É preciso temer o militarismo Fake?, por Fábio de Oliveira Ribeiro

A democracia brasileira foi bastante deformada pelo neoliberalismo. Essa deformação resultou no golpe de 2016 com “o Supremo, com tudo”

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É preciso temer o militarismo Fake?

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Aqui mesmo no GGN escrevi sobre o Fake Militarism patrocinado por Jair Bolsonaro e seus minions nas Fraquezas Aposentadas e nas Forças Armadas https://jornalggn.com.br/destaque-secundario/fake-militarism-a-maior-e-mais-duradoura-obra-do-capitao-amalucado-por-fabio-de-oliveira-ribeiro/ . Volto ao assunto por causa da nova crise fake criada por causa do Indulto dado ao deputado terrorista que se desdobrou em crise fake entre as Forças Armadas e o TSE.

O jogo é bruto. Mas é um erro ficar com medo dos militares. Eles estão testando o terreno, tentando se impor mediante ameaças. Mas me parece evidente que eles estão apavorados. Se quisessem realmente dar um golpe de estado ou tivessem condições para fazer isso os tanques já estariam nas ruas há muito tempo.

A unidade na ação precária obtida durante o golpe de 2016 já foi rompida. As promessas de crescimento econômico não foram cumpridas e essa é uma conta que será colocada no colo tanto de Bolsonaro quanto dos militares que ele enfiou nos Ministérios. Isso para não mencionar as consequências políticas do genocídio pandêmico, que foi o resultado direto do comando do Ministério da Saúde por um general.

Nenhuma instituição está comprometida com a transformação do regime em ditadura. Mas Bolsonaro e os minions dele nas Fraquezas Aposentadas e nas Forças Armadas continuarão esperneando para tentar se impor pelo medo. Isso também faz parte de uma estratégia eleitoral, como uma tentativa de amedrontar a população: votem no mito ou então…

Pode a realidade brasileira (caracterizada pelo aumento da fome, empobrecimento, desemprego crescente e raiva decorrente do assassinato de centenas de milhares de cidadãos) ser reconfigurada mediante artimanhas retóricas, orçamentos secretos, trapaças eleitoreiras, ameaças militares? A resposta é não. A janela para um golpe de estado se abriu? A resposta também é não.

Todavia, em política, espaço em que as aparências nem sempre correspondem à essência, o perigo sempre existe. Como disse Hannah Arendt:

“É do conhecimento geral que essa situação de emergência latente ou aberta predomina hoje – e na verdade tem predominado já há algum tempo – em muitas partes do mundo; o que é novo é que este país [ela está se referindo aos EUA do final dos anos 1960 e início dos anos 1970] já não é uma exceção. É incerto se nossa forma de governo sobreviverá a este século, mas também é incerto que não sobreviverá.” (Crises da República, Hannah Arendt, Perspectiva, 3ª edição, São Paulo, 2013, p. 90)

O regime democrático norte-americano sobreviveu, mas foi muito desfigurado pelo neoliberalismo e pelo imperialismo. Essa degradação pode ser vista no aumento consistente da proporção que os orçamentos do Pentágono e o da CIA ocupam em relação ao Orçamento geral daquele país. A política externa dos EUA não comporta mais qualquer espaço para diplomacia.

Comandada por democratas ou republicanos, há décadas tudo que a Casa Branca faz é aumentar o orçamento militar e secreto para tentar impor sua vontade sabotando regimes estrangeiros, armando seus aliados, fazendo ameaças e, quando é possível, utilizando as Forças Armadas. Isso era obviamente feito no passado, mas não de forma tão intensiva, aberta, permanente e, podemos até dizer, inconsequente.

