O país quer segundo turno?, por Ricardo Cappelli

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O país quer segundo turno?
 
por Ricardo Cappelli
 
“Os Direitistas denominaram o voto no Bolsonaro de “voto inseticida”. Nós podemos pregar o “voto exorciza” e acabar com o Capeta Nazista.” 
 
A frase acima, publicada em minha página no facebook por um leitor, sintetiza o clima de guerra no país. Ninguém parece disposto a ceder. Qualquer apelo à razão parece inútil. Mediação e bom senso viraram verdadeiros palavrões.
 
Num clima como este, alguém está disposto a esperar alguma coisa? Se o objetivo é aniquilar o inimigo – e penso que posso fazê-lo imediatamente – faz sentido esperar e apostar num segundo turno de desfecho imprevisível?

 
A boca do jacaré está abrindo. Duplamente. As pesquisas indicam que Haddad e Bolsonaro estão subindo, enquanto os demais estão descendo. Parece que estamos vivenciando a profecia de que o centro virou pó.
 
Quem tentou posar de moderado naufragou. Alckmin está com sua extrema unção encomendada. Ciro tem uma semana para apresentar algum tipo de reação. O improvável apoio de Marina poderia criar um fato positivo. 
 
A candidata da Rede assiste passivamente seus votos desaparecerem seu qualquer influência sua. Se continuar no ritmo atual deve “pontuar negativamente” nas próximas pesquisas.
 
Se o trabalhista não reagir será tragado pela mandíbula de Haddad. O ex-prefeito de São Paulo está longe de ser um radical. É o mais moderado dos petistas, qualificado, sóbrio, uma tentativa inteligente de Lula de ampliar na sociedade mantendo um nome do PT.
 
Entretanto, por mais esforço que faça, Haddad continua sendo um “Petralha”. E a sociedade parece querer continuar na sua aposta de que só um ajuste de contas radical é capaz de recuperar o Brasil. 
 
Neste clima, Bolsonaro e Haddad viraram uma espécie de irmãos siameses. A subida de um empurra o outro. Se o cenário mais provável se confirmar e o centro desaparecer de vez, os dois devem continuar subindo.
 
O primeiro objetivo na guerra é ganhá-la, obviamente. Se for impossível este objetivo com seu próprio exército, o objetivo passa a ser ajudar a derrotar seu inimigo principal. Se Amoedo não tem chance nenhuma e o PT está crescendo, por que não votar logo em Bolsonaro? 
 
O mesmo vale para os eleitores progressistas que, temendo uma vitória de Bolsonaro no primeiro turno, podem antecipar para o primeiro round o voto útil em Haddad.
 
Alguns analistas, descolados da política real, os mesmos que passaram meses profetizando que seria mais do mesmo, PT x PSDB, agora decretam que esta leitura é de uma minoria, que o povo jamais fará este movimento. Será? 
 
Subestimam a sabedoria popular e a impaciência com a política disseminada de forma irresponsável pela grande mídia. “Eu estou desempregado, a política virou coisa de bandido, pra que sair de casa duas vezes para votar? Se posso dar um soco no estômago do sistema de uma vez e esmagar o mal, não faz sentido esperar.”
 
Você pode ser vascaíno ou botafoguense, mas é impossível entrar no Maracanã lotado num Fla-Flu numa final de campeonato e não assumir a torcida por um dos lados. O estádio está enchendo, a temperatura está subindo.
 
Apesar do segundo turno ainda ser o mais provável, não será surpresa se a eleição nacional acabar no dia 7 de outubro com uma vitória de Haddad ou Bolsonaro. Com o inimigo a ser subjugado definido, mais debates são desnecessários.
 
Apertem os cintos. Tudo indica que a corrida vai acelerar.
 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

9 Comentários

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  1. Nas últimas pesquisas com

    Nas últimas pesquisas com Lula somente ele poderia vencer no primeiro turno. Redundância acaciana mas os votos dele superavam os votos de TODOS os outros. Hoje Lula é Haddad. Se Haddad for Lula poderá vencer no primeiro turno. Não consigo entender de onde virão os votos para Bolsonaro vencer no primeiro turno. É provável que receba boa parte dos de Amoedo, Meirelles e Alckmin mas não serão suficientes. Um ou outro de Lula poderia ir para ele mas serão tantos para garantir a vitória de Bolsonaro ? Meu “achômetro” vai mais em direção ao segundo turno, minha crença é que dará Haddad.

  2. Voto Útil em Ciro no primeiro turno ?

    A hipótese de Ricardo sobre o Voto Útil para decidir no primeiro turno parece ser pouco provável. Se houver Voto Útil no primeiro turno este será CONTRA Bolsonaro e CONTRA Haddad (concomitantemente).

    Os candidatos mais relevantes, que podem produzir o fenômeno do Voto Útil, são Marina e Alckmin. Por variadas razões, duvido que os eleitores de Marina e Alckmin escolham Bolsonaro ou Haddad num primeiro turno. Penso que o mais provável é que esses eleitores, se optarem pelo Voto Útil, o façam para Ciro Gomes.

