“Evidente que Bolsonaro tentou se evadir” e Hungria possivelmente negou refúgio, diz ex-diplomata

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Para Milton Rondó, Bolsonaro ficou dois dias na embaixada aguardando reposta de Budapeste sobre refúgio, e teria saído após possível rejeição

Desde que o jornal The New York Times revelou que Jair Bolsonaro passou dois dias e uma noite na embaixada da Hungria em Brasília, teorias têm sido levantadas a respeito do que o ex-presidente foi fazer no local. Teria ele se refugiado no território húngaro dentro do Brasil com medo de ser preso no Carnaval? Teria encaminhado conversas ou feito pedido oficial de “asilo político”? Foi se encontrar sorrateiramente com aliados com os quais não poderia manter contato?

A defesa de Bolsonaro e seus apoiadores negam pedido de “asilo” e usam o ato bolsonarista em 25 de fevereiro na Av. Paulista como álibi. Mas a Polícia Federal vai investigar por que o ex-presidente foi se “hospedar” na embaixada húngara, apenas quatro dias depois de sofrer ação de busca e apreensão de seu passaporte no âmbito da Operação Tempus Veritatis.

Para o diplomata aposentado Milton Rondó, que concedeu entrevista ao GGN na noite de terça (26), “está evidente que Bolsonaro tentou se evadir”. Na teoria de Rondó, “o embaixador deve ter avaliado mal [as chances de sucesso] e deu luz verde para ele [Bolsonaro] entrar”. Bolsonaro, então, teria permanecido os dois dias na embaixada até receber resposta negativa de Budapeste sobre a possibilidade de “refúgio” – asilo político, conforme explicou Rondó, existe entre países da América Latina; em países da Europa, tecnicamente, o termo correto é “refúgio”.

Mesmo consultada por veículos de imprensa, incluindo o NYT, a embaixada húngara em Brasília ainda não confirmou nem desmentiu que houve pedido de refúgio por parte de Bolsonaro.

Para Rondó, o caminho para descobrir a verdade passaria pelo Supremo Tribunal Federal expedindo uma carta rogatória, via Itamaraty, para questionar ao governo de Viktor Orbán a respeito dos fatos.

O jornal The New York Times obteve com exclusividade imagens das câmeras internas da embaixada que mostram Jair Bolsonaro hospedado no local por dois dias e uma noite. Neste frame, ele caminha pelo estacionamento.

O caminho para a verdade

“O STF é quem expede cartas rogatórias, quando você quer falar juridicamente com outros governos. Imagino que o STF vai fazer isso, expedir uma carta rogatória para o governo húngaro, por meio do Itamaraty, perguntando o que esse senhor foi fazer dentro da embaixada da Hungria. E o governo húngaro poderá responder ou não, pode alegar confidencialidade. Vai arranhar as relações com o Brasil, evidentemente. Mas temos todo o direito de perguntar. Para mim, está evidente que ele [Bolsonaro] tentou se evadir. Está muito claro“, disparou Rondó.

O STF deu 48 horas, após a reportagem do NYT na última segunda (25), para a defesa de Bolsonaro se explicar. O ex-presidente foi recebido, em 12 de fevereiro, pelo embaixador da Hungria no Brasil, Miklós Halmai, e deixou o local no dia 14.

Na visão de Rondó, Bolsonaro provavelmente tem relações de amizade com o embaixador Miklós, que por sua vez teria sido “ingênuo” na consulta a Budapeste.

“Fica muito claro, pelo menos para mim, que Bolsonaro tentou o refúgio. Por isso ele ficou dois dias. Ele aguardou a resposta de Budapeste. O embaixador consultou Budapeste, e a resposta foi negativa, e Bolsonaro saiu. Para mim, é esse o quadro. (…) Muito provavelmente esse embaixador é de extrema-direita. (…) Tinha relações com Bolsonaro. Mas a minha impressão é que ele foi muito ingênuo, achou que viria uma resposta positiva de Budapeste, e não veio.”

Prisão preventiva

Para juristas como Pedro Serrano, o episódio abre caminho para uma prisão preventiva de Bolsonaro. O cientista político Cláudio Couto concordou, durante entrevista na TVGGN, que Bolsonaro deu razões para, no mínimo, usar uma tornozeleira eletrônica. “Não porque ele cometeu um crime [dormindo na embaixada], mas porque há risco de fuga. Claro que a prisão causaria ruído imenso, e a cautela do STF vem daí, de evitar a martirização de Bolsonaro.”

Segundo Milton Rondó, a embaixada é um território fora da jurisdição brasileira. “Pela Convenção de Viena, as embaixadas têm extraterritorialidade. Ou seja, o terreno da embaixada em Brasília é terreno húngaro. A partir do momento em que Bolsonaro entra na embaixada, ele está coberto pela lei da Hungria.”

Outros pontos de fuga

Ainda de acordo com o ex-diplomata, Bolsonaro ainda pode se arriscar em obter refúgio em outros países governadores pela ultradireita. “Na verdade não temos só a Hungria como eixo de extrema-direita. Polônia, Dinamarca, Holanda, Itália são países governadores pela extrema-direita. Ele tem um leque de possibilidade, mas se ele vai lançar mão disso, aparentemente sim, e começou com a Hungria.”

Milton Rondó é diplomata aposentado. Foi secretário socioeconômico do Instituto Ítalo-Latino Americano, vice-presidente do Comitê Consultivo do Fundo Central de Emergências da ONU e representante do Itamaraty no Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – CONSEA, de 2003 a 2016.

Assista a entrevista completa abaixo:

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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  1. Um certo Jaera é flagrado correndo atrás de uma bela de biquini, desconhecida dele, numa praia deserta e, depois de kms, alcança a já apavorada mulher e passa-lhe a mão em suas nádegas.
    Ao ser questionado, diz: “apenas espantei o que pensei ser um pernilongo, por que? É crime?

  2. Um certo Jaera Bossauro é flagrado correndo atrás de uma bela de biquini, desconhecida dele, numa praia deserta e, depois de kms, alcança a já apavorada mulher e passa-lhe a mão em suas nádegas.
    Ao ser questionado, diz: “apenas espantei o que pensei ser um pernilongo, por que? É crime?

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