Lava Jato faz 6 anos sem responder por politização e irregularidades

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Procuradores despejam números dos 6 anos de operação em cima de uma imprensa incapaz de abandonar o papel de cão de guarda

Jornal GGN – A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba convocou, na segunda-feira (10), parte da imprensa para fazer um balanço dos seis anos ininterruptos de operação. Além de despejar números em cima dos jornalistas, os procuradores liderados por Deltan Dallagnol usaram os holofotes para responsabilizar o Supremo Tribunal Federal e o Congresso pelo pé no freio das investigações.

Segundo relatos do Estadão, o destaque ficou para os 4 bilhões de reais que a força-tarefa se gaba de ter devolvido à Petrobras nesse período. O GGN já mostrou que o valor é mais de quatro vezes inferior ao que a própria Lava Jato fez a Petrobras gastar, sozinha, para se livrar de processos nos Estados Unidos.

Deltan e equipe também exaltaram o “número recorde de pedidos de cooperação internacional”, envolvendo “um terço dos países do planeta”, além de “185 acordos de delação premiada.”

Por outro lado, nenhuma explicação foi dada sobre as evidências de que a cooperação internacional, sobretudo com Estados Unidos e Suíça, ocorreu sem observar os procedimentos previstos em lei. O GGN já havia levantado essa bola em 2018, quando um vídeo do agente Kenneth Blanco, do Departamento de Justiça dos EUA, veio à tona. Nele, o norte-americano admite que os brasileiros recebiam dados utilizados em processos de maneira informal. Mais tarde, o The Intercept Brasil revelou diálogos que confirmaram as suspeitas que podem levar à anulação de diversos casos.

A revelação de que empresas como Odebrecht e OAS teriam comprado a delação premiada de seus funcionários – utilizadas, principalmente, para levar Lula à prisão e impedi-lo de disputar a corrida presidencial em 2018 – tampouco recebeu atenção dos procuradores durante o balanço.

Os procuradores apontaram que a Lava Jato foi prejudicada pela aprovação da lei de abuso de autoridade. Mas a lei foi sancionada somente em janeiro passado. A operação já vem tirando o pé do freio há muito mais tempo. Com Lula solto e Sergio Moro no Ministério da Justiça, a força-tarefa perdeu a mão. Prova disso é que teve de reciclar denúncia contra o filho de Lula.

O mesmo vale para as três decisões do Supremo Tribunal Federal que eles questionam. Todas – prisão em segunda instância, prevalência da Justiça Eleitoral para julgar caixa 2 e anulação de casos em que os delatados não se manifestaram antes dos réus – vieram depois que Moro já era ministro.

Com as mensagens de Telegram expostas ao mundo, deveria ser impossível para Dallagnol tangenciar perguntas sobre o jogo combinado entre acusadores e juiz, ou a agenda política por trás da operação, e todas as irregularidades já levantadas por repórteres e juristas. Mas perante uma imprensa ainda incapaz de abandonar o papel de cão de guarda da Lava Jato, o impossível se torna totalmente possível.

Leia mais: “Cão de guarda” do Judiciário, velha mídia tem parte (vergonhosa) na ascensão de Moro

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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