    A razão é simples: Bolsonaro e o PT são os mais repudiados pelos eleitores. Ciro, ao contrário, é o que tem a menor taxa de rejeição.

     

     

    1. Ciro parou em 11%

      e deve iniciar sua descida ruma à Marina e Alckmin.

      Estamos falando de voto útil não de voto fútil. 

      A necessidade do campo progressista pegar de surpresa a camarilha do golpe já no primeiro turno é mais importante do que todos estão imaginando. Um segundo turno com a perspectiva de derrota de Bolsonaro pode motivar um golpe explícito. Pegá-los de surpresa seria, talvez, nossa única chance de iniciar a recuperação de nossa soberania roubada. 

      Contamos com os votos de Ciro para isto. Acredito que eles virão no apagar das luzes depois de superada a frustação. 

       

       

  3. O Brasil precisa de um novo governo para ontem!

    Quem precisa do segundo turno?

    Escutar o quê mais do capitão e do general?

    Não há nada que o general não saiba que não se encontre nos livros de geografia e história!

    Eles sabem governar?

    Quem sabe governar não chama outras nações de mulambada!

    Vamos ganhar no primeiro turno e começar a traçar planos para o futuro o mais rápido possível!

    Se der Bolsonaro a economia do nosso pais vai derreter…

  4. Profecia ou possbilidade?

    A conclusão de que esta eleição pode acabar no primeiro turno não é profecia, é uma hipótese plausível e uma possibilidade.

    Não descarto completamente, neste caso, de uma vitória de Bolsonaro. Mas, penso muito improvável, além de indesejável. Acredito na chance maior de Haddad. Senão, vejamos.

    Os votos brancos e nulos somam 14% (Ibope 18/9) e, mantido esse patamar, para vencer no primeiro turno o candidato precisa de 43% +1 voto.  Bolsonaro tem 42% de rejeição e Haddad 29%. A rejeição à Haddad é equivalente às intenções de voto em Bolsonaro, o que pode indicar que a rejeição a sua candidatura não deve subir ou, então, subir muito pouco. Logo, isso deixa um espaço de avanço muito mais confortável para Haddad.

    Bolsonaro, para eleger-se, precisa de outros 15% e, para tanto, vai buscar votos à direita ou centro-direita. Os candidatos desse espectro estão já bastante desidratados, com pouca possiblidade de doação de votos. Além disso, Bolsonaro, praticamente, bate no teto que lhe é imposto pela rejeição. 

    Já, Haddad precisa agregar 24% do eleitorado o que não é tarefa fácil considerando que é dificil levar os votos de Ciro e os votos que Marina está doando estão indo, também, para Bolsonaro.

    Entretanto, há outros dois aspectos a considerar. Primeiro, o fator “facada”, dado como um booster eleitoral para Bolsonaro (+6pp) pode não se manter. Segundo, as últimas pesquisas, antes do TSE tirar Lula do jogo, davam-lhe uma preferência equivalente a 51% dos votos válidos e, mais importante, conferiam-lhe um poder de transferencia da ordem de mais de 30% do total de eleitores, aqueles que afirmavam ‘voto em quem Lula indicar’. Logo, há um potencial de crescimento maior que os 11 pontos conquistados por Haddad entre as duas ultimas pesquisas do Ibope que, se confirmado, possibilita um vórtice de votos capaz de sugar, também, parte dos votos de Bosonaro, mesmo sem contar com a ajuda de Mourão.

    Logo, não é totalmente descartável a hipótese de um primeiro turno definitivo e uma vitória de Haddad.

    Fico na torcida.  

  5. Na Falha de São Paulo, o leitor Fernando Silva comentou:

    “É de um amadorismo e voluntarismo, as coisas são trocadas ao ocaso, não há nenhuma sensibilidade, não é à toa que não há nenhuma mulher, como trata -se de uma estrutura militarizada, cujas decisões são centralizadas no Bolsonaro, na sua ausência ocorre um planejamento a galega, isto é, é uma música de uma nota só. Imagina com 10 minutos no segundo turno o discurso é simplório e monótono. Na verdade é ilusionismo de quinta categoria que encanta gente de 2 neurônios”.

     

  6. Direita x esquerda
    Com a polarização, acho que nem Lula venceria no primeiro turno. Aliás, ele venceu duas vezes no segundo turno. Os grandes partidos prestaram um desserviço a democracia ao se fazerem surdos a vontade popular, que não aceita mais os privilégios de poucos. Os pequenos partidos representam os insubmissos, mas que não querem mudar por dentro. Nessa colcha de retalhos o país fica dividido, e talvez ingovernável.

  7. o distinto articulista está

    o distinto articulista está apostando que os demais candidatos sejam progressistas. aposta errada, distinto articulista. o distinto articulista esquece que esse clima polarizado chegou onde chegou graças à nossa Mídia. eu pessoalmente discordo da analogia comparando preferência política com preferência futebolística. política faz muita diferença nas nossas vidas, um gol ou a vitória de algum time não.

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