovida pelo time do ministro Luís Felipe Salomão, descobriu, a partir de depoimento da própria juíza Gabriela Hardt, que houve pressão sobre a magistrada e tratativas informais junto aos procuradores de Curitiba para homologar o acordo, que foi feito às “pressas” e faltando documentos básicos, na visão da Corregedoria. Os procuradores teriam, inclusive, antecipado, via WhatsApp, a minuta do termo de poucas páginas que Hardt veio a homologar em 2019. Questionado sobre os fatos, Deltan disse não se recordar de nada.

“QUE indagado se integrantes da força-tarefa trataram previamente dos termos do acordo de assunção de compromissos com a juíza GABRIELA HARDT, [Deltan Dallagnol] respondeu que não se recorda; QUE deseja esclarecer que, até assinava em conjunto algumas petições, mas não estava ‘na parte operacional’; QUE não sabe dizer o prazo entre a protocolização do acordo e a decisão de homologação; QUE, em geral, as decisões de homologação ocorriam rapidamente; QUE indagado especificamente se tem conhecimento de algum integrante da força-tarefa ter discutido os termos do acordo, inclusive com apresentação de minuta, com a juíza GABRIELA HARDT, respondeu que não se recorda.”
[Trecho do depoimento de Deltan Dallagnol na correição extraordinária]

Na semana passada, por 9 votos a 5, o CNJ decidiu abrir procedimento administrativo disciplinar (PAD) contra Gabriela Hardt justamente por causa da Fundação Lava Jato, entre outros pontos. Além disso, Salomão sugeriu o encaminhamento de cópia dos autos à Procuradoria-Geral da República, para que se verifique a possibilidade de apuração também na esfera criminal.

O PAD vai se restringir a investigar a conduta de Hardt na homologação do acordo que só não se tornou realidade por decisão do Supremo Tribunal Federal. O ministro Alexandre de Moraes entendeu que a fundação privada com dinheiro público era uma empreitada inconstitucional e homologada por juízo incompetente, e anulou os efeitos do acordo.

O termo previa a criação da Fundação Lava Jato com dinheiro de multa paga pela Petrobras nos Estados Unidos, com parte considerável do montante (80%) retornando ao Brasil sob a influência de Dallagnol. Com a fundação privada, a força-tarefa pretendia investir em “projetos sociais” e formação de lideranças políticas.

No relatório da correição, consta que o contexto em que a fundação surgiu pode configurar possível crime de desvio na modalidade peculato. O relatório da correição – que não pôde se aprofundar sobre o papel dos procuradores na trama – afirma ainda que é preciso investigar a quem interessava a criação da fundação privada, e indica que, no âmbito pessoal, aparentemente contemplava as aspirações de Deltan Dallagnol e Sergio Moro pela carreira política.

Embora Dallagnol afirme que não se recorda de nada, a correição revelou que o ex-procurador esteve envolvido até o pescoço com o processo que a Petrobras enfrentou nos EUA por causa da Lava Jato. Além de ajudar os americanos a fabricar as denúncias que culminaram em acordo com multa bilionária, Dallagnol teria negociado o retorno de parte da multa ao Brasil.

Em paralelo, Moro abriu o procedimento secreto que foi usado para administrar as contas judiciais de ondem partiram bilhões de reais, sem transparência ou critério, aos cofres da Petrobras. A verba era fruto de acordos de delação e leniência fechados pela Lava Jato em Curitiba, e destinados à Petrobras antes mesmo do trânsito em julgado. Com isso, a Petrobras conseguiu fazer frente à multa nos EUA, e a Lava Jato planejou se beneficiar adiante com o retorno da multa para a fundação privada. Salomão chamou o esquema de “cash back”.

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7 Comentários

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  1. Essa lavajato escancarou o desrespeito pelo dinheiro público por parte dos membros que nela atuavam como o deltan ao marreco Moro.
    Todos que atuaram pra essa farsa usando a justiça pra roubar o erário público terão que pagar na justiça por seus atos ilícitos.
    Parabéns 👏👏👏 ao Ministro Salomão por estar tomando as devidas providências.

  2. Nassif, que tal uma enquete sobre os “n” (10, 20, 50, 100?) brasileiros mais nefastos per seus prejuízos à nação brasileira e outros que mais contribuiram para a mesma, não como pessoas, mas por seus RESULTADOS. Por ex:

    Mais NEFASTOS:
    Marinho/Frias/Mesquita/Civita/Chateubriand
    Lacerda, Jânio Quadros, Mourão (64), Costa & Silva, Médici
    Collor, Fernando Henrique, José Serra, Temer, Bolsonaro
    Joaquim Barbosa, Moro, Dallagnol
    A.Moura Andrade, Eduardo Cunha, Arthur Lira
    Parente, C.Branco

    Mais BENEMÉRITOS:
    Leopoldina
    Mauá
    Vargas, JK, Lula
    Tom Jobim, C.Miranda, Ary Barroso, Villa Lobos, O.Niemeyer, M.Assis, P.Freire, Darcy Ribeiro, A.Teixeira

    Desculpem, certamente esqueco muitos nomes, é só pra iniciar. Que tal?

  3. Nassif, que tal uma enquete sobre os “n” (10, 20, 50, 100?) brasileiros mais nefastos per seus prejuízos à nação brasileira e outros que mais contribuiram para a mesma, não como pessoas, mas por seus RESULTADOS. Por ex:

    Mais NEFASTOS:
    Marinho/Frias/Mesquita/Civita/Chateaubriand
    Lacerda, Jânio Quadros, Mourão (64), Costa & Silva, Médici
    Collor, Fernando Henrique, José Serra, Temer, Bolsonaro
    Joaquim Barbosa, Moro, Dallagnol
    A.Moura Andrade, Eduardo Cunha, Arthur Lira
    Parente, C.Branco

    Mais BENEMÉRITOS:
    Leopoldina
    Mauá
    Vargas, JK, Lula
    Tom Jobim, C.Miranda, Ary Barroso, Villa Lobos, O.Niemeyer, M.Assis, P.Freire, Darcy Ribeiro, A.Teixeira

    Desculpem, certamente esqueco muitos nomes, é só pra iniciar. Que tal?

    1. Inclua a Maria da Conceição Tavares, a Erundina…. Entre os nefastos dê um desconto para o Serra, que trouxe os genéricos e nos livrou do cigarro, do Jânio Quadros que foi um bom prefeito para São Paulo, por suas frases célebres, uma das quais o Lula poderia aproveitar em sua defesa : ” bebo porque é líquido, se fora sólido, come-lo-ia” e
      A inflação dissolve o dinheiro, avilta os tesouros, compromete o crédito, perturba a produção, paralisa as obras, dessora os governos, depaupera os particulares, fermenta as revoluções.”
      ah! e por ter sido em dado momento a única alternativa ao corrupto Adhemar de Barros.

  4. Faz sentido. Como todo vagabundo, Deltan Dellagnol precisa desesperadamente simular lapsos de memória para não se auto incriminar.

  5. Coitado do Dalanhinho, está com a memória fraca, precisa tomar vitamina B12 e talvez um pouco de cálcio. Que tal um calço e um Bifa, pra se lembrar rapidinho das coisas, hein Dalanhol?

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