A democracia brasileira também foi bastante deformada pelo neoliberalismo. Essa deformação resultou no golpe de 2016 com “o Supremo, com tudo” que fragilizou muito nosso sistema constitucional. É justamente essa fragilidade que o Fake Militarism está utilizando para tentar se impor. Não é certo que Bolsonaro dará um golpe ou que ele será apoiado pelas Forças Armadas se fizer isso. Ao colocar sua sobrevivência política nas mãos dos generais ele corre o risco de levar uma facada nas costas dos próprios generais.

Quando fala, Bolsonaro quer sempre dar a impressão que comanda as Forças Armadas. Quando os militares dizem que estão ao lado dele ficamos com a nítida impressão que eles podem estar querendo criar uma situação em que ele possa ser simplesmente defenestrado com ajuda das instituições para que o general-vice possa assumir a presidência.

Traumatizados, alguns líderes de esquerda tentam fazer o STF recuar no caso do Indulto. Se isso ocorrer, seria muito pior. Um Tribunal que abre mão de sua competência não pode mais dizer que distribui Justiça de maneira imparcial com autonomia. O mesmo pode ser dito em relação ao TSE. Quem comanda as eleições é a Justiça Eleitoral e não um bando de marginais liderados pelo Capitão Momo.

Aos militares que querem supervisionar as eleições, a imprensa deve dizer apenas uma coisa: vocês querem cuidar das urnas eletrônicas, mas não conseguem nem mesmo tomar conta dos caminhões, barcos e aviões que os oficiais vagabundos usam para transportar cocaína e maconha por todo território nacional. Cuidem do que ocorre dentro dos quartéis, fora deles quem cuida do país são as instituições democráticas.

Nenhuma democracia sobrevive se os cidadãos se deixam amedrontar. Se quiserem dar um golpe, os militares terão que correr o risco de enfrentar toda a sociedade brasileira. Isso precisa ficar bem claro. Eles controlam as armas ou querem apenas nos lembrar que as têm, mas nós somos mais numerosos e politicamente muito mais fortes.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

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Fábio de Oliveira Ribeiro

1 Comentário

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  1. Há um erro essencial nessa análise: o autor esqueceu dos “Batalhões Azovs” criados por Bolsonaro nas PMs, nas Polícias Civis e Federais, e, principalmente, nos mais de 600 mil sujeitos direitistas armados e municiados à vontade por conta e obra de seu “líder”.
    Suponhamos que Lula vença a eleição. Para agudizar a suposição, digamos que vença no primeiro turno com pouco mais do que 50% dos votos válidos. Imediatamente Bolsonaro vai gritar “Fraude!”, e esta será a senha para seus seguidores irem para as ruas, armados, “defender” a democracia. Por óbvio, as PMs e demais polícias ou não se oporão a essas “manifestações” armadas, ou aderirão a elas, o que reputo muito mais provável. Então, mesmo que o STF use seu poder constitucional para convocar as Forças Armadas para defenderem a Lei e a Ordem, o que o autor imagina que acontecerá? Que milhares de oficiais subalternos e sargentos fascistinhas vão obedecer ao STF e por ordem na bagunça, ou que vão levar seus superiores, ainda que estes não queiram (o que duvido e faço pouco) a aderir às “manifestações”, a festejar com eles a imposição de sua vontade?
    Não é preciso que hajam condições “ideais” para Bolsonaro dar um golpe bem sucedido, nem tampouco que este parta das Forças Armadas. Aliás, a rigor, estas deveriam, por estratégia, intervir somente depois que Bolsonaro mobilize seus minions e lidere o golpe. Teriam a faca e o queijo na mão: estariam agindo em nome do STF, para “restabelecer” a Lei e a Ordem, teriam o argumento perfeito para afastar Bolsonaro e forçar o Supremo a nomear um general como “interventor”, e poderiam, no rastro do golpe, criminalizar a esquerda por qualquer eventual reação, prender Lula novamente e mergulhar o país numa nova ditadura. E com o apoio descarado dos EUA, que jurariam que as FFAA estão apenas restabelecendo a Lei e a Ordem…

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